Suassuna com tacacá
PublishNews, Carlo Carrenho, 26/09/2012
Em aula-espetáculo em Belém, Suassuna chama Lady Gaga de imbecil e critica Rolling Stones

As aulas-espetáculo de Ariano Suassuna podem ser parecidas e repetitivas, mas é inegável que sejam divertidíssimas mesmo para quem as assiste pela décima vez. E no dia 24/9, quando o autor de Auto da Compadecida subiu ao palco na XVI Feira Pan-Amazônica do livro em Belém, não foi diferente. Agradeceu os aplausos, ouviu uma voz feminina gritar “Maravilhoso!”, sentou-se, pediu desculpas pela voz e a partir daí foram 1h20 de críticas, recitação de versos, piadas e muitas risadas. Começou agradecendo a presença de todos e dizendo que, estivesse ele no lugar do público, não viria. "Eu venho porque sou eu; não tenho mais idade para ver um velho de 85 anos falar nessa hora da noite." Em seguida, lembrou a sua já conhecida aversão a viagens. "Não gosto de viajar. Gosto de ler. Nunca fui a Portugal, mas conheço bem este país e já ensinei coisas sobre o Alentejo para alentejanos”, brincou. Aliás, brincar e fazer rir é o que mais Suassuna gosta de fazer. “Sou um palhaço frustrado. Minha mãe não permitiu que eu fugisse com o circo e acho que escrevo para compensar esta frustração”, explicou.

Mas o alvo da noite era sem dúvida a cultura de massa, particularmente a estrangeira. “Uma mulher que se senta para escolher um nome artístico e escolhe Lady Gaga é uma imbecil”, alfinetou. E então explicou que sucesso e êxito são coisas diferentes e que o verdadeiro escritor deve buscar o último e não o primeiro. “Lady Gaga pode fazer mais sucesso que Euclides da Cunha, mas em 100 anos ninguém se lembrará dela e ainda se lerá Os Sertões”, profetizou o escritor paraibano. Ele também não deixou os Rolling Stones por menos. “Um roqueiro jovem ainda passa, mas um bando de velhos da minha idade é demais!”, reclamou.

Ao final, Ariano garantiu e provou ao público que possuía uma “memória de cachorro vingativo” ao declamar um longo poema. Mas antes disso, lembrou uma história interessante que aconteceu com ele e com Matinas Suzuki Jr., editor da Companhia das Letras. Estavam ambos participando do 5º Congresso Internacional de Jornalismo da Língua Portuguesa em Recife, no ano 2000, e discutiam o uso do computador. Segundo Suassuna, ele próprio estava ali na posição de inimigo do computador. Em um dado momento, Matinas tirou uma folha impressa e leu um soneto de Manuel Bandeira em que homenageia Camões. Suassuna então não se fez de rogado e disse: “Vou provar para vocês que não preciso de computador e vou repetir o soneto sem ler, e olhe que não conheço o Matinas e nem sabia o que ele ia ler.” Dito e feito, e Suassuna provou ali sua “memória de cachorro vingativo”. Mas para o público belenense, esta semana, confessou que coincidentemente já sabia o soneto de cor.

[26/09/2012 00:00:00]