Hangar pode não ser o nome mais óbvio para um centro de convenções, mas é lá, no Hangar, próximo a uma pista de pouso em plena Belém do Pará, que se realiza uma das melhores feiras de livro regionais do Brasil. A XVI Feira Pan-Amazônica do Livro abriu suas portas no último dia 21/9 e vai até 30/9, e durante este período será visitada repetidamente pela população de Belém. É isto mesmo, o evento amazônico tem entrada franca e isto permite que as pessoas visitem a feira diversas vezes. “Meus alunos vêm direto aqui”, explica o professor universitário Walter Silva Jr., docente da Universidade Federal do Pará. “Mas quando pergunto se já compraram muitos livros, dizem que não, que estão esperando os descontos do último fim de semana, quando pretendem voltar”, complementa.
Bernardo Gurbanov, da livraria paulistana Letra Viva, especializada em livros em espanhol,é um dos expositores mais animados da feira. “A região é carente de oferta de livros, e o público se prepara, economiza e espera pela feira”, comenta o livreiro. “É incrível a ansiedade e voracidade do público, e como não se cobra ingresso, as pessoas voltam”, continua.
Além da entrada gratuita, o apoio governamental também é fundamental para o sucesso
de vendas e de público do evento. O programa Cred Livro, do Estado do Pará, disponibilizou R$ 4,4 milhões para que professores da rede pública possam adquirir livros e materiais pedagógicos. Este ano, o bônus no valor de R$ 200,00 foi concedido a cerca de 22 mil servidores dos 143 municípios paraenses. Além disso, outros 1,6 mil servidores da Universidade Federal do Pará também receberam benefícios semelhantes. Não só o valor total, mas também a logística e a tecnologia empregadas pelo programa merecem destaque, pois o bônus é depositado diretamente na conta bancária do servidor no Banpará e só pode ser utilizado nos estandes da feira. Os professores então usam seus próprios cartões de débito e o valor é descontado diretamente do benefício. “Para o livreiro, só existem os custos bancários normais; trata-se de um sistema perfeito e fantástico”, comemora Gurbanov. “É uma feira que não deve nada para ninguém, é um exemplo de sucesso de uma feira regional”, se entusiasma o livreiro.
Entre os expositores da Feira Pan-Amazônica, como é comum nos eventos regionais, há poucas editoras e vários distribuidores e livreiros. Mas algumas editoras, como a belo-horizontina Autêntica, casa da teen-star Paula Pimenta, já começam a dar o ar da graça na terra do pato no tucupi. “Desta vez, decidimos ir com estande próprio, depois de percebermos o potencial do evento em participações com distribuidores”, explica Judith de Almeida, gerente comercial da Autêntica. “A decisão estratégica foi acertada, os resultados foram bons e, sem dúvida, é uma feira para ficar no calendário da editora”, promete. Judith ainda lembrou que as vendas na Feira Pan-Amazônica possuem uma composição diferente. “Nas bienais do Rio e de São Paulo, vendemos praticamente só livros infantis e para adolescentes, mas em Belém estamos vendendo nosso catálogo de formação, graças ao vale que os professores recebem.”
Outro estande que estreia em Belém é o da Liga Brasileira de Editoras, a Libre. Curiosamente, a entidade não está mais participando das bienais do Rio e de São Paulo, mas aceitou ter um estande na Feira Pan-Amazônica - em um “espaço gigantesco”, como caracterizou o jornal local O Liberal. “Estamos supercontentes e achamos a feira fantástica”, disse Haroldo Ceravolo, presidente da entidade. “Tivemos uma forte adesão das editoras associadas e pretendemos voltar no ano que vem, quando também queremos fazer parte da programação cultural”, continuou.
Organizada pela RPS Eventos, a Feira Pan-Amazônica do Livro é de fato um evento de sucesso. Além do Cred Livro integrado com a rede bancária e a entrada gratuita, o estacionamento custa apenas R$ 5 e há internet Wi-Fi gratuita no pavilhão. São pequenas ideias que fazem a diferença e que deveriam servir de exemplos para outros eventos do livro no Brasil afora.
Outro aspecto que não pode ser esquecido é a valorização da cultura local promovida pela feira. Afinal, não é à toa que escritores e a produção editorial paraenses têm lugares de destaque na programação cultural. “De repente, você descobre um mundo do qual as pessoas têm orgulho e acho isto fantástico.”, explica Bernanrdo Gurbanov ao comentar a auto-estima do belenense. “E a Feira Pan-Amazônica, com sua programação, acaba sendo muito importante justamente para fortalecer essa identidade regional.”
Na foto: Bernardo Gurbanov, em seu estande da Letra Viva na Feira Pan-Amazônica