Mais e-books ilustrados com a popularização dos tablets?
PublishNews, 13/07/2011
Mais e-books ilustrados com os tablets?

No ano passado, as pessoas que conheço no mercado de eletrônicos diziam que o Natal de 2010 seria a temporada dos e-readers. Isso acabou sendo verdade, resultando tanto num forte aumento nas vendas de e-books no começo de 2011 quanto, de acordo com o Pew data, numa contínua aceleração da adoção de e-readers nos primeiros seis meses depois do Natal.

Esse ano dizem que vai ser o ano dos tablets com touchscreen. Com dezenas de milhões de iPads já nas mãos dos consumidores e uma avalanche de aparelhos com sistemas operacionais Windows ou Android chegando ao mercado no segundo semestre, as prateleiras nas lojas de eletrônicos estão posicionadas para preencher estas expectativas.

E em algum lugar entre o e-reader com e-ink monocromático e o tablet, temos o Nook Color, que tem tela colorida, alguns recursos de tablet e um preço mais parecido com e-reader (a metade de um tablet).

Não sei exatamente quantos desses aparelhos foram vendidos; é difícil descobrir isso. Mas a Apple diz ter vendido ao redor de 45 milhões de iPads e está a caminho de vender 100 milhões de iPhones este ano. Esses são números globais. Dizem que eles têm ao redor de 75% do mercado de tablets agora, apesar de que esta porcentagem vai certamente cair com a proliferação da concorrência. As vendas de tablet para 2011 estão estimadas em quase 53 milhões. A Gartner diz que teremos quase 100 milhões de smartphones em uso nos EUA no final deste ano.

É uma quantidade incrível de telas portáteis nas quais as pessoas podem ler.

Ficou bastante óbvio há um ano que o mercado de publicação infantil estava recebendo concorrentes digitais que apostavam no fato de que o crescimento dos equipamentos com telas coloridas com função touchscreen abriria oportunidades para produtos infantis que não existiam antes. E como as editoras vêm tentando melhorar a tecnologia simples dos livros para jovens consumidores há muito tempo - pensem nos livros pop-up, os formatos diferentes e chips de computador que faziam os livros falarem e cantarem - parece razoável imaginar que cada vez mais pais entregarão iPads a seus filhos para que "leiam" no carro (ou na cama), no lugar dos livros.

Quando se faz um produto estilo livro para jovens consumirem num aparelho com tela de toque colorida, são empregados muitos "truques" para intensificar a experiência: áudio, animação e interatividade são os mais óbvios.

Mas com a popularização dos tablets também devemos esperar um aumento dos livros ilustrados? Meu palpite é que sim, mas não está tão claro quais custos efetivos e soluções atrativas existem para os livros ilustrados nos suportes digitais. Já são vendidos livros ilustrados para adultos há anos sem a necessidade de fazer nada mais do que colocar tinta no papel.

No mês passado, a FutureBook realizou uma conferência em Londres sobre o desenvolvimento de novos produtos. O resultado pareceu ser "ninguém está ganhando dinheiro". O que se descobriu sobre custos de desenvolvimento e vendas apontou para grandes prejuízos. Mas se o número de aparelhos que podem efetivamente mostrar esses enhanced books ou estilo app está crescendo sem parar, devemos ver o potencial de renda crescer junto.

Ao mesmo tempo, novos players estão desenvolvendo ferramentas para diminuir os custos de desenvolvimento. Todo dia desenvolvedores batem às portas das editoras procurando conteúdo para testar e desenvolver seus sistemas com novos produtos. Nesse ponto, parece que muitos deles estão dispostos a trabalhar de duas formas: um valor por serviço ou participação nas vendas. Para as editoras, isso aumenta a complexidade dos contratos já que o setor da empresa que normalmente vende licenças (direitos subsidiários) dificilmente toma decisões de investimentos editoriais (editores e publishers) e poderiam escolher entre os dois modelos com qualquer desenvolvedor.

Livros ilustrados podem chegar ao mercado digital por dois caminhos: um enhanced e-book ou uma app. A distinção tem a ver com uma das capacidades: apps são plataformas com mais suporte a recursos e interativdade do que um e-book. Mas isso está mudando. Os desenvolvedores do padrão epub (que é o formato aprovado que faz os livros "adaptáveis") estão melhorando o suporte a funções que costumavam ser de domínio exclusivo das apps.

Pelo menos até agora, as apps geralmente custam mais para desenvolver do que os e-books, e são vendidas numa loja de apps que é menos amigável em termos de buscas do que as várias livrarias de e-books, além do que as apps são geralmente mais baratas (para o consumidor, não para a editora) do que os e-books. Isso tem sido uma combinação pouco atraente para quem vende conteúdo. Os preços das apps baseiam-se em muitos modelos que são independentes dos lucros da venda das apps em si. Até o momento, o modelo de negócios dos e-books é igual ao dos livros: a editora ganha dinheiro vendendo o conteúdo, não através de qualquer outra atividade.

