Meia década de previsões
PublishNews, 18/12/2013
Meia década de previsões

Posts com previsões são comuns em blogs e jornais no final do ano. Não acho que devo fazer um desta vez, mas pensei que seria divertido rever alguns dos posts com previsões de anos anteriores. Então perdoem-me pelo post altamente auto-referencial, mas acho que rever as previsões e a realidade do passado fornece alguma perspectiva sobre as mudanças que experimentamos na última meia década.

Em dezembro de 2012, eu escrevi sobre “o que deveríamos ficar de olho” em 2013. Não acho que fui muito aventureiro, mas no geral acertei.

Falei que:

1. No geral, a migração de vendas de impresso a digital vai continuar a diminuir.

2. Livros “que não sejam imersivos” não vão conseguir fazer a transição para digital.

3. Fusões e consolidações entre editoras provavelmente se tornarão mais comuns depois de um longo período em que esta não foi a regra.

4. Plataformas para livros infantis vão se tornar portas de entrada.

5. Marketing para editoras será um constante exercício de aprendizado e reinvenção, e cada vez será mais difícil de separar do editorial.

Em dezembro de 2011, eu me afastei das previsões para ressaltar as questões importantes que a indústria teria que encarar em 2012. Apesar de não ter nenhuma “previsão”, antecipei alguns acontecimentos que importavam, incluindo os desafios que a Amazon Publishing iria enfrentar, a dificuldade da B&N em tentar criar uma estratégia internacional importante, a guinada que as livrarias independentes teriam com a falência da Borders e o enigma que seria a tentativa de migração para o digital dos livros ilustrados.

Naquele mesmo ano, eu me juntei à rodada anual de previsões de Jeremy Greenfield para o blog da DBW. Comentei sobre a reestruturação das grandes empresas que resultaria em novas posições. E isso foi antes que qualquer um tivesse a palavra “audiência” nos títulos de seus cargos. Agora todos incluíram essa palavra.

Mas eu errei feio em relação aos royalties de e-books, pois achei na época que ficaria no patamar dos 25% e, apesar de que isso ainda possa acontecer algum dia, não é o padrão.

Não escrevi nenhuma previsão em dezembro de 2010, mas fiz posts com alguns palpites. Uma coisa que acertei foi que as vendas de e-books continuariam a aumentar com rapidez (algumas pessoas na época esperavam uma queda, mas ainda estávamos no período de “mais que o dobro a cada ano” apesar de que, como notado acima nas previsões do ano passado, esta queda acabou acontecendo). Achei que as livrarias estavam entrando em tempos difíceis. Isso foi pouco antes da falência da Borders.

Eu afirmei no blog antes que todo livro comprado online é outro prego no caixão dos livros vendidos em livrarias físicas… Achava que as livrarias físicas iriam experimentar nos primeiros seis meses de 2011 o momento mais difícil que já tinham passado.

Acho que os próximos seis meses vão fazer com que nossa experiência no último ano pareça bastante gradual. Conheço pessoas inteligentes que pensaram que no último ano haveria uma diminuição na migração para e-books. Não acho que isso tenha acontecido.

Ao mesmo tempo, foquei em marketing com uma sugestão – com apps ou e-books para recomendação (vertical) para tópicos específicos – que eu ainda acho que tem muito a ser explorado. Talvez Mediander de Mike Fine possa nos levar nesta direção. (O que aconteceu foi a notificação dos preços de vendas de e-books, que, para mim, não é tão útil.)

Também vi a ênfase no catálogo como uma consequência lógica da ascensão do e-book. Acho que as editoras ainda estão atrasadas. E isso coloca problemas no final desta previsão, porque eu falei que todo mundo veria isso no final de 2011. Não foi assim. (E agora entendemos as restrições – de tempo, de momento e de orçamento – que dificulta o marketing do catálogo. As editoras agora estão tentando abordar o catálogo de uma forma escalável, baseada em dados e eficiência.)

Em dezembro de 2009, fiz 13 previsões para 2010. Uma se destaca: falei que e-books iriam contribuir com uma boa parte da renda de muitos títulos. Isso aconteceu. E também foi precisa minha dica de que “criar uma janela” para os e-books, por um tempo a estratégia empregada por editoras para proteger os impressos, seria eliminada pelas circunstâncias. Isso realmente não durou muito.

Em janeiro de 2009, escrevi um artigo para a PW analisando como minhas previsões de 2008 tinham se cumprido. Eu me dei um tapinha nas costas. Acho que mereci. Como falei na PW:

Falei que a popularidade dos e-books iria aumentar – que a onda ascendente do Kindle iria ajudar todos os barcos dos e-books a flutuarem. Isso parece ser correto, sem discussão.

Falei que a Apple iria fazer um e-reader a partir do iPod e do iPhone. Não fizeram, mas facilitaram que outros fizessem.

Falei que a B&N continuaria a alavancar sua grande rede de fornecedores para aumentar sua liderança em relação à Borders. E, num ano incrivelmente difícil para todas as livrarias, a B&N conseguiu superar de forma substancial seu maior concorrente.

Falei que a falta de infraestrutura competitiva fornecedor-rede iria prejudicar a Borders, que teria um novo dono. Estava meio correto. A falta de uma cadeia de fornecedores competitiva foi tão prejudicial que a Borders ainda não encontrou um novo dono!

Falei que as editoras iam apostar forte na divulgação de livros através da Internet porque os canais de resenhas tradicionais continuariam a diminuir. Bom, os canais de resenha tradicionais certamente diminuíram, e as editoras estão se voltando cada vez mais aos blogueiros, sites e campanhas por e-mail para promover seus títulos. A maioria das editoras agora tem uma equipe dedicada ao marketing via web.

Também falei que 2008 seria o ano de experimentação. De muitas maneiras, foi: a Random com e-books gratuitos; a Penguin reforçando suas edições de clássicos como e-books; a Harper criando uma marca com Bob Miller que possui um novo modelo de negócios para autores e uma opção sem devolução para clientes intermediários, assim como seus sites Authonomy e BookArmy. Experimentação diminuirá em 2009 por causa das dificuldades na economia, então eu acertei isso também.

No final de 2013, vamos ver um ano novo com um cenário editorial revisado, principalmente porque o que antes eram as “Seis Grandes” agora é (na minha visão) a “Grande” e as “Quatro Atrás”. O desafio para as editoras será manter suas margens, que estarão sob ataque de uma rede de livrarias dominante, uma única livraria online dominante e agentes literários que sabem que seus clientes escritores estão lendo os mesmos artigos que eles sobre como o lucro das editoras continuou alto durante as primeiras fases da transição digital. O desafio das livrarias será permanecer relevante agora que os leitores mais pães-duros não precisam mais visitá-las para conseguir o próximo livro. E o desafio para todo mundo é ter lucro e gerar algum equilíbrio na parte cada vez menor do negócio que não é controlada pela Amazon.

Neste ano, a quinta Digital Book World, vou começar a apresentação com um rápido resumo do que mudou desde que começamos a fazer a conferência Digital Book World em 2010. E o painel final que eu coordeno com Michael Cader vai focar novamente em “Olhando para Trás, Olhando para Frente”; o que aconteceu que foi importante no ano passado e o que esperamos no ano à frente. Ficamos felizes por ter John Ingram, Mary Ann Naples e Simon Lipskar nesta conversa.

Tradução: Marcelo Barbão

[17/12/2013 22:00:00]