Talvez a revolução tenha chegado a um estágio evolucionário
PublishNews, 04/09/2012
O estágio evolucionário da revolução digital

O ritmo estonteante com que os consumidores norte-americanos estavam passando de impresso a digital não poderia durar para sempre. Baseado nos números publicados pela AAP, com uma grande ajuda na interpretação feita por Michael Cader da Publishers Lunch, parece que a desaceleração ficou bastante evidente nos últimos 12 meses.

Entre o final de 2007, quando saiu o Kindle, e o final de 2011, as vendas de e-book no mínimo duplicaram a cada ano. Desde setembro de 2011, quando Cader registrou que as vendas foram o dobro do ano anterior, os números mensais estão mostrando um crescimento anual muito menor (e em declínio). Os números de abril mostraram um aumento de somente 37% em relação ao ano anterior.

Já faz um bom tempo que estive pensando sobre a diminuição do crescimento dos e-books. Em março de 2010, há 17 meses, escrevi que meu palpite era que a mudança para o digital “vai começar a diminuir quando as vendas de e-books representarem 20-25% do que uma editora espera ganhar com um novo título”. E achava que isso iria ocorrer antes da eleição presidencial de 2012. Parece razoavelmente consistente com o que está acontecendo.

Cader também cita relatórios da Penguin e da Simon & Schuster para documentar a queda. A Penguin afirma que o crescimento nas vendas de e-books foi de cerca de 33% na primeira metade de 2012. E o site Publishers Lunch informa que Carolyn Reidy, CEO da Simon & Schuster, contou que ela espera um crescimento de 30% na venda de e-books durante 2012. Isso certamente constituiria o canal de vendas com maior crescimento, mas certamente não é o dobro ou triplo (ou mais) que vimos nos últimos anos.

Algumas semanas antes, Cader dissecou os relatórios da BookStats com os números de vendas editoriais. Como os leitores deste blog sabem, acho que a métrica importante para olharmos é “vendas de lojas versus vendas online”, em vez de “impressos versus eletrônicos”. Vendas em lojas são todos impressos, mas vendas online não são somente eletrônicos. Eu acho que a distinção de canal é mais importante do que a distinção de formato, porque a escala é muito mais útil para lidar com livrarias do que lidar com qualquer conta online, por dois motivos: inventário e logística.

A BookStats informa que as vendas diretas do editor para livrarias online – isso inclui tanto impresso quanto digital, mas não inclui vendas que aconteceram através de distribuidores – estiveram ao redor de 35% do total de vendas para lojas e livrarias online juntas. Dizem que online cresceu 35% no ano passado e as lojas de tijolo caíram uns 12,6%. Minha matemática grosseira diz que o total combinado dos dois foi bastante próxima ao equivalente a uma queda de 1%. Como as vendas de e-books estão subindo e os e-books são geralmente mais baratos do que os impressos, parece que não houve mudança.

A outra coisa na qual devemos prestar atenção é a diferença na venda de e-books por tipo de livro. Baseado em evidências, acredito que as vendas de ficção de gênero e comercial podem estar se aproximando dos 50%. (A BookStats informa que as vendas de toda ficção está atualmente dividida em 64% impressa e 34% digital.) A não-ficção narrativa está mais ou menos na metade disso. Livros ilustrados de todo tipo são uma pequena parte.

Há muitas coisas que não sabemos.

Não sabemos quanto do declínio de crescimento de vendas no último ano acontece por causa do sucesso das editoras em subir os preços dos ebooks. Se esta for a causa, até certo ponto, poderíamos ver o padrão mudar de novo quando (como eu espero) o acordo do Departamento de Justiça for aprovado e terminarem a política de preço da Amazon.

Não sabemos quanto do declínio no crescimento das vendas no ano passado se deve à troca do consumidor de e-readers dedicados para aparelhos multifunção, que oferecem outras mídias e jogos – além de e-mail – para competir com livros. Se esta for a causa, a tendência de queda poderia se estender porque é provável que muitas pessoas vão passar de leitores e-ink a aparelhos multifunção, pois estes estão ficando cada vez mais baratos.

Não sabemos até que ponto o tráfego de lojas é afetado pela contínua mudança de best-sellers, especialmente em ficção, para o consumo digital. No curto prazo, há provavelmente um impacto positivo no espaço mostrado e nas oportunidades de vendas para livros ilustrados e livros infantis. Mas, no longo prazo, quantas lojas poderão sobreviver se os best-sellers não forem vendidos ali?

Não sabemos se os grandes comércios continuarão a ver livros como algo valioso para seu espaço. Eles vendem muita ficção de gênero, que é uma das áreas mais desafiadas por e-books publicados de forma independente (e nem todos são autopublicados). As grandes lojas podem mudar rapidamente o espaço de prateleira, sem nenhuma sentimentalidade.

Mas, no geral, a queda que vimos é uma boa notícia para o estabelecimento do legado editorial, e será melhor se a tendência continuar. Qualquer coisa que diminuir o declínio na porcentagem do mercado das livrarias de tijolo e o avanço da Amazon, dá tempo para as grandes editoras e os varejistas concorrentes ajustarem suas infraestruturas e construírem novos modelos de negócios que serão mais eficientes no futuro.

Infelizmente para eles, o desenlace desta rodada do Departamento de Justiça está a ponto de mudar tudo isso.

Se entender novos modelos de negócio e as novas formas através das quais as editoras fazem seus negócios é importante para você, deveria estar no seu calendário. Vamos apresentar vários Publishing Innovators do mundo: executivos que estão inventando estes novos modelos de negócios que vão permitir que as editoras cresçam em nosso ambiente digital.


Esta conferência vale um post só para ela, e isso vai acontecer logo. Mas o final deste post parece um bom lugar para mostrar que vamos apresentar alguns dos mais incríveis executivos da indústria editorial (e não só do mundo de fala inglesa) que estão fazendo coisas que mais ninguém está. Ainda.

E mudamos o horário do nosso evento das 9 às 17 para 10:30 às 18:30 para permitir que as pessoas cheguem a Frankfurt naquela segunda de manhã e não percam nenhum pedaço de um dos melhores eventos que já fizemos.

Tradução: Marcelo Barbão

[03/09/2012 21:00:00]