Pioneira no ensino da alta gastronomia ganha livro
PublishNews, Redação, 05/08/2010
Durante 20 anos, Jacira Camasmie se dedicou à arte culinária, realizando cursos para a alta sociedade paulistana

Uma vida dedicada à arte gastronômica e à arte de receber e mais de cinco mil receitas testadas e catalogadas. Este é o legado de Jacira Camasmie (1916-2004) transformado por seus filhos - a empresária Daisy Camasmie e o artista plástico Roberto Camasmie - em um livro que, além das cerca de 150 receitas selecionadas, traça um panorama da culinária e do comportamento do século XX, com seus modismos, estrangeirismos, influências e elegância.

Receitas de Vida - A Arte Culinária de Jacira Camasmie (Jaboticaba, 172 pp., R$ 77) tem texto da jornalista Helô Machado, que passeia descontraidamente pela vida de Jacira, desde a chegada dos seus pais libaneses ao Brasil, o seu nascimento em Capivari, sua infância e juventude, seu casamento, os cursos de culinária que frequentou e os inúmeros que ministrou na cozinha do seu apartamento. O lançamento será no dia 10 de agosto, na Livraria da Vila (Al. Lorena, 1731 – Jardins – São Paulo/SP).

Ensinando deliciais salgadas e doces, daqui e do exterior, pratos simples e sofisticados, receitas guardadas a chave, recolhidas de pessoas da família, de professoras de cozinha conhecidas ou de famosos chefs internacionais, Jacira Camasmie é considerada pelos especialistas da área um marco na alta gastronomia do país.

Além do célebre marrom, trazido por ela para o país, a antologia de receitas da Jacira traz também cardápios especiais para a Páscoa e para o Natal e um capítulo especial que ensina a magia de transformar a mesa em galeria de arte, com orquídeas feitas de nabo e flores criadas a partir de caramelo e chocolate.

Assim como a norte-americana Julia Child (1912 - 2004), retratada no filme “Julia&Julie”, Jacira se tornou professora de culinária por acaso. Jaime Camasmie, seu marido, faleceu em 1970 de um enfarto fulminante, causando uma crise financeira na família. Logo depois, Roberto, que estava começando sua carreira como pintor recebeu no apartamento onde morava com a mãe e a irmã a repórter Míriam Schiavetto, do Suplemento Feminino do jornal O Estado de S.Paulo, para uma entrevista. Atenciosa, sua mãe serviu uma porção de marrom glacê à jornalista, que logo quis saber de onde era aquela delícia. Jacira confessou que havia feito o doce naquela manhã.

Míriam perguntou se Jacira não tinha interesse em ministrar um curso que ensinasse aquela iguaria. “A primeira reação da mamãe foi dizer não”, lembra Roberto, mas eu fui logo falando que ela daria uma aula em breve para ensinar a fazer o doce. Ela não queria de jeito nenhum, mas insisti e ela topou?.

Foi assim, por acaso, que Jacira iniciou uma atividade rendosa e trabalhosa, que a tornou tão conhecida. Atraídas pela nota publicada no Suplemento Feminino, cerca de 70 alunas formaram a primeira turma dos seus cursos, realizados durante 20 anos.

Os filhos também tinham uma função nas aulas de Jacira: Daisy acompanhava a mãe nas compras, recebia as alunas e entregava as apostilas com as explicações das receitas, datilografadas e mimeografadas por Raul, o filho mais velho de Jacira, já casado nesta época.

Roberto, o filho-artista, cuidava da apresentação dos pratos dados em aula, que apareciam no final para as alunas degustarem. Fazia também os desenhos em nanquim dos pratos nas apostilas. São estes desenhos que ilustram hoje as receitas do livro.

Sem saber e graças a sua criatividade, Jacira introduziu nas suas aulas ações de marketing e merchandising. Para melhorar seu trabalho, Jacira enviou cartas para diversas empresas, como a Brastemp, para conseguir produtos de utilidade doméstica. Desta forma, fogão, geladeira, freezer, batedeira, liquidificador, máquina de lavar prato tinham suas qualidades ressaltadas em suas aulas.

Jacira procurou algumas marcas de produtos alimentícios, que utilizava em suas aulas. O resultado foi surpreendente. Várias empresas invadiram o seu apartamento. Refinações de Milho Brasil, Royal, Nestlé, Leite Paulista, Maizena, Açúcar União, entre outras entravam nas receitas da professora e na casa das alunas de Jacira. Um verdadeiro golpe de mestre!

Marrom glacê original da confeitaria Fauchon de Paris

Ingredientes

2 kg de castanhas portuguesas grandes

2 kg de açúcar

1 favo de baunilha

Gazes quadradas de 12 x 12 cm

Fondant

500 g de açúcar de confeiteiro

1 ¼ xícara (café) de água

Modo de fazer

Descascar as castanhas, pelá-las, de quatro em quatro, em água fervendo, tendo o cuidado de não deixar cozinhá-las. Reservá-las em água morna. Depois, colocá-las, de duas em duas, num boneco de gaze, dar uma laçada com linha grossa, mergulhando os saquinhos em água morna, cobertos quatro dedos acima, num caldeirão. Levar ao fogo para cozinhar por cerca de 1 ½ hora. Adicionar o açúcar e o favo de baunilha, rachado ao meio. Cozinhar por mais ½ hora. Desligar o fogo. Aguardar o dia seguinte.

No segundo e terceiro dias, levar ao fogo brando (duas vezes ao dia: de manhã e à tarde), e, quando começar a ferver, marcar 15 minutos, conservando o caldeirão tampado durante a fervura. Deixar esfriar e pôr o caldeirão na geladeira até o dia seguinte.

Passados os três dias, retirar as castanhas da gaze, cortando a linha com cuidado para não quebrá-las. Dispô-las em vidros próprios para conservas, com um pedaço do favo de baunilha, deixando uma folga até a borda para caber a calda peneirada. Fechar bem e colocar os vidros em banho-maria para conservar.

Quando quiser servir como bombons, deixar escorrer a calda até ficarem bem enxutas e passá-las por fondant, embrulhá-las com papel manteiga e por cima com papel prateado.

Fondant - Modo de fazer

Numa panela, levar ao fogo todos os ingredientes em banhomaria. Quando o açúcar derreter e formar uma nata em cima, passar as castanhas, uma a uma, e colocar em assadeira untada de manteiga.
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