Coleção Aplauso lança mais um título da série música
PublishNews, Redação, 30/07/2010
Livro é dedicado ao maestro Diogo Pacheco e foi escrito por Alfredo Sternheim

Em uma atitude corajosa para a época, Diogo Pacheco levou Elizeth Cardoso para cantar Villa-Lobos no Teatro Municipal de São Paulo, em 1964. A desconfiança demonstrada por pessoas da área não foi suficiente para demovê-lo da idéia e impedir o estrondoso sucesso de público. Essa obstinação pela popularização da cultura e a perfeição dos sons e tons em todos os detalhes fez dele um dos mais conhecidos e premiados maestros brasileiros.

Essa e outras histórias estão em Diogo Pacheco – Um maestro para todos (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 184 pp., R$ 30), novo título da série Música da Coleção Aplauso. O lançamento, com palestra do maestro e autógrafos ao lado do autor Alfredo Sternheim, acontece amanhã (31), às 14h30, na livraria da Imprensa Oficial no Festival de Inverno de Campos do Jordão (Rua Engenheiro Diogo de Carvalho, 190 – Capivari – Campos do Jordão/SP).

A publicação, em primeira pessoa, é resultado de diversos encontros entre Pacheco e Alfredo Sternheim, e tem belas fotos pessoais, de concertos que regeu e de peças teatrais que musicou. São muitas passagens curiosas e histórias deliciosas que o maestro conta ao longo do livro, como a cena inesquecível em Presidente Prudente, num estádio com mais de dez mil pessoas que pela primeira vez assistiam a uma apresentação de orquestra sinfônica. Quando entrou em cena, ouviu gargalhadas, achou até que a calça estivesse rasgada. Os risos prosseguiam, misturados a vaias. Ele resolveu agir: “Peguei o microfone e dei um berro. ‘Vocês estão acostumados à música popular, que permite mexer com seu corpo, seus gritos. Mas agora, vou tocar uma música que mexe com a sensibilidade de vocês e tem que ser ouvida com respeito. Se ficarem quietinhos, vocês vão dar espaço para que essa música entre em vocês. Portanto, silêncio’. Nunca, nem no Municipal, ouvi um silêncio tão sepulcral como aquele”.

Diogo Pacheco nasceu em 1925, no bairro do Belenzinho, em São Paulo, o caçula de dez irmãos. Bem humorado, guarda até hoje a mágoa a de crescer sem pai, morto em um desastre de carro Diogo tinha apenas quatro meses de idade. O gosto pela música começou ainda criança, com seu irmão Armando de Assis Pacheco, mais conhecido como Assis Pacheco e considerado por muitos como o maior tenor brasileiro de todos os tempos.Ainda adolescente, Diogo substituiu seu irmão no primeiro Coral Paulistano, no Theatro Municipal. Ali conheceu sua primeira mulher, Maria José de Carvalho, sete anos mais velha. Ela era professora de dicção e interpretação da Escola de Arte Dramática e crítica de teatro do jornal O Tempo. Por seu intermédio, ele tornou-se crítico de música do jornal.

Mais tarde, em 1959, o maestro Eleazar de Carvalho conseguiu uma bolsa para Diogo estudar nos Estados Unidos. A ironia é que pouco tempo antes, Diogo tinha vaiado Eleazar em um concerto no Teatro de Cultura Artística, em São Paulo. “Eu era muito pernóstico e, descontente, comecei a vaiar. Fui expulso do teatro”. E prossegue: “Hoje, me arrependo do meu gesto. Mas ele mostrou uma incrível grandeza. Mesmo sabendo da vaia, me arrumou a bolsa de estudos para os Estados Unidos”.

Sua carreira decolou. De volta ao Brasil, foi convidado pelo próprio Eleazar para ser seu assistente na Orquestra Sinfônica do Estado, cargo que ocupou durante mais de dez anos. Entre as pessoas com quem dividiu o palco ao longo da carreira estão Magdalena Tagliaferro, Gilberto Tinetti, João Carlos Martins, Paulo Autran, Raul Cortez, Lima Duarte e Elizeth Cardoso.

Diogo lembra de comerciais e programas de rádio e televisão de que participou, viagens que fez a trabalho, a luta pela difusão da música clássica e sua paixão pela atual esposa, com quem está há mais de 25 anos, e pelo filho. Uma das partes do livro é a transcrição, editada, de uma conferência que o maestro fez em 2009 sobre a arte de reger. Também há depoimentos de pessoas que convivem e conviveram com Diogo, como a atriz Eva Wilma, as cantoras líricas Céline Imbert e Rosana Lamosa, o pianista Gilberto Tinetti, o regente Sergei Carvalho, o pesquisador Sergio Casoy, o publicitário Roberto Duailibi e o diretor de televisão Fernando Gueiros. No final da obra há parte da cronologia de sua longacarreira e a lista de prêmios que recebeu.

Sobre o autor

Alfredo Sternheim é jornalista, crítico de cinema e cineasta. Escreveu, para a Coleção Aplauso, as biografias de Luiz Carlos Lacerda, Máximo Barro, Arllete Montenegro, David Cardoso e Suely Franco, além de Cinema da Boca - Dicionário de Diretores e sua própria biografia. “Foi um prazer, uma honra ser o portador do relato biográfico de Diogo Pacheco. Sempre de bem com a vida, em vários encontros na sua residência, ele contou, de forma às vezes brejeira, a sua impressionante e brilhante trajetória, evitando descrever ressentimentos e desafetos, mas acentuando o sentimento da gratidão. E apontando também com humildade os seus equívocos”.
[30/07/2010 00:00:00]