Entre os autores autopublicados na internet que despontam nos rankings de vendas estão Amanda Hocking, Joe Konrath e John Locke. Estes casos de sucesso merecem destaque, mas devemos levar em consideração que os mesmos representam exceções do novo mercado editorial (tanto quanto Stephen King e Stephenie Meyer são casos atípicos de vendas entre os autores publicados pelas editoras tradicionais). A maioria dos autores não tem a ambição de atingir a marca dos 100 mil livros vendidos em um único mês, mas podem chegar a vender entre 800 e 20.000 e-books. Em se tratando de publicações tradicionais, esses números são considerados extraordinários. Mas o simples fato de que cada vez mais autores chegam a essa marca hoje em dia (vendendo mais livros a cada mês) nos mostra que os números acima são agora comuns para vendas na internet.
Os autores no ramo da autopublicação não somente estão vendendo bem em formato digital mas também estão recebendo mais por cópia comercializada (o padrão do mercado é de 25% dos direitos sobre as vendas de e-books na internet com base nos contratos das seis maiores editoras americanas). Para comparar, basta olharmos para os seguintes números: quando um autor autopublicado vende seu livro na Amazon na faixa US$ 2,99 - US$ 9,99, ele recebe 70% do valor da venda (US$ 2,09 - US$ 6,99). Um livro digital vendido a US$ 6,99 através de contrato com uma editora resultaria em US$ 1,22 para o autor (a ser dividido com o agente). A combinação do volume de vendas e um retorno mais generoso está fazendo com que autores da internet finalmente consigam ter uma renda compatível com salários pagos em empregos tradicionais. Com isso, agora dedicam-se a fazer o que mais gostam: escrever.
O momento decisivo
Em minhas palestras sobre opções de publicação, costumo enfatizar que os autores passam a ter um maior controle quando decidem autopublicar seus livros. Recentemente tenho acrescentado a possibilidade de melhor retorno financeiro como vantagem, quando o projeto é bem realizado. Há somente um ano esse ponto não estava em questão. Mas mudanças importantes ocorreram entre outubro e novembro de 2010: foi nesse período que as vendas de e-books por autores desconhecidos começaram a disparar.
Para ilustrar o aumento significante nas vendas de livros digitais por autores “midlisters”, podemos analisar um caso que tenho acompanhado de perto. Michael J. Sullivan é meu marido e autor das série Rivya Revelations. Cinco dos seis livros da série foram publicados pela minha pequena editora, a Ridan Publishing. As datas de lançamento foram: The Crown Conspiracy (outubro de 2008), Avempartha (abril de 2009), Nyphron Rising (outubro de 2009), The Emerald Storm (abril de 2010) e Wintertide (outubro de 2010). Durante um período de nove meses - de janeiro a setembro de 2010 - sua renda variou em torno de US$ 1.500 por mês ou US$ 10.700 no total (em vendas apenas pela Amazon Kindle US). Certamente uma renda insuficiente. Após o estouro de vendas de livros digitais em outubro/novembro do ano passado, seu retorno foi de mais de US$ 102.000 em apenas cinco meses. Para detalhes de sua renda mensal veja o gráfico abaixo.

Lendo comentários no Writer’s Cafe (fórum da Kindle Boards), percebi que muitos autores tiveram aumento semelhante nas vendas de seus livros na internet, ou seja, o caso de Michael não é o único. Veja a tabela e gráfico abaixo (dados disponíveis no fórum Kindle Board):

Tabela: número de autores e quantidade de livros vendidos nos meses de agosto de 2010 a fevereiro de 2011

