Outra comparação de royalties
PublishNews, 15/09/2010
Mike Shatzkin retoma as contas dos direitos autorais na coluna desta semana

Meu último post tentou fazer uma comparação entre os royalties pagos pelas grandes editoras para e-books e para livros impressos. Demonstramos que o autor sofre um pouco nas vendas do e-book quando esta substitui a venda de livros hardcover, mas eles saem ganhando no caso do e-book substituir o paperback. E os números também mostraram que uma editora vendendo e-books no modelo de varejo paga ao autor mais royalties do que quando vende no modelo de agência, se for livro hardcover, mas se for uma edição em formato mass-market paperback a editora paga mais royalties no modelo de agência.

Mas essa comparação tem limites. Ela ajuda o autor ou o agente a comparar as perspectivas econômicas entre o modelo de agência e o modelo de varejo. Mas não ajuda o autor a entender outra comparação que vai querer fazer: publicar um livro com uma editora e fazer isso sozinho sem ajuda de editora alguma.

Felizmente para autores e agentes, a referência em vendas de publicações independentes está claramente estabelecida pela plataforma Smashwords. Certamente há alternativas ao Smashwords: soluções web-based como Scribd, ofertas full services como nossos clientes da Bookmasters, e opções que são um meio termo entre esses, como o Author Solutions. Mas a Smashwords é a mais automatizada, menos cara e, hoje em dia, mais usada em soluções para a publicação independente de e-books.

A Samshwords paga aos autores 85% do preço de venda dos e-books vendidos no próprio site, e aproximadamente 85% da receita líquida das vendas feitas através de iBook (Apple), Sony, B&N, Kobo, e Diesel eBook Store. Em outras palavras, um autor ganharia três vezes mais do que o “velho” padrão de 25% de royalties de e-book oferecido pelas grandes editoras e o dobro da “nova” possibilidade de 40% de royalties sugerida como novo teto pelo acordo entre a Random House e a Wylie Agency alguns dias atrás.

Vale a pena lembrar que segundo Mark Coker, da Smashwords, todos os seus acordos daqui para a frente serão no modelo de agência porque o controle do preço de venda é muito importante para seus autores e editores. Atualmente, as vendas dos autores e editores da Smashwords são de 42,5% através da Sony ou B&N, 46,75% através da Kobo e 60% através dos acordos com a Apple e a Diesel eBook Store.

E apesar da Smashwords (ainda) não ter um acordo de distribuição com o Kindle (mas estão trabalhando nisso), os autores e editores que usam a Smashwords estariam livres para fazer acordos em separado com a Amazon (Kindle), o que lhes dá a possibilidade de ficar com 70% do preço de venda se conseguirem manter os acordos atuais (com B&N, Kobo e Sony).

Um fator muito favorável à Smashwords é que as dificuldades para o seu uso são muito pequenas. Tudo o que você precisa é de um arquivo doc e uma pessoa atenta para cuidar da qualidade enquanto você trabalha na conversão. Eles simplificam o gerenciamento de metadados.

O que pode impedir que os grandes autores usem a Smashwords é que eles distribuem sem DRM (apesar de que os revendedores citados acima vão adicionar os seus próprios DRMs, a menos que os editores não o queiram) e então trabalham na base da confiança. Cada revendedor vendendo títulos da Smashwords tem em mãos o arquivo de conteúdo e o de metadados, e o relatório de vendas não pode ser efetivamente auditado.

Mas seja ou não a Smashwords a solução para todos, eles certamente estão estabelecendo que a simples automação da conversão de e-book e o serviço de distribuição valem 15% de tudo o que é arrecadado do consumidor ou do intermediário. A Smashwords já é bem grande e está crescendo rapidamente. Eles oferecem 18 mil títulos de 8 mil diferentes autores e editoras no momento, e Coker diz que adicionaram 2.500 títulos nos últimos 30 dias!

