Os brasileiros não estão necessariamente comprando mais livros, mas estão lendo mais. Graças ao fortalecimento das políticas públicas nesta década, o acesso aos livros tem aumentado e é preciso, agora, que as livrarias assumam cada vez mais o papel de centros de cultura. Quem diz isso é o presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), Vitor Tavares. “O bom livreiro é aquele que está preocupado com a formação de novos leitores”, acrescenta ele, em entrevista exclusiva à agência Brasil Que Lê.
Na avaliação da ANL, o Brasil melhorou ou piorou nesta década na questão do livro e da leitura?
Se observarmos, só pelo lado da produção e venda, segundo dados do setor, podemos afirmar que estamos estagnados. Mas, quando falamos em políticas públicas de incentivos à leitura e à difusão do livro, demos grandes passos. Temos, hoje, muito mais cidadãos com acesso ao livro e à leitura do que na década passada. O número de bibliotecas públicas é bem maior e, em breve, teremos, sem sombra de dúvida, todos os municípios brasileiros com, no mínimo, uma biblioteca. Observamos, também, que com a oxigenação do setor, devido à desoneração do PIS/Confins - mesmo com todos os problemas financeiros enfrentados pelo país - heróicos empresários abriram novas e boas livrarias físicas, em várias regiões do país. Com o empenho de vários empresários livreiros e com as boas e inteligentes políticas públicas, voltadas ao livro e à leitura, muitas coisas melhoraram na última década. Tenho toda a certeza que um dos caminhos é esse. Essa sinergia, que vem prevalecendo nos últimos anos, entre o setor público e privado, contribuiu positivamente em vários momentos.
Qual é o papel que as livrarias - sejam as grandes redes ou as independentes - devem ocupar nas políticas públicas?
As livrarias devem ocupar o papel de verdadeiros centros de cultura. Hoje, uma livraria não pode abrir mão da prerrogativa de ser o principal canal de acesso ao livro e à cultura. Ela deve ser o verdadeiro agente da democratização da leitura, da difusão do livro, do conhecimento e do saber. Uma livraria não pode estar presente em uma cidade só como o intuito de fazer negócio. O ofício verdadeiro do livreiro é também social, desenvolvendo cidadãos. O bom livreiro é aquele que está preocupado com a formação de novos leitores. Afinal, estes serão seus futuros clientes. Sem essa visão, ser livreiro, hoje, em uma sociedade moderna e democrática não teria sentido. Na minha visão, o papel da livraria é tão importante para a sociedade que o livreiro deveria ser mais valorizado, com a criação do dia oficial do vendedor de livros, um Dia Nacional do Livreiro. Outra ação efetiva para o reconhecimento do atendente das livrarias, por sua importância para a cultura, é passar a chamá-lo de consultor literário ou cultural.
Por que, na sua opinião, o mundo do livro ainda não consegue fazer valer, no cenário nacional, o prestígio que o livro em si tem no imaginário social?
Acredito ser, principalmente, por dois motivos: primeiro (e é o verdadeiro papel do livreiro na sociedade moderna), se a população perceber que o livreiro está ali só para fazer negócio, sem levar em consideração seu papel fundamental que é ajudar na formação do cidadão, ele perde espaço e prestigio. E isso atinge de forma negativa o livro. Segundo, a falta do hábito da leitura na população em geral. Temos que universalizar o prazer pela leitura e esta é a missão do livreiro. Nós temos como fortes aliados aqueles que veem a leitura como um grande prazer. Esses leitores são os nossos grandes agentes na difusão do livro e eles devem ser reconhecidos e valorizados por todos os elos da cadeia editorial e livreira. Poderíamos aproveitar algum dos tantos e bons prêmios que temos no País na área da literatura para homenagear os grandes leitores de livros, criando, por exemplo, a categoria de O Leitor do Ano.
Qual a posição da ANL diante da criação do Fundo Pró-Leitura?
A posição da ANL é que devemos cumprir o que foi acordado por ocasião da desoneração do PIS/Confins do setor na gestão do ministro Palocci, na Fazenda. E, hoje, segundo palavras do próprio ministro Juca Ferreira, jamais o MinC pretende onerar o setor, muito menos os pequenos e independentes livreiros e editores. Muito pelo contrário, o desejo do governo é que o País tenha um segmento livreiro forte. O Fundo Pró-Leitura, com uma participação representativa em sua gestão, de todos os elos da cadeia editorial e livreira, será uma grande fonte de recursos e irá contribuir ainda mais tanto para a difusão do livro como a formação de novos leitores. A ANL aprova a ideia da criação do Fundo Pró-Leitura e acredita que a arrecadação da Cide, se equacionada, com uma alíquota suportável e, dentro da realidade do setor, sem onerar os pequenos e independentes livreiros e editores, vai alavancar todo o setor.
(Brasil que Lê - Agência de Notícias')