Biblioteca tem que ter bibliotecário
PublishNews, Redação, 24/02/2010
Declaração é da presidente do Sindicato dos Bibliotecários do Estado de São Paulo, Vera Stefanov

Para a presidente do Sindicato dos Bibliotecários do Estado de São Paulo, Vera Stefanov, não dá para pensar que uma política pública do livro e leitura vá dar certo enquanto houver, no estado ou no País, bibliotecas sem bibliotecários. Ela critica a não reposição dos profissionais aposentados nas bibliotecas públicas paulistas e afirma que não há como ser otimista na atual situação. Em entrevista exclusiva à Brasil Que Lê, Vera diz que os governos deveriam contar mais com os bibliotecários na hora de formular programas e projetos.

Como os bibliotecários avaliam a evolução das políticas públicas do livro e leitura nesta década?


É complicado falar em evolução no Estado de São Paulo nesta década, em que sucessivos governantes não foram capazes sequer de repor os bibliotecários que vêm se aposentando. Nenhum concurso público para bibliotecário foi aberto e a política estadual é preencher as vagas, legalmente destinadas a bibliotecários, com os chamados professores readaptados. Nos governos municipais, a situação é ainda pior porque os poucos concursos abertos oferecem remuneração bem inferior ao piso salarial da categoria. Em nível federal, tivemos alguns avanços, mas a situação ainda deixa a desejar. A taxa de analfabetismo próxima de 10% mascara a deficiência dos alunos do ensino médio em ler e interpretar textos, conforme pesquisa recentemente revelada no último Enem. O que fazer, então, para motivar esses alunos lerem um livro e se desenvolverem como cidadãos? Essa é a grande preocupação que temos. Na verdade, a falta de uma política educacional acarreta uma falta de formação de leitores. A maioria das escolas públicas não possui bibliotecas e, tampouco, bibliotecários, profissionais indispensáveis na formação de leitores. Isso é imprescindível na formação dos cidadãos, na organização de ideias, no gosto pela pesquisa e na aquisição do conhecimento. Como pode uma Nação formar leitores se os livros ficam amontoados em qualquer sala da escola? Por essa razão, não podemos ter uma visão otimista neste momento, embora seja promissora a implantação de bibliotecas em todo o País.


Quais os aspectos positivos? E os negativos?


Qualquer incentivo à leitura é positivo. A variedade de assuntos aguça a curiosidade e acaba formando novos leitores. Mas o problema maior é a descontinuidade dos programas e projetos oficiais. As comunidades deveriam se mobilizar para exigir de seus governantes a continuidade de programas e equipamentos culturais; bem como fiscalizar a destinação de verbas para a manutenção do pouco que já existe. Estivemos presentes em muitos atos pró-cultura. Não podemos esquecer que a biblioteca é o único meio de comunicação entre as gerações, sem a qual perdemos parte da nossa história e atrasamos o nosso desenvolvimento. Quantas comunidades não têm culturas populares que, sem uma biblioteca, estão se perdendo? Não podemos ignorar o nosso folclore, como nosso Saci Pererê e nosso Boi Bumbá. Pelo contrário, devemos divulgá-lo pelo mundo afora e influenciar outras culturas.


Como o PNLL pode contribuir para modificar o quadro atual?


Pela primeira vez na história temos um programa de incentivo ao livro e à leitura em nível nacional, que recebeu o apoio de todas as áreas ligadas ao livro e à literatura brasileira. Mas é preciso pensar nesse plano como um todo. Ele só vingará se forem implantadas bibliotecas com bibliotecários. Cabe a cada bibliotecário e as suas entidades de classe acompanharem e fiscalizarem essa implantação. As leis orgânicas de cada município poderiam fixar requisitos mínimos para esses equipamentos sociais, como, por exemplo, as condições físicas mínimas, o acervo, o quadro de profissionais e o atendimento ao público. O Ministério da Cultura deveria fiscalizar a execução do programa para se evitar o desvio de recursos para outras áreas. Em suma, o fornecimento de livros é uma coisa, a formação de bibliotecas é outra. O PNLL pode colaborar para a abertura de mercado para a profissão de bibliotecário, que é, hoje, tão desvalorizada pelo Poder Público. Pode incentivar os jovens a abraçarem uma profissão e a carreira promissora, prazerosa e lucrativa.


Que papel o Sindicato dos Bibliotecários enxerga para si nesse contexto?

O SinBiesp sempre cobrou dos três níveis de governo uma participação ativa dos profissionais nesses projetos e programas culturais e educacionais. Os governantes precisam inserir as entidades de classe na elaboração e na execução desses planos, até mesmo para um melhor aproveitamento dos recursos. Em conjunto com a UBE (União Brasileira de Escritores), participamos e apoiamos as iniciativas de difusão do livro. Vamos continuar cobrando dos governos estadual e municipais a criação de cargos de bibliotecários nas escolas públicas e a implantação de bibliotecas, que, inclusive, podem atender nos fins de semana às comunidades de seu entorno.

(Agência Brasil Que Lê)
[24/02/2010 00:00:00]