Livreiro deve formar leitores
PublishNews, Redação, 23/09/2009
Essa é a opinião do presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), Vítor Tavares

Os brasileiros não estão necessariamente comprando mais livros, mas estão lendo mais. Graças ao fortalecimento das políticas públicas nesta década, o acesso aos livros tem aumentado e é preciso, agora, que as livrarias assumam cada vez mais o papel de centros de cultura. Quem diz isso é o presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), Vitor Tavares. “O bom livreiro é aquele que está preocupado com a formação de novos leitores”, acrescenta ele, em entrevista exclusiva à agência Brasil Que Lê.

Na avaliação da ANL, o Brasil melhorou ou piorou nesta década na questão do livro e da leitura?

Se observarmos, só pelo lado da produção e venda, segundo dados do setor, podemos afirmar que estamos estagnados. Mas, quando falamos em políticas públicas de incentivos à leitura e à difusão do livro, demos grandes passos. Temos, hoje, muito mais cidadãos com acesso ao livro e à leitura do que na década passada. O número de bibliotecas públicas é bem maior e, em breve, teremos, sem sombra de dúvida, todos os municípios brasileiros com, no mínimo, uma biblioteca. Observamos, também, que com a oxigenação do setor, devido à desoneração do PIS/Confins - mesmo com todos os problemas financeiros enfrentados pelo país - heróicos empresários abriram novas e boas livrarias físicas, em várias regiões do país. Com o empenho de vários empresários livreiros e com as boas e inteligentes políticas públicas, voltadas ao livro e à leitura, muitas coisas melhoraram na última década. Tenho toda a certeza que um dos caminhos é esse. Essa sinergia, que vem prevalecendo nos últimos anos, entre o setor público e privado, contribuiu positivamente em vários momentos.

Qual é o papel que as livrarias - sejam as grandes redes ou as independentes - devem ocupar nas políticas públicas?

As livrarias devem ocupar o papel de verdadeiros centros de cultura. Hoje, uma livraria não pode abrir mão da prerrogativa de ser o principal canal de acesso ao livro e à cultura. Ela deve ser o verdadeiro agente da democratização da leitura, da difusão do livro, do conhecimento e do saber. Uma livraria não pode estar presente em uma cidade só como o intuito de fazer negócio. O ofício verdadeiro do livreiro é também social, desenvolvendo cidadãos. O bom livreiro é aquele que está preocupado com a formação de novos leitores. Afinal, estes serão seus futuros clientes. Sem essa visão, ser livreiro, hoje, em uma sociedade moderna e democrática não teria sentido. Na minha visão, o papel da livraria é tão importante para a sociedade que o livreiro deveria ser mais valorizado, com a criação do dia oficial do vendedor de livros, um Dia Nacional do Livreiro. Outra ação efetiva para o reconhecimento do atendente das livrarias, por sua importância para a cultura, é passar a chamá-lo de consultor literário ou cultural.

Por que, na sua opinião, o mundo do livro ainda não consegue fazer valer, no cenário nacional, o prestígio que o livro em si tem no imaginário social?

Acredito ser, principalmente, por dois motivos: primeiro (e é o verdadeiro papel do livreiro na sociedade moderna), se a população perceber que o livreiro está ali só para fazer negócio, sem levar em consideração seu papel fundamental que é ajudar na formação do cidadão, ele perde espaço e prestigio. E isso atinge de forma negativa o livro. Segundo, a falta do hábito da leitura na população em geral. Temos que universalizar o prazer pela leitura e esta é a missão do livreiro. Nós temos como fortes aliados aqueles que veem a leitura como um grande prazer. Esses leitores são os nossos grandes agentes na difusão do livro e eles devem ser reconhecidos e valorizados por todos os elos da cadeia editorial e livreira. Poderíamos aproveitar algum dos tantos e bons prêmios que temos no País na área da literatura para homenagear os grandes leitores de livros, criando, por exemplo, a categoria de O Leitor do Ano.

Qual a posição da ANL diante da criação do Fundo Pró-Leitura?

A posição da ANL é que devemos cumprir o que foi acordado por ocasião da desoneração do PIS/Confins do setor na gestão do ministro Palocci, na Fazenda. E, hoje, segundo palavras do próprio ministro Juca Ferreira, jamais o MinC pretende onerar o setor, muito menos os pequenos e independentes livreiros e editores. Muito pelo contrário, o desejo do governo é que o País tenha um segmento livreiro forte. O Fundo Pró-Leitura, com uma participação representativa em sua gestão, de todos os elos da cadeia editorial e livreira, será uma grande fonte de recursos e irá contribuir ainda mais tanto para a difusão do livro como a formação de novos leitores. A ANL aprova a ideia da criação do Fundo Pró-Leitura e acredita que a arrecadação da Cide, se equacionada, com uma alíquota suportável e, dentro da realidade do setor, sem onerar os pequenos e independentes livreiros e editores, vai alavancar todo o setor.

(Brasil que Lê - Agência de Notícias')

[23/09/2009 00:00:00]