Impressões sobre o mercado editorial
PublishNews, Marla Cardoso, 28/08/2009

Livro mais barato ajuda a formar leitores

Por Rosely Boschini*

O preço dos livros caiu! A boa notícia está presente na pesquisa “Produção e Vendas do Mercado Editorial 2008”, que a Fundação Instituto de Pesquisas Econômica (Fipe) elaborou a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). A pesquisa revela que, apesar da produção ter caído 3,17% em relação a 2007, e da tiragem média também ter sofrido uma retração de 25,6%, o mercado editorial brasileiro honrou o compromisso assumido em 2004, quando foi desonerado do recolhimento de PIS/Cofins: efetivamente, o benefício foi repassado ao preço.

Assim, se em 2004 o livro didático tinha o preço médio corrente de 14,54 reais, hoje esse valor é de 13,61. No geral, somando todos os gêneros de publicações, a pesquisa demonstra que o preço médio constante do livro (todos os gêneros), por unidade vendida, variou de R$ 8,58 em 2004 para R$ 8 em 2008. Se levarmos em consideração que a inflação acumulada no período foi de 14%, segundo o IPCA, ou de 21%, pelos cálculos do IGP-M, a queda do preço do produto editorial fica ainda mais evidente.

Outra boa notícia que acompanha a queda nos preços dos livros é a constatação de que os brasileiros efetivamente estão lendo mais. As Obras Gerais, que são todas as publicações que não se enquadram nas categorias de didáticos, religiosos ou técnico-científicos, foram justamente aquelas que apresentaram o maior crescimento em volume de exemplares vendidos, saltando para 77,3 milhões de exemplares contra 64,6 milhões em 2007 – um incremento de 19,76%, portanto. Este dado não deve, porém, nos desviar da busca de soluções para um problema histórico: o brasileiro ainda lê pouco e não tem o hábito arraigado de adquirir livros. A média nacional de compra permanece em menos de exemplares/ano por habitante. Ou seja, é de suma importância criar ações de incentivo à leitura, além de dar prosseguimento às já existentes, aprimorando-as cada vez mais.

O fato de o público brasileiro estar mais disposto a adquirir obras literárias indica muitas coisas. É possível deduzir, por exemplo, que os programas de fomento à leitura, que hoje estão na ordem do dia para o governo federal, governos estaduais e prefeituras, têm desempenhado um papel importante na conquista de novos leitores. Mas há mais elementos a se considerar, e um deles, que certamente é crucial, é o preço baixo. O brasileiro só pode incluir o livro no seu orçamento, no seu dia-a-dia, na medida em que este se torna mais acessível.

Para os empresários do setor do livro, que vêm apostando na profissionalização do setor e no aumento de sua eficiência produtiva, a desoneração teve importância inegável. Qual seria o impacto do PIS/Cofins para quem está lidando, desde 2007, com uma crise de proporções mundiais responsável por elevadíssimos índices de inadimplência? Há muito de idealismo no negócio de fazer e vender livros, mas a ausência do lucro condena qualquer empresa à morte. Assim, se a cadeia produtiva do livro vem resistindo, ainda que a duras penas, a uma série de percalços enfrentados no último ano, ela deve parte do seu fôlego a uma carga tributária mais leve.

Tudo isso deve ser considerado para a definição dos próximos passos no delineamento das políticas públicas para o livro e a leitura. O que nos alegra é saber que, para o brasileiro, o livro é, sim, objeto de desejo. E que, quanto mais este puder ficar ao alcance de todos, mais próximos nós estaremos do ideal mais caro a todos aqueles que trabalham com e para os livros: fazer do Brasil um país de leitores!

*Rosely Boschini é presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).
[28/08/2009 00:00:00]