Mais uma livraria se prepara para fechar as portas. Desde a semana passada, a Dona Laura vê seu acervo indo embora no saldão que vem realizando e nos acertos com as editoras. “Viver cercado de livros é um sonho, mas o mercado não é para principiantes. Talvez o nosso maior erro tenha sido a ingenuidade... acreditar que ainda havia poesia nesse meio”, lamenta Philippe Machado, que tocava a livraria sozinho desde o fim do ano. No início, em março de 2007, eram quatro sócios – nenhum com experiência no ramo.
A Dona Laura fica na Casa de Cultura Laura Alvim, bem em frente à praia de Ipanema, no Rio, e tinha entre seus clientes os frequentadores do cinema, do teatro e do museu, além dos vizinhos do bairro. É dessas livrarias pequenas e charmosas, o sonho de aposentaria de todo mundo que gosta de livro e que um dia pensou em ter seu próprio negócio. Fecha no dia 30 e vai deixar saudade.
De acordo com Philippe, o mercado de uma pequena livraria ficou muito difícil. “O livreiro não tem poder de negociação com a editora e por outro lado o leitor quer sempre pagar menos pelo livro”. Ele lembra que as grandes livrarias conseguem preços e condições de pagamento que permitem seduzir o cliente. Além de terem, claro, espaços para café, restaurante e área adequada para lançamentos.
Apesar disso, o futuro ex-livreiro acredita que essas grandes lojas ajudam a educar porque convidam as pessoas a saírem de casa para passear na livraria. E lá acabam folheando um livro, lendo a contracapa e comprando. “O grande vilão desse mercado é a livraria virtual e o site de editoras que fazem venda direta; e contra esses a luta é pra perder”, diz.
O fato de a livraria estar dentro de um Centro Cultural tem pontos positivos e negativos. Se por um lado os frequentadores são consumidores de cultura, por outro, as pessoas se repetem, são vizinhos do espaço, alunos dos cursos. Outro fator que dificultou o negócio foi o tamanho da livraria. “Os 20m² sempre foram insuficientes, principalmente para ações de marketing e eventos”, explica.
Philippe deixa um recado às pequenas editoras: “Dediquem-se às pequenas livrarias porque uma pode ajudar a salvar a outra”. Se mais lançamentos fossem feitos em pequenos espaços e se os descontos fossem os mesmos, o mercado seria mais competitivo, avalia.