Num momento histórico em que o mundo se apresenta para muitos como uma cisão absoluta entre um Ocidente cristão e um Oriente islâmico, A sexualidade no islã (Globo, 384 pp., R$ 36), de Abedelwahab Bouhdiba, relativiza um dos principais pontos de oposição entre os povos ao fazer uma leitura das escrituras sagradas e da literatura teológica muçulmana. Tendo como ponto de partida o Alcorão, o autor apresenta uma relação entre as escrituras tradicionais e os valores que delas derivaram para a composição do imaginário sexual dos seguidores de Alá. Enquanto o Ocidente criou uma imagem do islamismo como uma religião assentada na repressão absoluta da sexualidade, Bouhdiba demonstra que o Alcorão não elege o prazer carnal como origem do pecado, tal qual o cristianismo. Ao contrário, os gozos do corpo são uma espécie de fonte e de prova da existência do poder divino de Alá.