Mulheres jornalistas
PublishNews, Redação, 08/03/2010
Bastidores da “invasão” feminina do jornalismo pode ser conferido em livro

Há pouco mais de cinco décadas algumas profissionais iniciaram uma escalada que mudaria o perfil do jornalismo brasileiro, enfrentando preconceitos dentro e fora das redações até então dominada pelos homens. Já nos anos 70, a participação feminina na imprensa ganhou novo impulso - vieram os primeiros cargos de chefia até a transformação do jornalismo em profissão híbrida, onde as mulheres já ocupam perto de 50% dos postos.

Aracy Amaral, Alik Kostakis, Maria Lucia Fragata, Cecília Prada, Carmem da Silva, Edy Lima, Patrícia Galvão (a famosa Pagu), Cecília Thompson e mais recentemente Nair Suzuki, Regina Guerreiro e Rose Nogueira integram este time agora registrado em Mulheres jornalistas - A grande invasão (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Fundação Cásper Líbero, 360 pp., R$ 45).

Produzida por Regina Helena de Paiva Ramos, a obra traça um retrato da imprensa, sobretudo paulista, nessas seis décadas, e traz depoimentos de cerca de 70 jornalistas. Nesta segunda-feira, Dia Internacional da Mulher, o livro será lançado no Teatro Gazeta (Av. Paulista, 900. São Paulo/SP) às 19h.

O livro tem também uma cronologia com a história das publicações femininas e as primeiras mulheres que trabalharam na profissão. Revela ainda alguns dados que mostram uma abissal diferença entre a quantidade de homens e mulheres nas redações há algumas décadas: nos anos 40, eram cerca de 10 ou 15 mulheres; nos anos 50, eram entre 20 e 30; só na década de 1960 esse número começou a aumentar, e os primeiros cargos de chefia para elas surgiram, fora das chamadas páginas femininas.

A idéia do livro nasceu no início dos anos 2000, quando Regina ouviu pelo rádio do carro uma jovem e ofegante repórter narrar uma manifestação. Naquele momento, pensei o quanto aquela menina era corajosa, como esse pessoal de hoje não tem medo de nada. Imagine isso no meu tempo, na década de 1950, quando poucas mulheres faziam isso. Eu tinha de contar essas histórias, ouvir as mulheres que abriram o caminho.

A autora lembra também como foi a sua primeira cobertura de manifestação: “Era começo dos anos 50, eu trabalhava em O Tempo, e o chefe de reportagem queria que eu me desse mal. Ele me mandou cobrir uma manifestação na Praça da Sé, onde estava acontecendo um grande quebra-quebra. Fomos eu, o fotógrafo e o motorista do jornal. No meio da confusão, com balas sendo disparadas para todos os lados, me escondi num bar. Quando acabou o corre-corre, voltei para a praça. E nada de achar o fotógrafo e o carro. Voltei a pé para o jornal, que ficava no Bairro da Luz, morrendo de medo que meu chefe, Hermínio Sacchetta, me desse uma bronca por ter me perdido da equipe. Quando cheguei, ele estava preocupado, colocou a mão na minha cabeça e perguntou se eu estava bem. E falou para eu ir para casa, descansar. Não aceitei, resolvi ficar e fazer a matéria. No dia seguinte, saiu a minha primeira manchete no jornal.”

Regina quase desistiu de escrever o livro no meio do caminho pela dificuldade em localizar e conversar com algumas homenageadas e pela morte de outras. O resultado final prova que a insistência valeu a pena, pois trata-se de um valioso documento histórico, que ajuda a entender um pouco do desenvolvimento da profissão no País.

[08/03/2010 00:00:00]