O mercado de e-books poderia definitivamente confundir o consumidor médio
PublishNews, 21/09/2011
Para não se confundir com os preços dos e-books

Não há links neste post. Eu me refiro a pesquisas feitas em várias livrarias, mas as páginas de resultados são dinâmicas, então criar um link não garantiria que você visse os mesmos resultados que eu. Você pode replicar as buscas, mas pode ou não ver a mesma coisa.

Aqui mostro como o mercado de e-books pareceria sem o modelo de agência.

Depois de ler o livro 61, de Phil Pepe, sobre a grande temporada do jogador de beisebol Roger Maris há 50 anos, eu estava pronto para minha próxima leitura. Nenhum livro apareceu mais na imprensa, pelo que tenho lido nas últimas semanas, do que uma nova biografia de Jacqueline Kennedy: transcrições de entrevistas que ela deu ao historiador Arthur Schlensinger poucos meses depois do assassinato de JFK. Isso parecia uma boa escolha para mim.

(Aprendi através do exercício descrito aqui que o livro tem o copyright "by Caroline Kennedy", que controlou a propriedade, editou e fez o contrato para sua publicação e também "by Michael Beschloss", o historiador que escreveu a introdução.)

Apesar de ter vários leitores carregados no meu aparelho de leitura digital (o iPhone), recentemente me peguei sentindo falta da loja Kindle, porque é o melhor lugar para navegar. Ela permite buscas bem granulares por categoria e subcategoria (que as outras não permitem) e organizar as escolhas em ordem inversa de publicação (que as outras tampouco permitem, ou se permitem, não deixam muito óbvio o como). Foi como eu encontrei 61 e The House That Ruth Built, minhas duas leituras mais recentes sobre a história do beisebol (meu assunto favorito).

No entanto, quando você sabe que quer um livro específico, todos os serviços de e-books são bastante iguais. Todos permitem que você faça buscas por título ou autor e mostram o que você está procurando. Como eu gosto de espalhar minha leitura para continuar em dia com as várias experiências, decidi procurar primeiro no Nook por "Jacqueline Kennedy".

E o mecanismo de busca encontrou 22 itens, sendo que os dois primeiros eram o que eu estava procurando.

Mais ou menos.

O resultado número 1 era o livro que eu queria (Jacqueline Kennedy: Historic Conversations on Life with John F. Kennedy, de Caroline Kennedy), mas só estava disponível para pré-venda, disponível a partir de 3 de janeiro de 2012. O preço normal era de US$ 29,99 e o do Nook com desconto era de US$ 9,99. Obviamente, não era o modelo de agência. Aparentemente, a B&N vai aceitar uma perda de US$ 5 em cada cópia, assumido que eles fiquem com 50% dos US$ 29,99, dividindo com a editora Hyperion.

Mas eu quero ler agora!

O segundo resultado é o mesmo livro. No entanto é um "Nook Book Enhanced (e-book)". Está disponível agora. O preço normal é de US$ 60 e o do Nook é de US$ 32! São trinta e dois dólares! Preço normal de SESSENTA dólares? Que m... é essa?

Vamos notar aqui que a B&N está aparentemente ganhando uma margem pequena se estão pagando 50% para a Hyperion. Mas como sou o maior gastador em e-books que conheço (comprei e li feliz tanto Fall of Giants quanto George Washington da Penguin por US$ 19,99 sem piscar; há alguns anos comprei um e-book biográfico de Grover Cleveland por US$ 28) e esse preço me pareceu exagerado, imagino se alguma outra pessoa o comprou.

Então continuei procurando.

Minha parada seguinte foi a Google e-Books. O livro que estou procurando não estava nas primeiras duas páginas de resultados na busca sobre Jacqueline Kennedy (no entanto, havia um livro chamado Inventing a Voice: The Rhetoric of American First Ladies of the Twentieth Century que estava à venda por US$ 42,36 e outro chamado The Kennedy Family: an American dynasty, a bibliography with indexes por US$ 55,20).

Então tentei a Kobo. Quando cheguei ao fim da primeira página de resultados, já estava em outras Jacquelines. E o livro que eu queria, o que estava tendo toda aquela publicidade, não apareceu.

Quase nunca uso a iBookstore porque a seleção é mais limitada. Mas decidi tentar dessa vez. Encontrei algo legal imediatamente: havia uma opção com o mecanismo de autocompletar, para "Jacqueline Kennedy", depois de digitar algumas poucas letras de seu primeiro nome. Muito útil num iPhone.

