Corredores amplos, visitantes silenciosos e música de criança... na área de criança. Livros de futebol e do Chico Xavier em quase todas as vitrines. Bons descontos nos estandes das editoras, livrarias e distribuidoras e conversa tranquila no Café Filosófico e na Arena Jovem. Muita criança na sexta querendo gastar o vale de R$ 4 dado pela Secretaria de Estado de Educação. Muita criança no sábado tentando escolher só um (porque assim os pais orientavam) entre tantos títulos. Gente comprando. Foram assim os dois primeiros dias da Bienal do Livro de Minas que chega agora a sua segunda edição 50% maior que a primeira.
A presença de grandes editoras como Companhia das Letras, Zahar, Objetiva, Record, Sextante e Intrínseca, que participam pela primeira vez com estande próprio, também é um termômetro de que as coisas vão indo bem na capital mineira.
José de Alencar Mayrink, presidente da Câmara Mineira do Livro, está animado com o crescimento do interesse do público. A Bienal é cria do Salão do Livro, realizado por oito anos e visitado na última edição por 125 mil pessoas. Logo depois, na primeira Bienal, esse número saltou para 225 mil (eram esperados 160 mil). Em 2010 a expectativa é de que passem por lá, até o dia 23 de maio, mais de 250 mil pessoas, das quais 42 mil são estudantes
Tudo é feito com muita calma na Bienal do Livro de Minas. As sessões do Café Literário duram cerca de duas horas; tempo suficiente para ouvir a opinião dos escritores – são no máximo três por vez -, comentar, perguntar, não concordar com a resposta, ouvir o autor tentando se explicar e por aí vai.
A ideia da curadora Guiomar de Grammont é tornar o público o mais participante possível. “É arriscado, mas o resultado pode ser surpreendente. E quanto mais participam, mais dinâmica a sessão é. No fim, saem com a sensação de que tiveram um bom momento e vão querer voltar.” E voltam mesmo. Enquanto participavam do bate-papo entre Frei Betto e Angela Lago, duas senhoras já faziam a seleção do que mais queriam ver durante a semana.
Para a curadora, aproximar as pessoas dos livros nem sempre é feito pelo contato com o escritor em si. Isso pode acontecer também levando artistas ou outras personalidades. “As pessoas vêm para ver um ator de novela e acabam se interessando por um livro e comprando”, comenta.
Nesta edição, ela escalou o ator Max Fercondini para uma conversa sobre o tema “Redes sociais: presente absoluto e vida na vitrine?” com o jornalista da TV Futura e autor de livros infanto-juvenis, João Alegria, na Arena Jovem, no sábado à tarde. Curioso que o ator não é adepto ao uso das redes sociais para um contato mais próximo com os fãs. Rendeu conversa, os adolescentes participaram, mas o que marcou mesmo foi o flash das máquinas das meninas. E a ausência de Marcelino Freire, que participaria no lugar do ator.
E por falar em ausências e presenças, os mineiros compareceram em peso. Frei Betto, Angela Lago, Humberto Werneck, Ruy Castro, Carlos Herculado e o músico Fernando Brand foram alguns dos que conversaram com os visitantes. Todos eles partiparam do Café Literário.
Outros espaços
Além de poder escolher entre os vários livros de futebol (a editora Leitura se destacava), os apaixonados pelo esporte tiveram um ponto de encontro criado especialmente para esta edição da feira – a Goleada Literária, um dos espaços mais concorridos e polêmicos, já que se tratava do assunto que todo mundo gosta de dar pitaco. Para conversar com o público, foram convidados Milton Leite, Rogério Corrêa, Márcio Rezende Freitas e outros
A Arena Jovem e a Goleada Literária entraram pela primeira vez na programação da Bienal. Outras novidades deste ano foram a criação da Arena Poética, para leitura de poesia, e do Circo das Letras, com alguma contação de história, mas muito mais brincadeiras para entreter a criançada e também seus pais. O confortável Café Literário foi ampliado e neste ano os visitantes puderam comprar os ingressos pela internet.
Descontos
Os descontos eram bons e ficavam entre 20% e 50%. Uma estudante de música estava impressionada com o preço do Harmonia, de Arnald Schoenberg, no estande da Editora Unesp. A obra estava custando R$ 62 e dias antes ela havia encontrado um exemplar em um sebo da cidade por R$ 78. Na UFMG, bancas com títulos 50% mais baratos, alguns a R$ 10 e o restante com 20%. Na Federação Espírita, o desconto dado era de 30%. Na Unicamp, 20%. A PUC Minas oferecia entre 20% e 50%, mas alguns títulos eram encontrados por R$ 3. A Sextante e a Intrínseca também entraram na onda da promoção, exceto para os lançamentos. Lá, os descontos variavam entre 20% e 50% e o livro mais comprado pelo brasileiro, A cabana, estava valendo R$ 19,90.
É de pequenino...
A Bienal não estava cheia nesses dois primeiros dias, o que permitiu que famílias andassem tranquilamente pela feira e aproveitassem todos os espaços. A presença e participação nos debates também foi grande e volta e meia se ouvia aqui e ali, como no estande da FTD, uma historinha sendo contada. Os escritores mineiros compareceram em peso e alguns vendedores comemoravam as boas vendas. Um deles, de uma editora de livros infantis, conseguiu vender R$ 450 para um único homem (acompanhado de seus filhos, claro).
“É fundamental trazer as crianças para começar cedo a ensinar o prazer da leitura”, disse a professora Vera Lucia que estava tendo problemas com o filho mais novo, indeciso quanto ao livro que levaria para casa. “Não dá para escolher, é muito livro”, bravejava. A irmã de Ivan Luca, Marina, de 11 anos, estava mais segura de sua escolha. “Dá vontade de levar tudo, mas gostei muito de Coração de tinta, de Cornelia Funke (Companhia das Letras). O livro não era pequeno e parecia que a menina queria mesmo se manter ocupada por um bom tempo. “Já li quase todos os livros da biblioteca da minha escola”, contou. A mãe disse que as crianças gostam muito de ir à Bienal e sempre que ela fica sabendo de eventos como esse faz questão de que a família participe. “Mas vou ter que voltar... É uma vez para eles e outra para mim”.
O mercado também teve o seu espaço. Na sexta-feira à tarde, editores assistiram à apresentação de Sônia Schwartz, coordenadora-geral dos Programas do Livro do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que falou sobre o funcionamento, o cronograma, os editais e os projetos relacionados aos programas governamentais de compra de livro.
Além disso, a Câmara Brasileira do Livro, o Instituto Pró-Livro e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo apresentaram o resultado da pesquisa sobre a percepção do brasileiro quanto ao livro digital.
A Bienal em números
Entre os dias 14 e 23 de maio, serão 86 atividades culturais com a participação de mais de 90 autores, entre os quais Frei Betto, Angela Lago, Luis Ruffato, Alberto Mussa, Menalton Braff, Ruy Castro, Arthur Dapieve, Leticia Wierszchovski, Zuenir e Mauro Ventura, Manoela Sawitsky, Francisco Bosco, Max Mallman, Adriana Lunardi, Tatiana Salem Levy, Fabrício Carpinejar e muitos outros.
Nesta edição, a Bienal do Livro está ocupando três pavilhões do Expominas, representando um crescimento de 50% em relação a 2008. São 170 expositores.
A estimativa de público é de 250 mil visitantes (10% a mais do que na edição anterior) e o investimento chega a R$ 3,6 milhões, 25% maior que na primeira.
A organização é da Câmara Mineira do Livro e da Fagga Eventos.
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