No comando da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU), nos últimos seis anos, o gaúcho Valter Kuchenbecker deixa a presidência da entidade este mês com uma boa impressão sobre a questão do livro e da leitura no Brasil. "Pelos anos que o Brasil já perdeu nesta área, sempre achamos que o muito que se fez ou faz é pouco", diz. Responsável pela Editora da Ulbra, a Universidade Luterana do Brasil, e dirigente do Clube dos Editores do Rio Grande do Sul, Valter diz que, nos últimos anos, tem havido uma evolução significativa na área. "Estamos avançando e isto é ótimo", avalia. Recentemente empossado vice-reitor da Ulbra, ele também fala, em entrevista à agência Brasil Que Lê, sobre Fundo Pró-Leitura e outros temas importantes para o mundo do livro.
Qual o balanço que você faz da sua gestão à frente da ABEU?
Após seis anos no comando da ABEU, o balanço é positivo. Cresci junto com a entidade. Aprendi com os colegas editores e parceiros do livro. A ABEU se firmou no cenário editorial brasileiro como um player importante. Dentro de nossas limitações, conseguimos profissionalizar a entidade. Adquirimos sede própria, e, finalmente, o grande sonho: um banco de dados (catálogo unificado) com os livros das editoras universitárias. Vários projetos foram lançados, muitos ainda em andamento. No cenário nacional, a ABEU se fez presente em todos os momentos do livro e da leitura e teve o seu reconhecimento por isso. A nossa participação, como conjunto de editoras universitárias, cresceu muito nas principais feiras do País. Investimos visualmente no estande, tornando-o atraente, moderno, agradável e incluindo varias atividades nos cafés culturais. Enfim, uma gestão altamente positiva.
Na sua avaliação, a ABEU está mais ou menos forte do que quando assumiu a presidência?
Está muito mais forte. E deve se fortalecer cada vez mais. Tivemos um bom incremento no número de associados durante estes últimos anos. Também tivemos uma procura muito grande de outras editoras que buscaram filiação junto a ABEU. No entanto, o estatuto não nos dá muitas opções nesse sentido. Na área da comunicação, a ABEU deu um grande salto, desde o informativo AbeuEmRede até um site atualizado e moderno e a revista Verbo - houve um grande crescimento. Na representatividade junto aos órgãos governamentais e entidades do livro, também se destacou muito. No cenário internacional tivemos uma boa atuação em feiras e projetos, especialmente da América Latina, com a EULAC e várias universidades.
O que mudou, nesse tempo, nas políticas públicas do livro e leitura no Brasil?
Nos últimos anos, o Brasil acompanhou de perto a implantação de diversas políticas de fomento ao livro e a leitura. Apesar de ainda engatinharmos, nesta área houve um avanço muito considerável. Não tenho receio de afirmar que o cenário nacional é altamente favorável ao livro e à leitura. O Brasil está muito melhor, hoje, nesse segmento do que em anos anteriores. A ABEU participou deste crescimento. Evidente que precisamos crescer muito mais, mas passos significativos e decisivos estão sendo dados para que tenhamos um país de livros e leitores. Ações conjuntas estão sendo pensadas pelo Ministério da Educação e Ministério da Cultura e programas como o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) estão em andamento. Claro que, pelos anos que o Brasil já perdeu nesta área, sempre achamos que o muito que se fez ou faz é pouco. Importa é que estamos caminhando. Poderíamos estar correndo, mas estamos avançando e isto é ótimo. As entidades do livro estão unidas neste propósito e o governo tem procurado um bom entendimento com o mundo do livro.
Quais devem ser, na sua opinião, os principais desafios da nova diretoria?
São muitos os desafios da nova diretoria. Primeiro, manter a união do grupo e promover a cooperação entre as editoras. Lamentavelmente, na última reunião da ABEU, houve uma desfiliação de três importantes associados. Isto precisa ser trabalhado, não é bom para a entidade, e não é bom para as editoras e universidades que se desligaram. Uma associação se torna cada vez mais forte na medida em que seus associados se envolvem e participam. A ABEU precisa cada vez mais de novas lideranças participando ativamente. É preciso discutir o papel e o significado do livro universitário no mercado editorial. É preciso redefinir políticas de distribuição deste livro. É preciso discutir com a sociedade o papel estratégico e fundamental do livro e das editoras universitárias.
O que a ABEU acha do Fundo Pró-Leitura?
A ABEU, desde o início, se posicionou a favor do Fundo Pró-Leitura, entendendo que essa era a resposta das entidades do livro ao grande avanço (empurrão) que se teve com a desoneração do livro em 2004. A questão é como operacionalizar isso. No caso da ABEU, entendemos que as editoras universitárias ficariam de fora deste esforço por absoluta falta de autonomia de gestão e recursos, uma vez que estão vinculadas às universidades. Existem, no entanto, algumas editoras universitárias que tem gestão própria, autônoma e com bons resultados, normalmente geridos por uma Fundação. Talvez estas se enquadrariam. Minha sugestão pessoal é cobrar daqueles que se enquadram tributariamente na modalidade de lucro real. Não é o caso das editoras universitárias.
(Brasil que Lê - Agência de Notícias)