De Cuba, sem carinho
PublishNews, Iona Teixeira Stevens, 22/02/2013
Yoani Sánchez conversou com blogueiros na Livraria Cultura ontem

A blogueira cubana Yoani Sánchez participou ontem de um encontro para conversar com blogueiros e promover o seu livro De Cuba, com carinho (Contexto), na Livraria Cultura em São Paulo. Antes dos protestos interromperem o evento, consegui conversar com Yoani sobre livros e mercado editorial.

Enquanto Yoani visita o Brasil, acontece em Cuba a Feira Internacional de Livros de Havana. A feira itinerante dura semanas, é conhecida por receber grandes nomes e passa por várias cidades do país. Mas a feira não está livre das censuras tão ressentidas pela blogueira. As limitações a distribuidoras internacionais acabam afetando as possibilidades comerciais do evento, o fechamento de contratos e o acesso a títulos estrangeiros. Yoani lembrou que os livros do prêmio Nobel Mario Vargas Llosa, por exemplo, são proibidos em Cuba. Mas, segundo ela, “ainda assim a feira é um momento celebrado, um bocal de oxigênio. É uma oportunidade para termos acesso, ainda que limitado, a uma literatura mais contemporânea e internacional”.

Perguntei à Yoani sobre os problemas do mercado editorial cubano, em particular sobre a questão dos direitos autorais, que não são efetivos em sua terra. Assim como no Brasil, problemas de distribuição e estrutura parecem afetar o desenvolvimento do mercado. Lá, não apenas problemas na estrutura física, como escassez de papel e dificuldade de impressão em quatro cores, mas também – sim, mais uma vez – de censura. “O tempo entre escrever alguma coisa e vê-lo publicado é muito grande, por causa do processo burocrático que o livro passa pela censura”, afirma a cubana. Mas Yoani não vê uma necessidade cabal de se exigir direito autoral, afinal, segundo ela, não há hoje em Cuba como algum escritor melhorar a qualidade de vida apenas pelo fato de escrever livros. Ela se preocupa portanto mais com a circulação e distribuição dos livros do que com a renda que eles podem trazer. “Todo o sistema deve melhorar, deve se publicar mais livros, mas também cuidar da distribuição, aumentar o acesso à leitura”, conta Yoani. Se as afirmações parecem um pouco ingênuas, não falta entusiasmo pela produção editorial cubana: “Tem muito talento em Cuba e isso deveria ser fomentado”, conclui.

A trajetória como escritora de Yoani Sánchez fez o caminho do digital para o papel, e a filóloga comemora o livro como objeto físico: “É o fechamento de um ciclo. Mesmo com iPads e Kindles hoje em dia, todo estudioso e amante da letra adora o livro impresso”. Yoani começou a explicar como suas obras e textos foram traduzidos em inúmeras línguas, mas não conseguiu, por causa da gritaria, e infelizmente o evento acabou pouco tempo depois. Além disso, o encontro de hoje na Saraiva foi cancelado por motivos de segurança. Aparentemente Yoani é uma agente da CIA financiada por capitalistas e é imperativo que não nos fale o que tinha pra contar.

[22/02/2013 00:00:00]