O carnaval transformou-se, ao longo da segunda metade do sécul XIX, em uma das principais festas populares do Rio de Janeiro. Recusando as habituais brincadeiras do entrudo, a elite carioca procurou reproduzir nos trópicos a lelgância dos festejos europeus, em especial os de Veneza e Nice. Aos poucos, porém o novo jeito de comemorar os dias de Momo foi incorporado por muitas outras parcelas da sociedade, que fizeram da festa um espaço de expressão dos próprios costumes e práticas. Tal processo teve, como um dos vetores principais, o investimento feito sobre a folia por alguns dos mais destacados literatos do período, como Machado de Assis, Raul Pompéia e Coelho Neto. Por meio da análise de suas crônicas e contos, O carnaval das letras: literatura e folia no Rio de Janeiro do século XIX (Editora Unicamp, 320 pp., R$ 28), de Leonardo Affonso de Miranda Pereira, pretende tanto interrogar os sentidos do olhar de tais escritores sobre o carnaval quanto buscar entender o processo que acabou por fazer dos dias de folia a principal festa popular do Rio de Janeiro. Operando nas fronteiras entre literatura e história, não apenas acompanha os debates travados por diferentes escritores a respeito dos festejos carnavalescos, mas revela como o carnaval também foi um meio de comunicação entre aqueles literatos e um público distante de seus ideais artísticos.