Os autores informaram números de vendas e preços de livros no fórum da Kindle Boards e assim pude calcular as receitas no mês de março:
• Michael J. Sullivan — US$ 16.648
• Ellen Fisher — US$ 3.915
• Siebel Hodge — US$ 15.425
• N. Gemini Sasson – US$ 4.222
• David McAfee — US$ 6.085
• David Dalglish — US$ 12.132
• Victorine Lieskie — US$ 7.281
• M. H. Sergent — US$ 4.211
• Nathan Lowell — US$ 9.296
Entre esses autores, apenas Victorine Lieskie entrou na lista dos 100 mais vendidos da Amazon (Amazon Top 100 Bestseller List). A maioria dos autores que vendem mais de 800 livros fica entre as posições 300 e 6.000 no ranking dos mais vendidos.
Sim, você pode negociar direitos internacionais
Críticos apontam que ao optar pelo modelo de autopublicação digital os autores não podem negociar direitos internacionais ou ter seus livros vendidos nas estantes das livrarias. Isso era verdade no passado; hoje em dia ser um autor bem sucedido no mundo virtual pode abrir portas para a negociação de direitos internacionais e aumentam as chances de contrato com as editoras tradicionais - desde que existam leitores fiéis, que são o fator de maior importância para o mercado editorial.
A série Riyria Revelations é um exemplo para o qual tenho dados reais. Nos últimos seis meses foram negociados US$ 154.000 em direitos internacionais para tradução na República Checa, Rússia, Alemanha, França, Polônia e Espanha e estão em andamento acordos para publicação na Holanda e na Itália. Mais uma vez os dados no Writer’s Café apontam que, como autor, Micheal não é um caso atípico. Estes autores também anunciaram que estão assinando contratos internacionais ou estão em negociações com agentes ou editoras estrangeiras: David Dalglish, Shelley Stout, M.G. Scarsbrook, Tina Folsom, Melanie Nilles, Dawn McCullough White, Victorine Lieskie, Imogen Rose, Lucy Kevin, Margaret Lake, Terri Reid e Beth Orsoff.
À frente das novas mudanças
Quanto ao tema das livrarias… é verdade que a maioria das lojas físicas não costuma vender livros impressos autopublicados por seus autores. Porém, hoje em dia as editoras estão interessadas em contratar autores que já tenham conquistado leitores na internet e, nesses casos, oferecem adiantamentos maiores do que aqueles pagos a autores estreantes. Isso porque um autor autopublicado já tem uma boa idéia de quanto irá ganhar se optar por seguir trabalhando de forma independente. Segundo pesquisas, um autor de livros de ficção estreante pode vir a receber de US$ 5.000 a US$ 10.000. Assim, um contrato de três livros totalizaria em US$ 15.000 a US$ 30.000 de adiantamento. No caso de Michael, a Orbit (selo da Hachette Book Group) ofereceu um acordo acima de US$ 100.000. Outros autores autopublicados que assinaram contratos recentemente foram: H.P. Mallory (Random House), D.B. Henson (contatada pelo agente Noah Lukeman, teve os direitos do seu livro Deed to Death vendidos em leilão), Stephanie McAfee (Diary of a Mad Fat Girl), Jerry McGill (Dear Marcus), R.J. Jagger e Quentin Schultze & Bethany Kim.
Com a internet, o mercado editorial certamente está mudando com a velocidade da luz. Antes os autores tinham apenas uma opção se quisessem ganhar algum dinheiro escrevendo livros: passar meses (ou até anos) contatando agentes, esperar meses (ou anos) até que o projeto fosse elaborado pelo agente, e, se aceito, esperar até dois anos para que o livro chegasse às livrarias. Se o autor entrasse na lista dos midlisters (o que na verdade ocorria com a maioria dos escritores), menos livros eram impressos e ele passaria a receber uma porcentagem menor sobre as vendas, gerando uma renda insuficiente e impedindo o autor de dedicar-se à escrita em tempo integral.
Houve um tempo em que o sistema de autopublicação gerava pouco ou nenhum retorno financeiro. Em geral, era uma opção para o autor somente se seu projeto fosse rejeitado por todos os agente e editoras. Após a revolução digital, o jogo se inverteu. Autores publicam e-books vislumbrando um possível retorno financeiro e espaço para divulgação na internet. Nos casos bem sucedidos, as possibilidades de negociação sobre os termos do contrato e valores de adiantamento são bem melhores. Claro que o modelo de autopublicação não é para todos. Mas aqueles que optam por esse caminho já sabem que não serão um caso isolado. Se conseguirem entrar para a nova lista de autores que figuram na “midlist” dos livros digitais, terão boas chances de dizer a seus chefes: “peço demissão, vou ficar em casa escrevendo livros”
Traduzido do original publicado pela Publishing Perspectives por Caroline Aguiar (cdanascimento@gmail.com)