Sem previsões para este ano... apenas perguntas
PublishNews, 04/01/2012
Perguntas e não previsões em 2012

Este é o período do ano para fazer previsões. Tenho feito as minhas, no espírito das festas de fim de ano, desde os anos 1980, quando escrevi o artigo “My say” para a Publishers Weekly (não consegui encontrá-lo – algum leitor caprichoso talvez o encontre –, mas me lembro que uma das minhas previsões foi que os editores iriam trabalhar para disponibilizar o áudio de um livro simultaneamente ao lançamento de sua versão impressa).

Nos últimos anos, fiz previsões para a PW e também no meu blog. Recentemente dei a minha contribuição com alguns pensamentos para um ótimo post de Jeremy Greenfield (traduzido na íntegra no PublishNews), o novo “cérebro” editorial do site Digital Book World.

Mas este ano pensei em fazer algo diferente. Em vez de predizer o futuro para os maiores players da indústria, vou postar aquelas que, penso, são as maiores questões a serem enfrentadas em cada área onde esses grandes players atuam. Algumas das questões dependem de cada um deles responder; outras dependem de circunstâncias externas; e algumas talvez nunca cheguem a ser respondidas. Mas qualquer “futurista” honesto – e eu tento ser um deles – tem que admitir que as perguntas são sempre em maior número do que as respostas (Nota: existe uma ótima música do Johnny Nash chamada “There are more questions than answers” – letra, Youtube –, que deve ter uns 50 anos, e é tão verdadeira hoje quanto quando foi escrita). Então, este post trata das questões importantes que vamos encarar na indústria do livro em 2012. E depois...

Os maiores editores

Será que o uso da tecnologia em escala – SEO (search engine optimization) e precificação parecem ser os candidatos mais fortes aqui – vão adicionar valor perceptível que tenha um custo efetivo para eles e que seja atraente para os autores?

Com que rapidez as vendas de livros impressos vão cair? E com que eficiência os editores podem reduzir a sua escala para manter as despesas sob controle?

Eles vão conseguir se reorganizar para tirar proveito das oportunidades que se apresentam no “rápido e ágil” mundo digital?

Eles podem estender a “proteção” do modelo de agência para os distribuidores e, se sim, podem cobrar um valor extra por essa capacidade?

Quais as qualidades e capacidades de que um editor necessita agora, de que não precisava alguns anos atrás, e qual é a melhor maneira (comprar uma empresa, terceirizar, contratar) para ter esses talentos na produção?

Grandes editores, mas que não são os Big Six

Esses editores podem brigar para sair do confinamento em que Amazon e Apple os colocaram, com a Amazon insistindo para que os e-books sejam negociados pelo modelo de distribuidora e a Apple insistindo no modelo de agência?

A Amazon pode continuar se apoiando no desconto nos altos preços sugeridos pelos editores (a base dos altos preços do atacado para os varejistas), ou a Amazon vai cada vez mais vender pelo preço sugerido pelos editores a fim de “encorajá-los” a reduzir os seus preços de capa sugeridos, diminuindo assim os custos da Amazon e as margens de ganho dos editores?

Pequenos editores

Poderão eles acompanhar as exigências tecnológicas e contratuais das mudanças nas edições digitais?

Será que eles serão capazes de encontrar nichos que apresentem oportunidades que possam aproveitar para vender algo além do que “o livro” (seja impresso ou digital)?

Se esses editores forem ágeis, oportunistas e pensarem vertical, poderão criar oportunidades que os tornem mais atraentes do que os seus competidores maiores, como parceiros para agentes, autores e marcas conhecidas?

Amazon

Ela pode direcionar os seus grandes recursos para vender títulos individuais de maneira tão eficiente dentro da sua rede de contatos, de forma a compensar o que venham a perder fora da sua rede?

Ela pode estabelecer uma vantagem notável ou sustentável, por ser um repositório de conteúdos desejáveis que só está acessível por meio dela?

Poderá manter o domínio da sua plataforma e do seu “aparelhinho” à medida que a concorrência passa para além dos chamados early adopters?