Aqui encontrei uma variação do que já havia visto no Nook. A primeira lista era para o e-book comum, só que para pré-venda para entrega em 3 de janeiro de 2012, por $14,99 (iBookstore, ao contrário do Nook, não mostra o preço normal da editora).

O segundo item na lista anunciava Jacqueline Kennedy The Enhanced Edition por US$ 19,99, também sem me contar qual era o preço da editora.

Uma coisa era estranha. A iBookstore diz que o "quantidade de páginas" da edição enhanced é de 400 páginas e o da edição normal é de 256 páginas! Como eu achei que as "melhorias" seriam vídeo e áudio, isso é algo estranho.

Então, finalmente, fui até a loja Kindle. O primeiro resultado, disponível agora, era Jacqueline Kennedy (Kindle Edition with Audio/Video) por US$ 9,99. A página do livro dizia que o preço recomendado era de US$ 60 e o preço do Kindle significava uma economia de 83% (claro que comprei e posso dizer que a barra de progresso do meu iPhone diz que há 349 páginas no livro!).

O que isso sugere é que a Amazon poderia estar subsidiando as vendas deste livro em até US$ 20 por cópia vendida! (Da próxima vez que estiver com uma pessoa da Amazon, eu pago o café). Estou assumindo que a Amazon está pagando metade do preço de tabela de US$ 60 para a Hyperion.

Os acordos entre as pessoas são particulares e não afirmo ter nenhuma informação privilegiada, mas entendo que tudo que os editores vendem para a Apple é de acordo com o modelo de agência (a editora estabelece um preço com a Apple e esta paga 70% dele), mas também é parte do acordo que a iBookstore pode baixar seu preço para competir e ajustar os pagamentos de acordo com esse novo preço. Talvez o que aconteceu aqui é que a Hyperion chegou a um acordo com a Apple de US$ 19,99, imaginando que mais ninguém (quer dizer Kindle ou Nook, neste caso, já que aparentemente Google e Kobo não têm o livro enhanced e não estão mostrando a versão normal para vendas futuras) iria diminuir o preço mais do que isso. Mas o Kindle baixou. Então, se estou certo sobre os termos, a iBookstore vai logo perceber isso, baixar o preço para US$ 9,99 e a Hyperion vai se encontrar recebendo 70% de US$ 9,99 da Apple em vez de 70% de US$ 19,99. E mesmo assim Kindle e Nook vão pagar US$ 30 por cópia com a Amazon preferindo perder US$ 20 por cópia vendida e a B&N preferindo não subsidiar e provavelmente tampouco vendendo nada.

A estratégia da Amazon antes do modelo de agência era dar descontos agressivos aos livros mais importantes, aqueles que o público leitor procurava com mais frequência, para mandar o sinal mais forte de que seus preços eram os mais baixos e forçar os concorrentes menores a entrar numa briga com preços mais altos. Neste caso, esta estratégia está sendo aplicada com sucesso, apesar de que tanto a iBookstore quanto a Nook podem responder. Não importa se você acha que é bom ou ruim que a livraria com mais bala na agulha possa gastar US$ 20 por cópia num livro para promover uma percepção de preço, mas isso demonstra claramente o que as editoras, os distribuidores e os consumidores enfrentam quando um livro importante e procurado é vendido sem a disciplina do preço do modelo de agência.

Claramente, algo precisa mudar aqui. Talvez a Google e a Kobo não estejam listando este título porque não podem ou não querem vender um enhanced e-book. Talvez a Hyperion não tenha oferecido a eles. Sabemos que a Apple insiste no modelo de agência e a Amazon está igualmente determinada a ficar com o modelo de varejo. Entendo que a B&N vai trabalhar com os dois apesar das declarações públicas de que parece apoiar o modelo de agência. Nesse caso, no entanto, eu esperava que a B&N seguisse os mesmos termos que a Apple (que, como inclui o controle de preços da editora, a Amazon não quer). A B&N certamente não quer vender um e-book a US$ 32 enquanto seus concorrentes estão vendendo por US$ 10 ou US$ 20 menos do que isso e também não querem perder US$ 20 por cópia num título best-seller (talvez quando você estiver lendo isso, já tenha acontecido um ajuste de preços).

Mas se a B&N e a Apple tinham termos que permitiram o corte nos preços descontados da Amazon e pagam menos a cada e-book, é difícil ver como a Amazon poderia aceitar isso!

Infelizmente não há forma de apresentar isso sem criar confusão. Talvez um dos fornecedores de serviço ou especialista em nossa conferência “e-Books for Everyone Else” seja capaz de explicar melhor!

Trad. Marcelo Barbão

[20/09/2011 21:00:00]