Procurando os tons de cinza globais
PublishNews, Carlo Carrenho, 09/10/2014
Agência brasileira lançada na edição de 2013 da Feira de Frankfurt, é destaque na programação de 2014

Ninguém falou para elas que era impossível. Então elas foram lá e fizeram. Talvez esta seja a melhor forma de descrever o caminho tomado pela Agência Literária Bookcase. Fundada em julho de 2013, a agência brasileira foca em autores de romances autopublicados e que estreou na edição passada da Feira de Livros de Frankfurt. As sócias Meire Dias e Flavia Viotti chegaram à Alemanha em outubro de 2013 com menos de dez reuniões e loucas para dominar o maior evento editorial do mundo. De suas mesas no Rights Center, elas puderam ver o evento e contar suas primeiras impressões.

“Foi uma experiência fantástica e ficamos muito impressionadas pelo tamanho e a velocidade da Feira. Como o Brasil era o país convidado, também tivemos a oportunidade de conhecer vários editores brasileiros”, explicou Meire Dias, a sócia que mora em São Paulo. “Também tivemos a oportunidade de conhecer nossos vizinhos no Rights Center. Kelly Farber, por exemplo, ajudou muito e nos deu muitas dicas.Outra agente que elas conheceram foi Monica Antunes da Sant Jordi, representante global de Paulo Coelho. Quando ela entendeu a proposta da nova agência, a reação de Monica foi bastante positiva: “É uma visão inovadora e tenho certeza de que daqui a alguns anos vocês serão mostradas aqui em Frankfurt como um caso de sucesso”, falou a agente de Coelho para as colegas debutantes.

Mas o que é tão inovador na Agência Literária Bookcase? Basicamente, a proposta de levar autores autopublicados para o mercado editorial principal com uma perspectiva global. “Percebemos que autores autopublicados estão concentrados no idioma inglês, especialmente nos EUA e que eles não tinham visibilidade internacional”, conta a sócia Flavia Viotti, que mora em Brasília. Foi ela que teve a ideia de abrir a agência depois de acompanhar o sucesso de 50 tons de cinza desde seu começo em fanfiction.net. Tendo alguns escritores norte-americanos autopublicados como amigos, ela era uma leitora beta frequente e parte da comunidade de leitores que seguia E. L. James antes de seu tremendo sucesso. “A publicação de 50 tons de cinza pela Random House e o sucesso posterior foi um marco no mercado e percebemos que havia outros autores independentes com potencial. Foi assim que a agência nasceu”, explica Meire.

Os primeiros títulos vendidos pela agência foram a trilogia Welcome to paradise de S. L. Scott e seu outro livro Naturally, Charlie. A Editora Rocco foi quem adquiriu. Em 2014, a agência realmente se tornou globalizada, vendendo livros para outros mercados além do Brasil. Geoducks are for lovers, da autora norte-americana Daisy Prescott, foi vendida para a Yabanci, uma editora turca. As agentes também fecharam um acordo com a Egmont alemã por Loving Mr. Daniels, da escritora norte-americana Brittainy Cherry. Este título também foi vendido para a brasileira Record.

Os primeiros sucessos começaram a acontecer há poucos meses. Primeiro, a dupla de agentes negociou com a Rocco um adiantamento de cinco dígitos para a trilogia Fixed on you de Laurelin Paige. Em setembro, a Bookcase vendeu seu primeiro livro com um adiantamento de seis dígitos. O título era A pound of flesh da autora britânica de fan fiction Sophie Jackson e foi adquirido pela Arqueiro (Sextante). A Simon & Schuster vai publicar este livro nos EUA. "Quando Lorella Belli, a agente primária, começou a nos apreentar este título, já tínhamos lido online, então houve muita química entre nós desde o começo", conta Meire.

Para encontrar potenciais escritores independentes mais rápido do que a concorrência, Flavia e Meire baseiam-se não apenas nas listas de best-sellers, mas principalmente em blogs e eventos. “Blogs normalmente identificam um best-seller antes das listas. Nós seguimos três blogs em especial que funcionam como exploradores para a gente”, revela Flavia. Ela também é uma presença constante em eventos como Book Bash e RT Booklovers Convention, que focam mais em escritores independentes. “Estes eventos são importantes para verificar a popularidade dos escritores, já que eles são abertos ao público”, explica Flavia.

Há uma tendência central que as agentes da Bookcase identificaram no último ano. “Hoje em dia, as editoras de língua inglesa não querem mais republicar o primeiro título ou série bem-sucedida de algum autor autopublicado; elas querem publicar o próximo livro ou trilogia”, explica Meire. “Laurelin Paige já vendeu mais de 600 mil cópias da trilogia Fixed on you, então por que uma editora iria querer relançá-la?”, pergunta Flavia. Há, no entanto, um oceano azul para estes títulos navegarem até outros mercados e idiomas. “É por isso que o agente global é tão importante para os autores independentes, afinal eles nunca poderiam fechar acordos internacionais sozinhos”, conta Meire, revelando um pouco da mensagem que ela quer transmitir como participante do painel Tradução e direitos internacionais para escritores autopublicados, e evento marcado para acontecer no sábado (11), às 15h, no palco Publishers Perspectives (hall 8 B170) da Feira do Livro de Frankfurt. O painel é parte do Programa Escritor e Autopublicação Internacional.

Se há um ano, Flavia e Meire chegaram em Frankfurt com poucas reuniões e nenhum título vendido em seu portfólio, a história é bastante diferente agora. Elas venderam 28 títulos em 10 meses e agora têm uma agenda cheia na Feira. Hoje, elas conhecem vários colegas na indústria e fizeram parcerias com alguns deles, como Rebecca Friedman, para quem agora trabalham como co-agentes. E parece que a agente de Coelho, Monica Antunes, estava certa: a Agência Literária Bookcase é notícia em Frankfurt como um case de sucesso. Ela só não esperava que isso fosse acontecer assim tão rápido.

[09/10/2014 00:00:00]