Barnes & Noble

Os livros como presentes e como objetos trazem tráfego suficiente para manter uma cadeia de livrarias bem sucedida, à medida que as vendas de romances e biografias declinam?

Será que eles podem criar uma estratégia internacional lucrativa? Até agora eles não têm uma.

Assim como os editores, conseguirão eles gerenciar uma diminuição de suas lojas físicas e despesas gerais à medida que o faturamento diminui (estou assumindo que não conseguirão manter as lojas apenas com as vendas do Nook e com a prestação de serviços)?

Livrarias independentes

Será que elas vão ganhar algum tempo com a folga que tiveram com a falência da Borders e com a diminuição de espaço nas prateleiras da B&N, nesse período em que a venda de livros impressos ainda está em transição para os livros digitais e para as vendas on-line?

Conseguirão ter algum sucesso com a ajuda do Google eBooks? Ou será que aparecerá uma outra solução que permitirá às livrarias independentes entrar no comércio de e-books de maneira lucrativa?

O foco no mercado de livros como objeto (presentes e outros) vai dar resultado para eles, já que os consumidores de textos narrativos acham cada vez menos necessário visitar uma loja física?

Autores

Como eles podem saber que os seus agentes entendem o novo espectro de opções editoriais e direcionam os seus negócios apropriadamente (é tão difícil ser o seu próprio agente quanto o é ser o seu próprio advogado)?

Como podem construir a sua própria plataforma on-line (e qualquer escritor que pense viver dos seus livros e ainda não desenvolveu a sua plataforma tem que pensar em ter uma)?

Algum autor vai recusar um adiantamento significativo e se autopublicar em 2012 (até agora, esse foi um comportamento raríssimo – Tim Ferris foi o único que chegou perto disso. Barry Eisler tentou fazer, mas acabou recebendo um adiantamento da Amazon)?

Será que o número de autores autopublicados continuará a crescer? Sob quais termos contratuais e porcentagens de royalties tais autores voltariam a trabalhar com os editores tradicionais?

Agentes

Como eles podem ter certeza de que todo o espectro de conhecimento sobre as alternativas da edição digital está em suas mãos (se não em suas mentes...)?

Eles sabem tudo o que precisam saber para fazer um acordo de “divisão de lucros” com um editor?

Podem eles mesmos dirigir os esforços de marketing on-line do seu autor? E, se puderem, será necessário – ou possível – algum ajuste na prática padrão de uma comissão de 15% dos royalties do escritor?

Editores de livros ilustrados

O “layout fixo de página” é a resposta? Ou o mais provável é que a resposta seja sim para alguns livros e não para outros? Para quais?

Como os editores de livros ilustrados vão lidar com a infinidade de formatos nativos, requerimentos de arquivos e tamanhos de telas?

Será que se os livros ilustrados estiverem em bons aparelhos portáteis, com boas telas, conseguirão a mesma aceitação por parte dos seus consumidores que tiveram os livros de texto com os seus leitores?

Existem novos canais de vendas para os livros ilustrados, já que as livrarias físicas estão diminuindo?

Será que novos modelos, talvez desenvolvidos com base nos relacionamentos sociais ou nas comunidades podem ser uma alternativa para ampliar a edição de livros ilustrados?

A indústria

À medida que a infraestrutura global de e-books se desenvolve, ela dá sinais de se manter diversificada ou tende a se consolidar como o Kindle?

A indústria dá sinais de que vai se dividir em três grandes diferentes negócios: textos narrativos, livros ilustrados para adultos e livros para crianças?

Com a Amazon, B&N, Apple, e Kobo estabelecidos como pontos de venda de e-book globais significativos, algum dos outros players – Google, Sony, Blio, Copia, Bookish, Anobii – vai chegar a vender uma quantidade de e-books que os faça importantes para a venda de e-books?

A venda B2B via white-label ou as vendas diretas do editor ao consumidor vão crescer de forma marcante à medida que os antigos modelos de venda, distribuição e monetização atrofiam?

[03/01/2012 22:00:00]