Uma vítima sem nome, um assassino sem culpa e um crime sem motivo
PublishNews, Redação, 02/12/2010
Michael Cox levou 30 anos para escrever seu livro de estreia – O sentido da noite -, que chega agora ao Brasil

Especialista na literatura britânica do século 19, o inglês Michael Cox passou três décadas imerso em estudos e anotações antes de efetivamente dar início ao processo de escritura de seu primeiro romance. Inspirado por autores como Charles Dickens e Joseph Sheridan Le Fanu, Cox traça em O sentido da noite (Nova Fronteira, 544 pp., R$ 79,90 - Trad. Christina Baum) uma surpreendente e elegante emulação da literatura vitoriana, tanto em temática quanto em estilo: é uma narrativa minuciosa, repleta de mistério e intrigas, que apresenta uma visão soturna da condição humana e tem como cenário uma cinzenta e enevoada Inglaterra logo após o auge da Revolução Industrial.

O livro traz as confissões do erudito Edward Charles Glyver, um homem certo de estar destinado à magnitude, que inicia seu relato revelando que, numa noite fria de 1854, após matar um homem de cabelos ruivos, agarrando-o silenciosamente e cravando-lhe uma faca no pescoço, partiu em direção ao Quinn’s para saborear um prato de ostras. Uma vítima sem nome, um assassino sem culpa, um crime sem motivo ? apenas mais uma etapa dos preparativos para um objetivo maior: a aniquilação de Febo Daunt, o suposto culpado por todos os fracassos acumulados durante a vida de Glyver, da humilhante expulsão da escola à medíocre carreira no ramo da advocacia.

A partir desse assassinato, Edward inicia, numa série de flashbacks e cartas, a montagem do intrincado quebra-cabeça de sua vida ? a infância pobre, a incansável busca por conhecimento, as aventuras amorosas, a amizade com Daunt e o posterior rompimento da relação, ainda nos tempos de colégio. E o passar dos anos só faz aguçar a necessidade de ver seu velho desafeto pagar por todos os pecados passados, presentes e futuros.

Durante esse percurso, no entanto, uma série de outros conflitos e enigmas é trazida à tona. Verdades se acumulam e se contradizem, memórias se contrapõem aos fatos e um rastro de ódio, mentiras e obsessões vai se espalhando. Ao mexer em papéis deixados pela mãe, uma escritora falecida, Edward conclui que a identidade que julgava ser a sua, intocável e autêntica, foi, na realidade, produzida, criada artificialmente para que sua origem jamais fosse descoberta.

Sobre o autor

Michael Cox, nascido em Northamptonshire, Inglaterra, em 1948, graduou-se na Universidade de Cambridge em 1971. É autor da biografia do escritor de histórias sobrenaturais M. R. James e editor dos volumes The Oxford book of english ghost stories e The Oxford book of Vitorian detective stories. Em 2004, como conseqüência de um câncer, começou a perder a visão. Tratou a doença com esteróides, cujos efeitos incluíram uma explosão temporária de energias física e mental. Isso, combinado à idéia de que a cegueira retornaria caso o tratamento não fosse bem-sucedido, fez com que Cox finalmente se debruçasse sobre o romance que planejou durante trinta anos. Sua segunda obra, The glass of time, foi publicada na Inglaterra em setembro de 2008.
[02/12/2010 01:00:00]