Na tradição hindu, Shiva possui dois aspectos: é o destruidor, mas também o criador, pois destrói para construir o novo. Arquétipo da totalidade, portador do bem e do mal, ao dançar Shiva destrói o Universo, que simultaneamente renasce. Em A dança de Shiva (Ateliê Editorial, 88 pp., R$ 25), o médico radiologista e escritor Ricardo Pires de Souza esboça uma cosmogonia que tenta apreender os movimentos do Universo na perpétua convivência entre nascimento e morte, individual e coletivo, luz e trevas.
Com sensibilidade e imagens poderosas, aspereza e delicadeza, entre o banal e o espantoso, Pires de Souza se debruça sobre o mistério da morte e do renascimento. “Reescrevo o Gênesis e também o I Ching, o Bhagavad Gita, o Avesta, as Upanishads e o Livro de Dzyan, Meu mundo de sonhos que tudo contém, e tudo permite. Desobrigo os cristãos de serem somente cristãos, podem ser espíritas, espiritualistas, seguidores da Cabala ou do Daime, podem ser umbandistas. E recolho os fragmentos radioativos de Hiroshima e Nagasaki, recrio Chernobyl, distribuo césio, jogo aviões em arranha-céus e bombas em escolas infantis. Reconstruo as bibliotecas do mundo.”
Nesta singular jornada poética, além das referências ao hinduísmo, o poeta também dialoga com Homero, Fernando Pessoa e García Lorca para fazer dançar a palavra e encontrar o mito.
A sessão de autógrafos acontece hoje (2), às 19h, na Livraria da Vila – Lorena (Al. Lorena, 1731 - Jardins – São Paulo/SP. Tel.: 11-3062-1063).