Duas editoras de pequeno porte, mas com uma linha editorial bem definida e complementar, parecidas em escala e reconhecimento e com vontade de experimentar outras áreas estão prestes a assinar sua fusão. A Hedra publica, sobretudo, clássicos em edições caprichadas de bolso e a preços populares. A Estação Liberdade vem tentando se tornar referência na edição de literatura oriental contemporânea e não mede esforços para trazer ao Brasil livros de autores de países que não são tradicionalmente traduzidos por aqui. Juntas, além de somar os catálogos e unificar processos, querem começar a editar livros infantis e juvenis e já começam a pensar nos livros digitais.
Cada uma das editoras comprou parte da outra e a fusão será gradual, começando pela produção editorial, passando pela produção industrial e por aí vai até chegar ao comercial. “Vamos manter a identidade e vocação de cada uma e juntar a parte que o leitor não vê”, explica Jorge Sallum, proprietário e editor da Hedra. Angel Bojadsen, que já recebeu algumas ofertas pela sua Estação Liberdade mas nunca achou que valia a pena ver seu projeto se perder, finalmente encontrou uma forma de crescer fazendo o que gosta. “Quando você trabalha com um grupo maior você se diverte mais.”
“A Estação Liberdade é uma editora com a qual a gente se afina muito. Com pouco esforço vamos conseguir unir as duas editoras”, comenta Jorge, que ainda espera que esta seja apenas a primeira das associações e já prevê um aumento da produção de sua gráfica com a impressão, sob demanda, de títulos esgotados da Estação Liberdade.
Para Angel Bojadsen, a Estação Liberdade vai ganhar com a agilidade da Hedra em questões de TI e impressão sob demanda. Por outro lado, acredita que seu catálogo internacional será de grande valia à editora de Jorge. “Temos uma janela aberta para o mundo”, disse. Ele acredita que a parceria dará ainda mais dinâmica à aquisição e prospecção de títulos no exterior. Ale´m disso, haverá mais tempo e espaço para ampliar a linha editorial. Angel contou que agora que a estrutura será maior, vai se concentrar em áreas que eram “problemáticas”, como arte, arquitetura e linguística. Tradução de clássicos alemães e italianos e a edição de alguns títulos no tradicional formato de bolso da Hedra também estão nos planos de Angel, que publica, hoje, entre 20 e 30 livros por ano.
O perfil inovador da equipe da Hedra e sua maior familiaridade com relação ao livro digital também foram destacados pelo proprietário da Estação Liberdade, que está batendo a cabeça para conseguir atualizar os cerca de 300 contratos que tem com editoras estrangeiras para publicar em e-book os livros que já lançou em papel.
Angel não prevê alterações no quadro de funcionários nesta primeira fase, mas as áreas de composição de texto e diagramação devem ficar mais enxutas no futuro. O destino físico das duas casas ainda é incerto: “Estamos procurando, com muita calma, algum lugar onde algumas atividades como a administrativa, comercial e estoque fiquem juntas.” Mas muito em breve, porém, os editores das duas devem estar sentados lado a lado.
Para ser mais
Não faz sentido constituir uma linha editorial que fique presa por falta de equipe, disse Angel. “Você dificilmente vai vingar no mercado produzindo dois títulos por mês. É preciso mais do que isso para falar de igual e para conseguir ser atendido diretamente pelo seu cliente”, comentou. Para ele, o número de pequenas livrarias está diminuindo muito e é difícil para uma editora pequena negociar diretamente com as grandes redes. O fato de a Hedra ter canais alternativos de distribuição foi um ponto positivo na decisão.