Ao se deparar com Sopro de vitrines (Alameda, 78 pp., R$ 20), de Rosana Piccolo, o leitor terá diante de si dois polos para o exercício de pensar a poesia: um de deslocamento, que se propõe a refletir e a mover o mundo; outro de deleite, que se propõe a apaziguá-lo. Vivemos o tempo das catracas, das portas giratórias, dos detentores de metais, dos raios X, das grades, dos vidros blindados, dos muros. Em seu novo livro, Rosana se propõe a ver essa cidade através das vitrines. A vitrine, mais um tipo de barreira, é por excelência o local de exposição de mercadorias, um dos símbolos mais emblemáticos da contemporaneidade, uma vez que, na sociedade de consumo, é aquilo que determina a clivagem social, ou seja, separa aqueles que podem ter acesso aos bens daqueles que gostariam, mas estão impedidos.