As nove histórias reunidas em Ódio, amizade, namoro, amor, casamento (Biblioteca Azul, 360 pp., R$ 44,90 – Trad. Cássio de Arantes Leite), da ganhadora do prêmio Nobel de literatura Alice Munro, funcionam como retratos. O primeiro, que dá nome à obra, relata a história de Johanna Parry, uma mulher simples e sem ambição que, por um engano, se coloca diante de um futuro com que nunca sonhou; em Ponte flutuante, Jinny recupera-se de grave enfermidade enquanto se deixa seduzir por um adolescente, em momento de inigualável poesia. Retratos de um momento da vida das personagens – e esse momento pode ser uma despedida ou um reencontro; retratos de um traço particular dessas pessoas, apreendido no instante exato de uma má escolha ou uma boa intenção; retrato de uma porção da memória que, por vezes, é buscada com um grande esforço e, em outros, se esvai na cabeça fraca da idosa ou nas lembranças levianas da menina que não reteve mais que um sentimento de excitação de todo um verão.