Houve um tempo em que o cotidiano construía a linguagem artística de todo um século. E neste tempo, a relação de algumas pessoas - sejam espanhóis, holandeses, mexicanos, russos, italianos ou suíços - com a Paris que escolheram para viver acabou por definir os traços que vieram a influenciar as formas de expressão artística até os dias de hoje. Esses personagens são artistas que atendem pelos nomes de Braque, Picasso, Alfred Jarry, Modigliani, Matisse, Chagall, Diogo Rivera e outros assemelhados. Do mergulho nesse universo que se compunha entre Montmartre e Montparnasse, entre o Bateau-Lavoir e a Closerie de Lilas, o francês Dan Franck criou a narrativa de Boêmios (Planeta, 560 pp., R$ 65), misto de ensaio e reportagem. A arte moderna nasceu das mãos desses sublimes provocadores, agitadores, "seres deslocados", como define o autor. Baseado em rigorosa pesquisa histórica, o livro desvenda, em diálogos ágeis e estilo informal, a vida e a arte dos artistas e boêmios que por três décadas, do início do século aos anos 30, entre marchands, prostitutas, intelectuais, drogas, escândalos, miséria e luxo, recriaram um mundo do qual foram e permanecem heróis.