Em As cidades invisíveis, de Italo Calvino, o viajante Marco Pólo descreve ao imperador Kublai Khan as cidades de seu império que ele mesmo não conhecia, entregando ao rei mongol a possibilidade de entendimento e afeição - única forma de conhecimento pleno de seu vasto e milenar reino. Em São Paulo, cidade invisível - Uma reportagem afetiva (Bom Texto / Letras & Expressões, 180 pp., R$ 42), o escritor mineiro de Araguari, Marcílio Godoi, traça um painel afetivo da cidade de São Paulo, revelando lugares e habitantes da cidade que estão diante de nós, em qualquer esquina, mas que já não os vemos. De tanto os ver, há um momento em que o excesso de realidade cega. O livro é uma narrativa que funde jornalismo e literatura na crônica do cotidiano, ilustrado com fotografias extraídas de silenciosos momentos de uma metrópole não oficial, cujas legendas trazem dados estatísticos e objetivos que introduzem temas que vão desde a corrida por veículos blindados até histórias da infância de anônimos catadores de papéis. O resultado é um delicado mosaico espelhado de nós mesmos, refletidos nas palavras de Marcílio, um arquiteto que se mudou há seis anos de Belo Horizonte para fazer a vida como jornalista na capital paulista.