Quatro anos na revolução do e-book: coisas que sabemos e coisas que não sabemos
PublishNews, 05/10/2011
Quatro anos na revolução do e-book

Pensando no lançamento do primeiro Kindle no final de novembro de 2007, alguém poderia dizer (e vai) que a revolução da leitura eletrônica está chegando ao seu 4º aniversário. Já existiam outros aparelhos dedicados aos e-books antes, incluindo o Sony Reader - no mercado quando o Kindle chegou e ainda vivos, apesar de não ter muito sucesso - e os já falecidos Rocket Book e Softbook que tinham debutado e desaparecido alguns anos antes. E no começo dos anos 90 tínhamos o Sony Bookman, que mostrava apenas algumas poucas linhas de texto de cada vez e desapareceu sem deixar rastros. O formato de e-book que mais vendia antes do Kindle era o que se podia ler no Palm Pilot e o mercado em geral de e-books estava tão atrasado que qualquer investimento de uma editora em digitalização era feito por fé, não por evidências comerciais.

E muitas pessoas na indústria acreditavam que ler numa tela demoraria muitos anos para ser realidade, se algum dia chegasse a ser...

Agora, menos de quatro anos depois, estamos vivendo num mundo mudado, apesar de ainda não estar transformado. Mas isso pode acontecer muito em breve.

Como as vendas dos e-books nos EUA agora parecem já ter chegado aos 20% de rendimentos em algumas editoras (o que quer dizer que já está nesse patamar ou chegará muito em breve), há algumas coisas que podemos dizer que sabemos sobre como será o futuro, mas também há algumas outras coisas muito importantes que não sabemos ainda.

Nós sabemos que a maioria das pessoas vai se ajustar em pouco tempo à leitura de livros narrativos numa tela em vez do papel.

Nós sabemos que os pais vão entregar seus iPad, iPhone ou Nook Color para uma criança para que possa desfrutar os livros infantis nos aparelhos.

Nós não sabemos se livros adultos ilustrados serão igualmente bem aceitos por consumidores de livros em aparelhos digitais, apesar de que há cada vez mais aparelhos capazes de mostrar quase o mesmo que um editor mostra numa página impressa.

Nós não sabemos quanto os pais vão pagar por um e-book infantil ilustrado pequeno, mas parece que poderia ser muito menos do que estão dispostos a pagar pelo papel.

Nós sabemos que os consumidores vão pagar preços de formato paperback ou mais por e-books simples.

Nós não sabemos se os consumidores vão aceitar pagar preços mais altos para melhorias como vídeo, áudio ou software aos e-books.

Na verdade, nós não sabemos se os consumidores pagariam preços de paperback para e-books se o paperback não estivesse à venda em todos os lugares por um bom preço.

Nós sabemos que a popularidade do e-book, medida em vendas ou na porcentagem de rentabilidade das editoras, dobrou ou mais do que dobrou a cada ano desde 2007.

Nós sabemos que esta taxa de crescimento é matematicamente impossível de continuar por mais três anos (porque isso colocaria os e-books com 160% da rentabilidade das editoras!).

Nós sabemos, a partir dos anúncios sobre novos aparelhos e uma recente pesquisa da Harris prevendo um aumento na compra de aparelhos, que não há expectativa de uma queda na adoção dos e-books num futuro próximo.

Nós não sabemos se vamos encontrar uma barreira de resistência ou se talvez deveríamos chamar de “barreira da insistência” do papel, em algum nível, nas vendas dos próximos dois anos (no final dos quais os e-books seriam 80% dos rendimentos das editoras com as taxas de crescimento que vimos nos últimos quatro anos).

Nós sabemos que há um mercado grande e em desenvolvimento para e-books em inglês no mundo, já que a infraestrutura do e-book permite a construção desses mercados globais.

Nós não sabemos a rapidez com que esses mercados vão se desenvolver ou o tamanho que vão alcançar.

Nós sabemos que o número de livrarias sofreu uma forte redução em 2011 por causa da falência da Borders.

Nós não sabemos se a rede de livrarias físicas remanescente, lideradas pela B&N e incluindo as independentes bem como o espaço em prateleira devotado a livros, receberão uma ajuda com a desaparição da Borders, dando às editoras alguma estabilidade temporária em sua rede de lojas, ou se a erosão do espaço em prateleira vai continuar (ou até acelerar).

Nós não sabemos o que a perda do merchandising em lojas físicas vai significar para a capacidade dos editores e autores de introduzirem novos talentos a leitores, ou até mesmo de apresentar um novo trabalho dos nomes já conhecidos.

Nós não sabemos se a descoberta e o merchandising melhorados funcionam com a aplicação de “escala” pelas editoras fora dos nichos verticais, seja por tópicos ou gêneros.

Nós sabemos que agentes e autores vão aceitar royalties nos e-books de 25% da receita líquida no cenário atual, onde 70% ou mais das vendas ainda são feitas em papel.

Nós não sabemos se as ameaças das opções de publicação alternativa forçarão esta taxa de royalties a subir se as vendas dos impressos caírem para 50% ou 30%.

Nós não sabemos se uma queda nas vendas de impressos, ficando entre 50% ou 30% do total, vai demorar muitos ou poucos anos.

Nós sabemos que o padrão Epub 3 e o HTML5 permitem recursos no estilo aplicativos nos e-books.

Nós não sabemos se esses recursos farão alguma diferença comercial para o texto linear que é o único tipo de e-book aprovado comercialmente.

Nós sabemos que marcas de criação de conteúdo que não são editoras de livros estão usando a relativa facilidade de publicação de e-books para distribuir seu próprio conteúdo no mercado de e-books.

Nós não sabemos se as editoras de livros vão desenvolver expertise na publicação de e-books que persuadirão outras marcas a usá-las para a publicação, da mesma forma que conseguiram no mundo do livro impresso, em vez de ignorá-las.

Como estou expressando minhas preocupações sobre o impacto da revolução do e-book nas editoras em geral, algo que estou fazendo com intensidade dramática desde a BEA em 2007, (uns seis meses antes do Kindle) é dizer que as editoras de livros gerais precisam começar a focar em seu público (o que significa escolher conteúdo para nichos verticais).

Hoje vou acrescentar outra sugestão urgente às editoras trade: reconsiderem seus compromissos para publicar livros ilustrados com qualquer prazo maior do que um ou dois anos e pensem em se manter com livros só de texto, a menos que tenham caminhos para chegar aos clientes para os livros que não passam por livrarias. Se terminarmos com um mercado com 80% de e-books em um futuro próximo, e é bem possível que isso aconteça, você vai querer ser dono do conteúdo que sabe que funciona (para o consumidor) naquele formato, não o que você não sabe que funciona fora do formato impresso.

Para os livros infantis, a chave é marca. Haverá demanda por Chapeuzinho vermelho, e Alice no país das maravilhas, por muitos anos, mas as equações de produtos e preços estão completamente indefinidas.

[04/10/2011 21:00:00]