Quando e-books com narrativas estavam começando, o termo e conceito que todos tínhamos de aprender era "refluxo". Era necessário entregar textos num formato que pudesse ser ajustado ou "adaptado", para caber no tamanho de tela e de fonte selecionado. Como sabemos, entre as grandes vantagens que os e-books oferecem é que o usuário pode mudar o tamanho da fonte, o que muda o número de palavras numa linha e o número de linhas que a tela pode mostrar. Outra grande vantagem é a capacidade de ler o livro em múltiplos aparelhos, o que também exige a capacidade de "refluxo" porque a tela no seu telefone não é do mesmo tamanho da tela do seu Kindle, Nook ou iPad (que também são diferente entre si!).

O novo termo e conceito que vamos precisar aprender na era do e-book ilustrado é "layout fixo de página". Isso significa mostrar a página de uma forma que não haja refluxo, assim a arte e o texto mantêm as mesmas posições em relação um ao outro. Claro, isso significa que telas de tamanho diferentes necessitarão de páginas fixas diferentes. Será necessário, na verdade, fazer o design para cada tipo de tela de um livro ilustrado (ou a maioria deles, pelo menos). Frequentemente terão de criar dois designs para acomodar a página sendo vista tanto na posição portrait quanto na landscape, uma mudança que o usuário pode fazer com o girar do pulso.

Isso consome tempo e dinheiro. E é só o começo do desafio. Aqui está a parte realmente difícil. Temos 500 anos de experiência sobre o que faz com que um livro ilustrado seja visto como interessante e útil por uma pessoa. Os designers aprenderam a usar "spreads" (conteúdo colocado em duas páginas), o que não existe em telas digitais (a menos que sejam criadas artificialmente). Aprenderam a usar box laterais para separar algum conteúdo do fluxo da narrativa. Entendem como apresentar coisas de forma diferente se o design é voltado principalmente para uma função, como um livro de receitas ou de artesanato, do que se o design é apenas uma apresentação fotográfica bonita (o clássico "coffee table").

Quando chegamos à versão digital, temos a oportunidade; ou talvez deveríamos dizer a tentação, de acrescentar muito mais, não só mudar o layout. Haverá muitas situações, principalmente em livros ilustrados estilo "como fazer", em que um vídeo será mais útil do que uma foto. Pode-se acrescentar animação, som e funcionalidades que devem ser testadas, medidas ou calculadas.

Mas, na verdade, só o "layout de página fixa" (diferente para o iPad e para o iPhone, claro) junto com a simples capacidade de colocar fotos em páginas próprias com capacidade de clicar e abrir, poderia acrescentar muito valor ao usuário (além da portabilidade e redução de peso que são inerentes à mudança de impresso para digital). Se você está falando de uma coleção de lindas fotos de Paris ou de bichinhos de estimação, ser capaz de aumentar uma foto para conseguir dar um close em uma parte poderia ser uma melhoria com custo zero de implementação.

E se fosse o único valor a acrescentar, muitos livros poderiam ser adaptados ao iPad com um mínimo de redesign (Nem todos. Uma pessoa com quem conversei na semana passada falou sobre um livro no qual estava trabalhando e que tinha textos na página esquerda que se referiam a fotos de página inteira na direita. Isso precisou ser totalmente repensado para a apresentação digital). O que estou pensando é que as lindas fotos - os coffee table books - poderiam ser as coisas mais simples para as editoras digitalizarem e começar a ganhar com essas dezenas de milhões de telas.

Melhor e mais simples, claro, descontando as questões de direitos.

Esse post foi escrito com uma visão de curto prazo, admito. A interação entre conteúdo e usuários vai se sofisticar em vários sentidos. Assumo (e falo isso por fé e intuição, não baseado em fatos) que as pessoas que têm o hábito intenso de leitura vão demorar mais para mudar do impresso para o digital, assim a erosão da audiência para esse produto será bastante lenta e provavelmente uma questão geracional. Portanto, investimentos no desenvolvimento deste tipo de livro serão difíceis de recuperar.

Livros ilustrados são definitivamente diferentes. Modificações digitais podem acrescentar valor irrefutável em alguns casos, superando limitações reais impostas pelo impresso. Meu palpite é que os livros cujo objetivo é apresentar arte ou fotografias fabulosas pode acrescentar valor com apresentações na tela a um investimento adicional mínimo ou por tentativa e erro. Pelo menos por um tempo.

muito defendo que produtos digitais mais simples e mais baratos de fazer têm muito maior probabilidade de ganhar dinheiro do que outros mais complexos. Conseguir ser pago por distribuir tudo que a tecnologia pode fazer é algo difícil.

[12/07/2011 21:00:00]