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Dançando e lendo a vida
PublishNews, 09/04/2012
Dançando e lendo a vida

Acabo de chegar de Paris, onde vi a exposição “Danser sa vie”, sobre as relações entre as artes visuais e a dança desde 1900. Para mim, leiga, serviu também como uma grande retrospectiva da história da dança moderna e contemporânea. A diversidade de recursos – um mix de mídias digitais e artes plásticas (fotos, quadros, esculturas) – situaram e contextualizaram os principais momentos e movimentos da história da dança.

Foram quase duas horas e meia de submersão em um universo onde a leveza, o equilíbrio, a harmonia, a linha, a experimentação e a originalidade dão a tônica. Fotos do começo do século, quando o movimento é retratado, apesar da inexistência de recursos técnicos como os atuais, referências de artistas como Matisse, Pollock, Picasso, para citar apenas alguns, e miniesculturas de Rodin plasmaram momentos e olhares distintos sobre a dança e sobre o movimento.


Já ao entrar, vemos logo de cara um vídeo de Nijinsky dançando “O entardecer de um fauno”. Quem pôde assistir a montagem recente dessa peça pela São Paulo Companhia de Dança se dá conta da importância de um trabalho de recuperação e de remontagem, assim como do significado de ruptura e transgressão nela contido.

A oportunidade de aceder a determinados espetáculos, como, por exemplo, rever “A sagração da primavera” na íntegra, dançada por Pina Bausch, é uma experiência incrível que a exposição oferece. Múltiplas linguagens em torno da dança para contextualizar e resgatar o melhor e mais significativo aspecto de cada período.

A curadoria e montagem impecáveis capturam o público desde o primeiro momento. Impossível ficar alheio ou não ser surpreendido diante de cada vídeo, quadro, foto, figurino... Disso resulta um autêntico sentido pedagógico, na melhor acepção do termo, que abre um universo de múltiplas referências e conexões e nele introduz o leigo. Ver, por exemplo, a complexidade de uma partitura de marcação de determinada peça, ou a ousadia e modernidade das experiências do começo do século passado, implicam em uma ampliação do olhar sobre o que é a dança e como ela evoluiu.


A coerência da exposição começa no título. “Danser sa vie”, “Dançar sua vida”, palavras de Isadora Duncan por meio das quais ela definiu o seu trabalho artístico: “Minha arte é precisamente um esforço para expressar em gestos e movimentos a verdade de minha vida. Desde o começo não fiz outra coisa que não fosse dançar a minha vida”. A densidade desse pensamento é indicativa da intensidade da obra realizada por Duncan, uma das maiores dançarinas de todos os tempos. Você pode ver um pequeno vídeo sobre a exposição aqui.

Mas você deve estar se perguntando: afinal, o que tem a ver tudo isso com a literatura para crianças e jovens? E com razão. Essa visita, na medida em que eu avançava no percurso, trazia à tona a questão da leitura e da literatura. Desde a entrada, o paralelo se estabeleceu: "dançar a vida", "ler a vida", "escrever a vida", enfim, conexões inevitáveis quando o que temos no centro são as questões humanas fundamentais, a matéria-prima principal a partir da qual a arte é criada.


O fio condutor da exposição, a conexão entre as artes plásticas e a dança, se articula em função dessa relação com a vida, com aquilo que ela tem de singular e de universal ao mesmo tempo. Essa dimensão humana que integra e dá e faz sentido foi o que senti logo de cara, e ela corresponde também ao que considero base da literatura. Mas não é só isso que me fez estabelecer a conexão. Os estímulos, a diversidade, a identificação e as surpresas responsáveis por capturar o visitante me fizeram lembrar também das relações que estabelecem as preferências entre leitores e livros.

Talvez, no fundo, esse sentimento nada mais seja do que uma profunda identificação com o universo da dança, que provocou a catarse que só a arte provoca e promove. E me fez pensar, ou melhor, reafirmar e comprovar, que é esse também o caminho que pode conduzir à formação do leitor: a identificação e as conexões efetivas e reais entre o sujeito leitor e a obra literária.

E não é porque tratamos de leitores em formação que a conexão deva ser desconsiderada ou empobrecida, ao contrário, ela é a responsável pela identificação do pequeno ou jovem leitor com a leitura, com a literatura, com a vida.

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Em tempo: estão abertas as inscrições para os seminários “Conversas ao Pé da Página 2012 – Crianças e jovens no século XXI – Leitores e leituras”. Com muitas novidades na estrutura e na organização, as oficinas e os seminários do Conversas ao Pé da Página se realizarão nas seguintes datas: 2 e 3 de maio, 14 e 15 de junho e 1º e 2 de agosto, no Teatro Paulo Autran, do SESC Pinheiros.

Estarão presentes: Ana Garralón, Beatriz Helena Robledo, Cecilia Bajour, Claudia Vidigal, Daniel Goldin, Emília Gallego, Fernando Villela, Happin Hood, Heloisa Buarque de Hollanda, Inês Bogéa, Isabel Kahn, Javier Zabala, Joelle Turin, José Castilho Marques Neto, Katsumi Komagata, Laura Emília Pacheco, Lydia Hortélio, Maria Teresa Andruetto, Marie Ange Bordas, Marie Claire Bruley, Marisa Lajolo, Paolo Canton, Paulo Lins, Socorro Venegas, Stela Babrbieri, Sylvie Octobre, Tereza Villela, Yolanda Reyes.

Inscrições e mais informações pelo site www.conversapepagina.com.br

Dolores Prades é editora, gestora e consultora na área editorial de literatura para crianças e jovens. É membro do júri do Prêmio Hans Christian Andersen e curadora da FLUPP. É também coordenadora do projeto Conversas ao Pé da Página - Seminários sobre Leitura, e da área de literatura para crianças e jovens da Revista Eletrônica Emília. Sua coluna pretende discutir temas relacionados à edição e ao mercado da literatura para crianças e jovens, promover a crítica da produção nacional e internacional deste segmento editorial e refletir sobre fundamentos e práticas em torno da leitura e da formação de leitores. Seu LinkedIn pode ser acessado aqui.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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