A nova casa aleatória do pinguim
PublishNews, Iona Teixeira Stevens, 30/10/2012
Penguin Random House promete mudar cenário editorial internacional

A fusão entre Penguin e Random House tem dado o que falar nos últimos dois dias. E não é à toa: em carta aos funcionários, o CEO da Penguin, John Makinson, afirmou que o objetivo da fusão era “criar a principal – enfaticamente, a melhor – editora do mundo”. Muito ambicioso? Talvez não, se considerarmos que ambos os grupos carregam reputações consagradas e que a joint-venture das duas empresas irá resultar em uma casa editorial internacional com uma receita de US$ 4 bilhões por ano.

Mas o que essa fusão significa para o Brasil? Para a maioria dos editores, ainda é cedo para saber. Tudo indica que as operações no Brasil não mudarão no curto prazo. Makinson ressaltou em sua carta que “alguns autores, agentes e consumidores ficarão preocupados com a redução da escolha e competição. Eu acredito, e Markus [CEO da Random House] também, que o oposto irá acontecer”. De fato, a agente literária Lucia Riff, que representa a Random House no Brasil, não mostra preocupação, ela crê que a fusão, a princípio, “não vai mudar nada”.

Está claro, porém, que o Brasil está nos planos da nova casa. Thomas Rabe, CEO do grupo alemão Bertelsmann, dono da Random House, destacou em nota que a parceria irá aumentar sua “presença nos mercados-alvo em crescimento, como o Brasil, Índia e China”. Já o CEO da Penguin, que ficará como chairman na nova joint-venture, ressaltou os planos para os países de língua portuguesa: “A nova empresa vai comportar todos os interesses do grupo Penguin e da Random House nas línguas inglesa, espanhola e portuguesa”. No mês passado, Makinson afirmou em entrevista que o Brasil é um mercado importante para a Penguin. Falando sobre a parceria com a Companhia das Letras, ele disse que a Penguin não tem “uma estratégia para a América latina, e não teremos uma por um tempo. Também não se trata de publicar livros em Portugal, vemos o Brasil como um mercado importante por si só”.

A grande pergunta é como ficará o futuro da parceria com a Companhia das Letras, já que a Penguin possui 45% da editora. Mas, por enquanto, ainda não há novidades. Luis Schwarcz, editor da Companhia das Letras, não vê mudanças no curto prazo “As empresas continuarão com sua autonomia e independência. A parte da Penguin que cuida do Brasil não vai mudar. As pessoas com quem lidamos no board continuarão lá”. O editor contou que recebeu uma carta informando que não haverá mudanças no curto prazo, e que a fusão poderá trazer benefícios no futuro. “É prematuro falar o que vai mudar, não se anuncia uma fusão com todos os detalhes prontos, eles ainda vão analisar como ficarão as parcerias”.

Outros editores são mais céticos em relação à fusão. Fernando Baracchini, diretor da Novo Conceito, acredita que a fusão não será aprovada. “Vira um monopólio enorme, sobra apenas Hachette, HarperCollins, Simon & Schuster e Macmillan” explica Baracchini, se referindo ao grupo conhecido como o Big Six, ou as ‘Seis Grandes’ (que viraria agora as ‘Quatro Grandes e o Grande Siamês’). “Eles ganham, obviamente, mas somando as duas, não vira uma, vira um pouco menos de uma”.

Para Pedro Almeida, diretor editorial da Lafonte, a fusão das duas casas confirma a tendência de consolidação no mercado editorial internacional: “É comum ter empresas se fundindo, o mercado está se concentrando. É claro que uma fusão de duas das maiores editoras assusta um pouco, mas o que a gente percebe, nessas grandes empresas, é que elas continuam agindo de forma independente, com os selos até competindo entre si”.

Realmente, em um cenário marcado por empresas gigantes, como Amazon e Apple, e processos judiciários bilionários, como o da precificação de e-books nos Estados Unidos, uma união dessas pode ser crucial. O próprio John Makinson contou ao site Publishers Weekly que a joint-venture pode mudar a forma como a Penguin dará continuidade ao processo no Departamento de Justiça americano sobre a precificação de e-books – lembrando que a Penguin, junto com a Apple e Macmillan, recusou o acordo oferecido e irá a julgamento em junho do ano que vem. “Ele [Makinson] admitiu que, após conversar com o Departamento de Justiça sobre a nova fusão, e outras conversas com a Random, sua abordagem poderá mudar”, informa o site.

Um outro fator pode estar por trás do novo negócio. Segundo a The Economist, revista que o grupo Pearson é dono de 50%, a fusão seria uma confirmação dos rumores de que a Pearson estaria tentando “se livrar” dos grupos Penguin e Financial Times, para focar no seu negócio de educação. Segundo a Economist, “no acordo, se a Penguin quiser vender sua parte na joint-venture nos próximos três anos e a Bertelsmann [grupo alemão dono da Random House] não aceitar, eles deverão pagar dividendos à Penguin. (Claramente, a Pearson está pensando em acabar a relação desde antes da negociação)”. Não é o que demonstra Marjorie Scardino, CEO da Pearson, que afirmou em nota que a “Penguin é uma parte bem-sucedida, altamente respeitada e muito amada da Pearson. Essa combinação com a Random House [...] irá aumentar muito sua renda e oportunidades”. Mas uma coisa é certa, se a Pearson decidir vender sua parte na joint-venture, Rupert Murdoch e seu grupo News Corp estará por perto, tentando comprá-la. Antes do acordo com a Bertelsmann, a News Corp estava estudando a possibilidade de comprar a Penguin. E Murdoch é conhecido por esperar o momento certo para comprar grupos editoriais, como foi o caso do tradicional grupo Dow Jones, donos do Wall Street Journal, comprado pela News Corp em 2007.

Uma coisa todos estão de acordo: a fusão irá mudar o cenário de mercado editorial internacional nos próximos anos. E que pena que a futura líder editorial não se chamará Random Penguin House, ou a “Casa do Pinguim Aleatório”.

[30/10/2012 01:00:00]