E garanto pessoalmente que a Smashwords tem livros que as pessoas vão querer. Achei um título no formato iBook chamado A Year in Midville sobre a primeira temporada dos Mets – uma história do beisebol que eu domino e sobre a qual já li bastante – que é extraordinária. É muito bem pesquisada, bem escrita e bem editada. Encontrei algumas falhas na apresentação (os tipos de fonte mudavam sem razão aparente) e as mostrei para Coker. Ele as mostrou ao autor que então corrigiu o arquivo (essas falhas não interferiram em absoluto na leitura do livro). E esse livro custava US$ 8,99 na iBookstore, o que significa que o autor ganhava $5,40 por venda! Veja no quadro do post anterior... Num e-book custando US$ 9, com um royalty de 25%, o autor ganharia US$ 1,125 na venda no modelo de varejo e US$ 1,575 no modelo de agência. Com um royalty de 40%, ganharia US$1,80 e US$2,52, respectivamente (E presumindo que eles tenham feito um acordo em separado com a Amazon e estejam enfrentando restrições aos 70% de royalty, o autor estaria ganhando US$ 6,30 por cada venda no Kindle!).

Com as vendas unitárias de e-books representando de 2,5 a 6 vezes o que eles conseguem em uma editora, e com essas vendas aumentando e tomando uma boa porcentagem do total das vendas, os autores e seus agentes vão fazer essas contas para cada novo livro. Alguns talvez até já estejam fazendo isso.

Aqui estão algumas coisas que as editoras podem dizer aos autores para evitar a debandada.

1. “Não se esqueça: nós pagamos um adiantamento!” Esse é o primeiro, e para muitos autores, o argumento mais poderoso. Agentes gostam de adiantamentos também, então eles serão simpáticos às editoras nesse ponto. Mas, claro, com esse adiantamento vem a reivindicação da editora de mais da metade do que seria o rendimento do autor com e-book.

2. “Não se esqueça: livros impressos ainda são 90% do seu mercado!” Essa é realmente a razão para que autores bem estabelecidos ainda relutem em debandar para Smashwords. Enquanto o impresso é 90%, ou mesmo 80% (e está chegando a esse nível para muitos livros), ganhar muito mais com e-books ainda deixa déficits nos rendimentos do autor, a menos que encontrem uma maneira de também ter o livro impresso disponível. As grandes editoras não farão acordos só para livros impressos por algum tempo, mas editoras menores certamente estarão dispostas a trabalhar com autores de renome dessa forma. E quando as vendas dos livros impressos representarem 50% do total das vendas, o que muitos de nós acreditamos que vai acontecer nos próximos anos, esse argumento não terá mais efeito (Há muitas maneiras do autor publicar de forma independente também o livro impresso, mas somente a impressão sob demanda não requer grandes investimentos ou riscos, e você não vai conseguir a mesma coisa que uma editora pode produzir, usando a impressão sob demanda).

3. “Você terá de fazer sua própria publicidade e marketing.” Isso é verdade; mas é também verdade que as editoras querem autores que já façam muito da sua própria publicidade. Daqui pra frente, parece que os esforços de marketing do autor serão críticos de qualquer forma. Se o autor já for grande e de renome (provavelmente em parte devido aos esforços anteriores de marketing do próprio editor, mas isso não é necessariamente relevante aqui), isso é uma barreira a menos – se é que pode ser considerado uma. Pode não ser barreira alguma. Esse é um ponto desconfortável para as editoras porque os autores que precisam de menos ajuda são aqueles que elas mais querem.

4. “Se nós publicarmos, você será legitimado.” Eu acho que esse ponto é quase totalmente irrelevante em relação ao autor que já publicou um best-seller ou que já teve alguns livros publicados por editoras renomadas. Eu acho que esse ponto será cada vez menos relevante para todos. Acabei de achar meu primeiro ótimo livro de um autor desconhecido no Smashwords. Cedo ou tarde, você vai achar também.

5. “Nós formamos listas de e-mails e outros contatos diretos com os consumidores para quem você quer vender. E mais: temos relações com vendedores de livros para colocar o seu livro em destaque e fazer promoções com eles, que você não vai conseguir sem nossa ajuda.” Agora, isso poderia ser atraente. Alguma grande editora pode justificar essa reivindicação?

6. “Nós pagaremos 70% dos rendimentos com e-books para você ser nosso exclusivo. Não são os 85% que você ganha na Smashwords, mas com o nosso adiantamento, nossa venda em livros impressos, e tirando de você toda a administração e gerenciamento, é o melhor acordo que pode conseguir.” Isso provavelmente vai funcionar, mas nenhuma editora quer deixar as coisas chegarem nesse ponto.

As editoras se dão melhor com o item cinco!

[14/09/2010 21:00:00]