Qual é o maior medo das editoras? Amazon ou pirataria?
PublishNews, 10/04/2012
Qual é o maior medo das editoras?

A Pottermore mudou o jogo na manhã do dia 27 de março. Parabéns a Charlie Redmayne, o principal executivo da empresa.

O momento “ahá” para mim foi quando alguém numa lista de discussão mencionou que havia comprado edições para o Kindle dos sete livros de Harry Potter que, conforme anunciado, estavam disponíveis somente no site da Pottermore.

Cai a ficha. Primeiro pensamento: Hã? Como isso aconteceu?

Então recebi a notícia de que a Amazon está direcionando as pessoas de seu site para comprar na Pottermore os e-books de Harry Potter no formato do Kindle. (E que a Barnes & Noble estava fazendo o mesmo.) Lá, as pessoas se registram e depois podem comprar os livros digitais.

Isso é, de longe, a maior concessão que já foi arrancada da Amazon desde que John Sargent, da Macmillan, enfrentou-os em relação à compra dos livros impressos da editora naquele fim de semana de janeiro de 2010, depois que Sargent voou até Seattle para contar que a Macmillan ia adotar o modelo de agência.

Em janeiro, no Digital Book World, no que terminou sendo uma apresentação visionária, Matteo Berlucchi, da Anobii (uma livraria de e-books com base no Reino Unido que é parcialmente dirigida por três grandes editoras), observou que somente ao eliminar o DRM é que ele poderia vender para os clientes do Kindle. Ele pediu que as editoras fizessem isso.

Agora, Redmayne, que até novembro estava trabalhando para a HarperCollins, demonstrou a verdade no que Berlucchi disse.

Em 2007, a HarperCollins colaborou para transformar a LibreDigital numa plataforma de distribuição de e-books. Na época, Brian Murray, principal executivo da Harper, articulou a visão de que a editora iria distribuir todos os e-books aos clientes, sem necessidade de confiar cópias digitais às livrarias. Acredito que uma das motivações declaradas era reduzir a pirataria com a redução do número de pontos de distribuição de arquivos. A ideia foi descartada rapidamente porque a Amazon e outras livrarias não a aceitaram. Elas teriam dito – e isso acabou sendo uma visão bem razoável – que tinham de controlar os níveis de serviço oferecidos aos seus clientes.

Redmayne e a Pottermore agora demonstraram que, se você vai viver com a proteção antipirataria da marca d’água, em vez de insistir num cadeado digital através do DRM, pode ganhar um impulso extraordinário.

Sem DRM, como explicou Berlucchi, qualquer um pode vender e-books que podem ser lidos num Kindle. Quando a Pottermore decidiu que poderiam viver sem DRM, eles apresentaram uma escolha muito difícil para a Amazon. Os e-books iam chegar aos aparelhos Kindle a Amazon querendo ou não. Eles podiam ignorar isso ou podiam apoiar. Tenho certeza de que o acordo “para apoiar” inclui compensações para a Amazon através das vendas que direcionam (assim como para a B&N e para os outros parceiros de distribuição e afiliação que existirão no futuro).

Em outras palavras, numa refrescante mudança da história recente, o dono do conteúdo foi capaz de apresentar uma proposta “aceite ou fique de fora” para a Amazon. Eles decidiram “aceitar”. Foram inteligentes. O jogo ia mudar de qualquer forma.

A pergunta de 64 milhões de dólares é como os executivos e estrategistas das Seis Grandes estão vendo essas mudanças. Não há autor no mundo com o poder de J.K. Rowling para fazer isso; ela é os Beatles. Mas e uma grande editora? O que aconteceria se a Random House ou a HarperCollins (ou quaisquer das outras quatro) falasse para a Amazon: “vamos tirar o DRM e vamos distribuir nós mesmos os e-books”.

Isso poderia mudar a estratégia que a Bookish está apresentando?

Obviamente, essa tática não vai funcionar se for feita por uma editora sem toneladas de best-sellers e um catálogo importante. Na verdade, poderia gerar uma grande vantagem para as grandes editoras, assumindo que elas podem cair fora, enquanto as pequenas não podem.

Eu estive colocando duas perguntas em posts recentes: “Quando vai parar o crescimento da Amazon?” e “Quem vai estar vivo quando isso acontecer?”.

Estou colocando uma nova no título deste post. Se as editoras conseguirem superar seu medo da pirataria, terão – Matteo Berlucchi propôs e Charlie Redmayne acabou de demonstrar – uma poderosa arma para lutar contra a Amazon.

Uma entidade que certamente vai “ficar de pé” é a Pottermore. E eles terão os nomes das pessoas que foram direcionadas para eles pela Amazon.


Tradução: Marcelo Barbão

[09/04/2012 21:00:00]