Os tesouros editoriais de Frankfurt
PublishNews, Roberta Campassi, 21/10/2011
A feira de livros reserva um espaço pouco conhecido para antiquários que vendem raridades

Ano após ano, uma multidão de editores do mundo todo visita a Feira do Livro de Frankfurt à procura dos lançamentos mais quentes do mercado editorial. Mas há outro público, restrito e endinheirado, que vai à feira justamente em busca do oposto: livros antigos e raros, que sobreviveram ao tempo e hoje valem pequenas fortunas.

Desde 2005, a maior feira de livros do mundo reserva um espaço exclusivo para a realização da Feira de Antiquário de Frankfurt, que reúne antiquários especializados em livros, originais, ilustrações e documentos e que atrai colecionadores principalmente da Europa, Estados Unidos, China e Rússia.

Com uma área de 500 m2, essa feira de raridades editoriais passa muitas vezes despercebida dentro do enorme complexo de mais de 600 mil m2 que abriga a Feira de Frankfurt. Mas é seguramente um dos espaços mais curiosos de todo o evento e um prato cheio para quem, em meio a tantas discussões sobre livros digitais, quer apreciar bons e velhos livros de papel.

Vasculhar os antiquários na feira é o tipo de passeio que poderia levar horas, tamanha a diversidade de itens expostos e os detalhes de cada um. Já levar as peças para casa é o tipo de investimento que exige bastante dinheiro no bolso.

Andando pelos estandes dos antiquários você pode encontrar, por exemplo, um gracioso almanaque em miniatura de astrologia e astronomia publicado na Europa em 1810. Menor que a palma da mão, o livrinho tem uma capa enfeitada por miçangas, um mini-espelho na contracapa e 12 ilustrações feitas à mão. Sai por 2,2 mil euros. “Essa peça era feita para mulheres e publicada em miniatura para ser levada nas bolsas”, afirma Jean-François Letenneur, dono do antiquário Les Trois Islets, que fica na cidade francesa Saint-Briac-sur-Mer e todos os anos expõe em Frankfurt.

Você também pode se deparar com o catálogo de um leilão de livros raros realizado em 1938 para ajudar refugiados de guerra judeus. Mas não é um catálogo qualquer, e sim um que leva a assinatura de Albert Einstein numa página, abaixo da introdução escrita por ele, e a assinatura de Thomas Mann na página seguinte, junto com o prefácio. O pequeno tesouro de papel estava à venda por 8,5 mil euros, no estande do 19th Century, antiquário da cidade de Stevenson, nos Estados Unidos.

Este ano, 53 expositores participaram da Feira de Antiquário de Frankfurt entre os dias 12 e 16 de outubro. A grande dúvida antes de o evento começar era quanto os colecionadores estariam dispostos a gastar em meio à atual turbulência econômica. Mas na sexta-feira, dia 14, os expositores já respiravam aliviados. “Os clientes apareceram e compraram”, afirmou Christian Schoppe, sócio da Abooks, empresa que organiza a Feira de Antiquário em Frankfurt e em outras cidades alemãs. “Embora não tenha ocorrido nenhuma venda de valor altíssimo, houve vários negócios de valores médios.”

Dirk Krah, do antiquário alemão Reiss & Sohn, havia vendido doze itens de seu catálogo em dois dias de feira, e esperava vender mais até o fim do evento. Mas não estava muito otimista com a possibilidade de arrebatar um comprador para a estrela do seu estande, um enorme livro manuscrito de cantos litúrgicos, datado de 1524 e ofertado por 60 mil euros.

Os preços das peças nos antiquários começam em150 euros, mas a média fica entre 5 mil e 10 mil euros, chegando com alguma frequência a 70 mil euros, conta Schoppe. O item mais caro já negociado na feira foi – surpresa – obra de um autor latino-americano. Há alguns anos, o antiquário americano Lame Duck emplacou o manuscrito de um conto de Jorge Luis Borges por nada menos do que 500 mil euros.

Para quem trabalha no mercado editorial, cifras tão altas como essa são alcançadas apenas em leilões de direitos autorais muito concorridos, quase sempre nos mercados americano e europeu. Mas a Feira de Antiquário nunca faz leilões e, curiosamente, só realiza sorteios. Todo ano, quando o evento abre suas portas, os clientes registram interesse nas peças e, depois, aquelas que têm mais de um potencial comprador são sorteadas.

Este ano, os antiquários foram instalados no Open Space, o pavilhão mais futurista do complexo instalado na Ágora, uma área central. “Aqui, no coração da feira, o velho encontra o novo e o passado encontra o futuro”, disse Juergen Boos, diretor da Feira de Frankfurt, em comunicado. É uma prova de que o maior evento do mundo editorial tem atrativos para todos os gostos.
[21/10/2011 01:00:00]