Algumas coisas digitais neste fim de ano
PublishNews, 09/12/2010
Algumas coisas digitais neste fim de ano

Pensei em algumas coisas digitais para falar nesse começo de fim de ano.

1. A Sainsbury’s, uma das maiores cadeias de supermercados na Grã-Bretanha, anunciou que vai abrir uma loja de downloads digitais antes do Natal. Estão começando com filmes e música, mas planejam expandir para e-books em pouco tempo.

A hipótese com que todos trabalhavam era que a Amazon, Apple e Google seriam os principais nomes na distribuição de e-books. Mas a Barnes & Noble conquistou um pedaço significativo do mercado nos EUA, colocando-os em segundo lugar em vendas atrás da Amazon até o momento. Há rumores de que a B&N vai começar a competir globalmente em pouco tempo; isso faz muito sentido. (Talvez a inclusão de livros em espanhol seja um passo nesta direção.) Sony e Kobo já estão ativas em todo o mundo; a Copia luta para isso e acabou de entrar na competição.

Mas se a Sainsbury’s quer entrar nesse mercado, o mesmo podemos dizer de todos os grandes comércios em todos os cantos do globo. Já tínhamos recebido uma dica de um editor francês que expressava seu desejo fervoroso de que as livrarias locais francesas vendessem também livros em inglês. Seu raciocínio era bem simples. Se a Amazon, Apple e Google vendessem livros em francês assim como em inglês, as livrarias locais não seriam competitivas a não ser que vendessem livros em inglês, bem como em francês.

Há uma tendência, em alguns lugares, a declarar que a guerra do e-book está terminada e que alguém (normalmente a Amazon ou a Apple são os escolhidos) "ganhou". É importante lembrar que os e-books têm ao redor de 10% de penetração nos EUA e menos de 1% em outros lugares (exceto, como veremos abaixo, na China). Muita gente vai competir pelos noventa e alguma coisa porcentagem dos leitores de e-books de 2015, gente que ainda não entrou no mercado.

2. Uma história no China Daily afirma que o mercado de edição digital chinês chega a 12 bilhões de dólares - acima do mercado de livros tradicional. Eu sou um pouco cético sobre esses números já que o mercado editorial norte-americano inteiro (livso escolares, universitários, profissionais e todas as outras coisas que se pode imaginar) só chega a 30 bilhões e o negócio de e-books nos EUA foi recentemente estimado em 1 bilhão de dólares pela Forrester. Que o mercado editorial da China seja 80% ou mais do que o americano e que o negócio da publicação digital seja 12 vezes maior lá do que nos EUA parece algo bem improvável, se não for impossível. Quem sabe quais erros de metodologia ou de conversão de moedas poderia explicar esses números? (Eu não sei.) Mas esse dado do tamanho da indústria digital é um número importante, mesmo se a comparação com os EUA possa não estar correta.

O fato de a China ter ido tão longe no caminho digital abre outra linha de pensamento para mim: como a tradução poderia funcionar no futuro? O Google Translate não entrega uma versão publicável de nada. Mas entrega uma versão inteligível que um bom escritor ou editor pode transformar em algo publicável com bastante rapidez. Quanto tempo vai demorar antes que uma combinação do Google Translate e uma pessoa com ótimos conhecimentos possam entregar uma tradução perfeitamente aceitável de qualquer coisa para alguém com dinheiro suficiente para contratar uma pessoa com ótimos conhecimentos?

(Incluído depois da publicação original deste texto: Alguém comentou no meu blog que os números do China Daily se referem a todo tipo de publicação na China, e não apenas a livros. Isto faz com que as estatísticas apresentadas façam mais sentido. Também significa que o que escrevi nos dois parágrafos acima perca um pouco do sentido, exceto no que se refere à idéia de que o Google Translate somado a um bom editor possa criar uma versão legível de qualquer coisas em qualquer idioma.)

3. Sarah Weinman, que é uma das analistas mais perspicazes das realidades comerciais da editoração digital, acabou de escrever um artigo se perguntando se a iBookstore está realmente funcionando. Ela sugere que a iBookstore está ficando para trás tanto da loja Kindle da Amazon Kindle como da loja da B&N para o Nook de forma considerável. Ela tem dados de um livro em particular para o qual as vendas de e-book foram de 60% na Amazon, 26% na B&N e somente 6% na iBookstore. Quando perguntei a alguns editores como era essa porcentagem há quatro meses, eles colocavam a Amazon perto dos 50% em vez dos 60% e colocavam a B&N e a iBookstore mais perto uma da outra. A iBookstore, que eu chamo de shopping Walden ou B.Dalton dos e-books, sempre foi um quebra-cabeças para mim. Possuem menos títulos que seus competidores: Amazon, B&N e Kobo. Apesar de fazerem um bom trabalho de apresentação de títulos para seus best-sellers, a falta de fôlego é evidente se você fizer algum tipo de procura por assunto ou gênero. Enquanto isso, a posição dura da Amazon (até agora) de resistir ao modelo de agência a não ser para as grandes editoras faz com que seja bastante difícil para as pequenas colocarem livros na iBookstore sem se expor ao perigo de contratos conflitantes e uma espiral negativa de lucro se a Amazon decidir dar desconto nos livros deles. (Duas empresas pequenas me contaram nos últimos dias que estavam por conseguir contratos de agência da Amazon; uma delas se pergunta por que a Amazon passaria a aceitar isto bem agora, uma vez que a estratégia atual parece estar funcionando para manter a iBookstore pouco competitiva em termos de catálogo.)

Por outro lado, foi apontado por outros que a iBookstore deve desenvolver um bom número de clientes internacionais. O iPad vai crescer no exterior mais rápido que o Kindle e a iBookstore da Apple é a única experiência de compra de livros que já vem carregada no iPad.

Não acho que a iBookstore vai desaparecer, mas eu me pergunto se ela chegará a ser uma força significativa na venda de livros, tanto nos EUA como, no longo prazo, em outros lugares, a menos que estejam dispostos a desistir de exigir o modelo de agência para os editores menores. Ou a menos que a Amazon desista de exigir o modelo de distribuidora.

4. A HarperCollins fechou sua ebookstore. Apesar de que poderiam existir vários fatores em jogo, é possível assumir que as vendas não eram tão robustas. Chuto que o problema de pouco tráfego de consumidores vai ser um problema genérico para as editoras de livros de ficção. Só é possível conseguir tráfego como agregador horizontal se você for completo. A iBookstore não consegue fazer isso com uma fração dos títulos que a Amazon e a Barnes & Noble possuem, do mesmo jeito que as próprias editoras.

[08/12/2010 22:00:00]