O Canadá tem uma população estimada em 32 milhões de habitantes. O Brasil, 192 milhões. O Canadá exporta livros para países de língua inglesa e francesa (as importações, no entanto, são maiores) e para alguns países como Japão, China e Índia. Mas eles não conseguem entrar no mercado sul-americano e nem no africano por problemas de distribuição. Tentando reverter isso, e pensando no potencial de um país tão populoso, uma comitiva de editores canadenses está no Brasil justamente para ver como funciona o nosso mercado editorial – e tentar entrar nele.
Ontem, representantes de 12 editoras brasileiras se reuniram na CBL para ouvir Philip Cercone (McGill-Queen’s University Press), Margie Wolfe (Second Story Press), Michel Maillé (Les Éditions Fides Inc) e Christy Doucet (Associação para exportação de livros canadenses). “Eles querem vender e nós queremos vender. Mas não vai ser por isso que não veremos o que eles têm para mostrar e vice-versa. O melhor mesmo é o fortalecimento do contato’’, disse Dolores Manzano, gerente de Projetos CBL-Apex. Margie Wolfe se disse invejosa dos programas de compra de livro do governo brasileiro e das políticas de venda door-to-door. “Não temos nada parecido lá”, lamentou
O interesse do Canadá pelo Brasil tem crescido, disse a gerente de programas da Associação para exportação de livros canadenses, Christy Doucet. “Estamos aqui para conhecer o mercado editorial”, reafirmou. Ela disse que o número de países para onde os livros canadenses são exportados dobrou nos últimos dez anos e que o Brasil está na mira.
Philip Cercone, editor da McGill-Queen’s University e presidente da Associação para exportação de livros canadenses, fez questão de dizer que antes de qualquer livro começar a ser editado, especialistas revisam e enviam uma lista de correções para o autor. Ele disse que sozinha uma editora universitária não chega muito longe, com exceção da Oxford e Cambridge. “Dez editoras universitárias juntas são tão grandes quanto a Oxford. E só assim conseguem vender para mais lugares”. E para chegar ao Japão, Índia e China, só se for a reunião de 57 editoras, como já aconteceu.
Atento às novas tendências, Cercone disse que lá o livro já nasce digital, mas que ele só é divulgado seis meses depois do lançamento. As bibliotecas mais afoitas acabam conseguindo essa versão de antemão, mas para tal desembolsam o valor de capa do livro impresso, 140% mais caro. “Ninguém sabe aonde essa história vai dar, mas o fato é que já vendemos US$ 2,4 milhões de livro digital”, diz.
No mercado há mais de 30 anos, Margie Wolfe aprendeu que seria difícil ter uma boa vida como uma editora se só olhasse para o Canadá. “Se pensarem em comprar ou vender os direitos de um livro para editores americanos, considerem também os canadenses”, pediu. Quem estiver interessado, o governo canadense financia 50% da tradução do inglês/francês para o português. “É mais fácil, por isso, vender do que comprar”. Por fim, disse que estava ali para vender, mas que está sempre de olho em livros interessantes e inovadores que possam funcionar bem no mercado canadense. Livros infantis apenas ilustrados têm mais chances, disse, por serem mais baratos (para ajudar, a impressão é feita na China).
Michel Maillé, o único a falar francês do grupo, apresentou o mercado editorial francofônico e disse que a venda de livros religiosos e infantil no Canadá vai muito bem. Ele destacou as diferenças entre as livrarias daqui e as de lá, onde algumas delas vendem até obras de arte.
Além desse encontro na CBL, que acabou com reuniões individuais com os editores, a programação da comitiva incluiu visitas a livrarias, ao consulado e a outras editoras. Philip Cercone estava feliz: “Sonho em conhecer o Brasil desde que era menino na Itália e ouvia as histórias do meu pai que já tinha morado aqui”.