Woyzeck e a febre da alienação
Folha de S.Paulo, Manuel da Costa Pinto, 12/04/2003
Muitas obras só ganham reconhecimento décadas ou séculos depois de terem sido escritas. No caso de um autor como o alemão Georg Büchner, esse atraso é compreensível. Nascido em 1813, Büchner morreu de tifo em 1837, aos 23 anos, deixando apenas uma novela (Lenz), um panfleto político (O Mensageiro de Hesse, escrito em parceria com Friedrich Weidig) e três peças teatrais: A Morte de Danton, Leonce e Lena e Woyzeck, que acaba de ser publicada pela editora Hedra (120 pp., R$ 31), com tradução de Tércio Redondo, e que será lançada em maio pela Perspectiva numa adaptação em verso do escritor e jornalista Fernando Marques. Woyzeck conta a história (inspirada em um acontecimento real) do soldado que comete um crime passional após as humilhações que lhe são impostas pelo capitão de seu regimento e pelo amante de sua mulher. O grande tema que percorre a peça, no entanto, é a alienação, encarnada tanto na figura do médico que usa Woyzeck como cobaia quanto no progressivo mergulho do protagonista em uma esfera onírica, na febre que turva sua visão e o conduz ao assassinato.
[12/04/2003 00:00:00]