Reino Unido incrível
PublishNews, 13/06/2012
Reino Unido incrível

O anúncio de que a Waterstones, cadeia de livrarias no Reino Unido equivalente à Barnes & Noble nos EUA, começará a vender Kindle em suas lojas foi um choque para muita gente. Inclusive porque havia rumores de que a B&N estava fechando um acordo para fazer uma parceria com a Waterstones em relação ao Nook.

A dificuldade em fazer acordos em relação a aparelhos de leitura e ao “ecossistema” de conteúdo é que a venda de conteúdo subsidia a venda de aparelhos. É tudo parte de uma equação total ao redor da "vida útil" do cliente. O fornecedor do aparelho realmente necessita das vendas de e-books para fazer com que a venda do aparelho seja lucrativa.

Assim, quando a Kobo fez um acordo com a WH Smith e não com a Waterstones no Reino Unido (e a FNAC na França) no ano passado, fez sentido para mim porque, naquele momento, a Waterstones estava dizendo que iria produzir o seu próprio aparelho.

Mas sempre achei que isso era muito para a Waterstones, pois sei o quanto a B&N teve de investir em desenvolvimento para fazer o Nook funcionar com uma base de lojas e orçamento várias vezes maior do que o da Waterstones. Para mim não foi surpresa quando a Waterstones começou a adiar a data de lançamento do seu e-reader, e nem quando os rumores mudaram e se dizia que estavam fazendo um acordo com outra empresa. Como a Kobo já estava trabalhando com seu maior competidor, a lógica dizia que seria com o Nook o acordo da Waterstones.

Não conheço ninguém que previu que seria com o Kindle.

Michael Cader - Publishers Lunch - e eu entendemos pelo press release da cadeia de lojas britânica, que os únicos e-books que a Waterstones vai ter participação na renda são os que forem comprados através da rede wifi dentro das suas lojas - essa rede ainda não existe; está sendo construída agora e é por isso que ainda vai demorar uns meses para vender Kindles.

Cader cita Tim Hely Hutchinson, da Hachette, que afirmou "apoiar totalmente" o acordo. Como seus dois maiores clientes acabaram de juntar forças, posso imaginar que seus pensamentos velados estão um pouco mais preocupados do que seus pronunciamentos em público demonstram. Mas eu também não brigaria em público com minhas maiores fontes de renda.

Como a Waterstones vai se beneficiar deste acordo? Bom, vão ganhar alguma margem com os Kindles que venderem. Não vão ganhar muito vendendo e-books, se só receberem pelos que forem comprados dentro de suas lojas. Já vi alguma especulação, numa lista de e-mails de discussão, de que vão usar a conexão da Amazon para ganhar uma fatia maior do investimenro das editoras em promoção e marketing, mas como já as editoras dão descontos consideráveis, não tenho certeza de quanto sangue pode ser tirado dessa pedra.

De qualquer forma, seria ruim criticar um acordo quando não se tem muita ideia dos detalhes. E pode ser que a Amazon poderia tenha feito uma oferta à Waterstones que teria sido uma loucura para a Barnes & Noble tentar equiparar ou para a Waterstones recusar.

Mas é difícil fugir da conclusão de que esse acordo vai acelerar a adoção dos e-books pelos leitores britânicos e, ao mesmo tempo, fortalecer o que já é a maior plataforma de vendas de e-books. O domínio do mercado de livros impressos online e a fatia de mercado dos e-books da Amazon só vai aumentar (hoje dizem que eles dominam 90%, mas não sei se isso está certo).

As afirmações da Waterstones de que seu negócio de vendas de livros on-line vai crescer e de que terão uma loja de e-books própria pode até ser sincera, mas é quase impossível de ser levada a sério.


Tradução: Marcelo Barbão

[12/06/2012 21:00:00]