Pode ser complicado interpretar estatísticas em nossa indústria
PublishNews, 16/01/2013
Estatísticas complicadas de nossa indústria

Não é fácil interpretar estatísticas em nossa indústria. Os dados informados são divulgados, claro, depois do fato (não dá para informar coisas antes de que elas tenham acontecido) e são geralmente agregados de formas que não nos contam o que realmente precisamos saber. Então tentei um exercício na semana passada e perguntei a alguns agentes quais eram suas impressões sobre o mercado de e-books. Queria saber sobre duas coisas: onde estamos agora em termos de livros vendidos em lojas versus livros vendidos de outras formas e se a transição de impresso para digital está diminuindo de velocidade.

O retorno que recebi de nove agentes inteligentes e bem informados parece confirmar o seguinte:

- As vendas de e-books de ficção com frequência representam até 50% das vendas totais, tanto dos livros de capa dura como dos de brochura;

- As vendas de e-books de não-ficção imersiva são algo como metade da porcentagem de ficção;

- Os livros ilustrados possuem uma venda digital muito menor, normalmente lutando para chegar a 10%;

- Apesar de que os dados do mercado parecem não deixar dúvidas, os agentes não formaram um consenso se a mudança de impresso para e-books está diminuindo de velocidade.

Talvez podemos atribuir isso ao fato de que a apresentação de dados que mais impressiona os agentes é fornecida pelos relatórios de royalties. Os dados do ano passado, e especialmente da última temporada, ainda não estão entregues aos agentes nos formatos que ele estudam com mais intensidade. Ainda assim, foi útil contatá-los, mesmo que tenha sido apenas para confirmar que a penetração da ficção em e-books é o dobro da não-ficção e que os livros ilustrados estão muito atrás.

Se 50% da ficção está sendo vendida como e-books agora, é provável que somente 35% esteja sendo vendida em lojas (porque 25-30% das vendas de impressos é feita online). Considerando que o número era de 90% há dez anos e 80% há cinco anos, esta é toda a explicação que qualquer um precisa para entender a redução de espaço em prateleira que já vimos. Todo ano, quando as lojas são entrevistadas sobre tráfego e vendas, elas citam a presença (ou ausência) de “grandes livros” como principal problema. Os “grandes livros” são geralmente de não-ficção. Este ano, a série Cinquenta Tons pode ter dado este impulso, e pode ser por isso que as lojas (menos a Barnes & Noble) estão informando um forte Natal.

Mas no que a indústria deveria estar mais interessada – e isso vai se refletir na próxima rodada de relatórios de royalties dos agentes – é que o crescimento das vendas de e-books parece ter quase parado. Como Michael Cader apontou no Publishers Lunch, a Random House UK indicou um aumento de 13% este ano em relação ao anterior, o que reflete o aumento informado de 13% da Barnes & Noble em vendas de e-books em dezembro.

Treze por cento é um bom aumento em um mercado estável.

Mas se você considera a forte atividade no campo dos aparelhos – o novo iPad mini, aparelhos Kobo sendo vendidos por lojas independentes e a B&N aos poucos transformando suas lojas em showrooms do NOOK (sem mencionar a sempre crescente base de títulos de e-books, mais o crescimento do catálogo e de livros antes esgotados, as pequenas editoras e os livros autopublicados) – o crescimento nas vendas de e-books parece não ter existido. Então, talvez tenhamos realmente alcançado o ponto de resistência dos leitores de impressos e uma estabilidade na divisão das vendas por canais.

As consequências de que só 1/3 da ficção esteja sendo comprada em lojas – e não só em livrarias – ainda precisam ser entendidas. Se for verdade que as independentes se deram melhor que a B&N no último Natal, será que parte do motivo (como especulei em um post anterior) não seria o sucesso da B&N em vender NOOKs a seus clientes? Será que o cliente da loja independente teria menos probabilidade de comprar um Kindle ou NOOK, causando, portanto, desproporções no mercado de livros impressos?

É bem possível que os resultados frustrantes da B&N sejam mais uma indicação precisa do mundo em que estamos vivendo do que de crescimento das independentes.

Ainda no tema de dados ambíguos, note que o grande crescimento informado nas vendas das independentes em 2012 parece ter acontecido na primeira parte do ano, portanto as vendas de Natal podem não ter sido muito melhores do que as da B&N como uma primeira impressão nos levar a acreditar. (Mais uma vez, sou grato a Cader por fazer uma breve análise dos dados brutos e nos mostrar esta possibilidade.)

E ao mesmo tempo que estamos vendo um aumento nas vendas de e-book de uns 13%, a PW informa que os números da BookScan nos EUA mostram que as vendas de livros impressos diminuíram uns 9%. O que é interessante nisso, entretanto, é que relatórios mais profundos da PW sobre a BookScan afirmam que a não-ficção declinou 13% enquanto que a ficção só caiu 11% em vendas unitárias. Como achamos que a penetração de e-books na área de ficção é muito maior do que na de não-ficção, talvez o declínio informado em unidades de não-ficção esteja refletindo vendas menores de livros ilustrados, não porque eles estejam sendo canibalizados pelos ebooks, mas por causa do declínio de público nas livrarias, como informou a B&N. E isso é exatamente o que me preocuparia se eu fosse um editor de livros ilustrados. O negócio deles não está passando para digital tão rápido quanto os romances, mas é possível que suas vendas sejam mais interdependentes dos romances e do poder destes de trazer tráfego para as livrarias que vendem livros ilustrados do que eles poderiam imaginar.

Os dados informados pela PW também dizem que os livros em formato mass market sofreram, de longe, o maior declínio entre os formatos de livros. As vendas de e-books independentes (autopublicados) não foram, aparentemente, informadas. Será que os e-books mais baratos, que são independentes em sua maioria, estariam canibalizando as vendas de livros impressos mais baratos. Seria lógico, não?

[15/01/2013 22:00:00]