No livro Cartas à Ophelia (Biblioteca Azul, 160 pp., R$ 34,90), endereçadas por Fernando Pessoa à sua amada Ophélia, é impossível não reconhecer os ecos de outra célebre epistolografia literária, aquela trocada por Franz Kafka e sua noiva, Felice Bauer; ambos, Kafka e Pessoa, foram burocratas medíocres, que consumiram a vida no processo de encontrar o sumo da existência, transmutada na obra, ambos vivendo paixões fadadas ao fracasso, repletas de extremado apego e de obsessões neuróticas. Como aponta o romancista italiano Antonio Tabucchi, estudioso dos labirintos de Pessoa, na introdução ao volume, devemos enfrentar as desventuras epistolares do poeta português com olho armado, e uma saudável dose de perspicaz ceticismo.