Plínio Martins Filho: 'Preço do livro não tem milagre'
PublishNews, Guilherme Sobota, 26/07/2023
Convidado do Sabatina PublishNews, editor falou sobre o preço do livro no Brasil, a Lei Cortez, métodos de incentivo à leitura, a Festa do Livro da USP e avaliou a produção acadêmica e das editoras universitárias no país

Sabatina PublishNews recebeu o editor Plínio Martins Filho | © Youtube
Sabatina PublishNews recebeu o editor Plínio Martins Filho | © Youtube
O editor Plínio Martins Filho foi o convidado da edição de número 16 do Sabatina PublishNews, realizado nesta terça-feira (25), e compartilhou com a bancada suas opiniões sobre o preço do livro no Brasil, a Lei Cortez, métodos de incentivo à leitura, a Festa do Livro da USP e avaliou a produção acadêmica e das editoras universitárias no país.

"Tenho certa implicância com quem diz que não compra por causa do preço: me parece um discurso de quem não gosta de ler", afirmou. "O preço de um livro não tem milagre. É o que se gasta na produção, tem a tiragem, um multiplicador universal, e você acha o preço de capa. Quando falo que o livro brasileiro não é caro, é comparando com livros de outros lugares. Se eu quiser comprar um livro no estrangeiro, mesmo na Argentina ou em Portugal, é quase o dobro do preço aqui".

Ele faz a ressalva, porém, que as condições não são favoráveis. "No Brasil, quem consome livro é aquela pessoa que realmente gosta. Ainda são poucas as pessoas, proporcionalmente, que têm o hábito de leitura. O livro fica caro, sim, porque estamos vivendo uma coisa que os custos de impressão e os insumos são caros, importados… o editor não pode fazer muita coisa. Não pode economizar, porque se não pagar o papel, não tem livro. Eu procuro, numa editora que nem a minha, manter apenas os custos fundamentais. Nunca é o editor que quer vender com preço alto".

A Lei Cortez também foi assunto – a proposta tem por objetivo instituir a política nacional de fixação do preço do livro por meio do estabelecimento de regras para a comercialização e difusão do livro. Recentemente, ela foi desarquivada no Senado. Apesar de ser um apoiador da medida, Plínio se mostrou cético com o seu funcionamento no Brasil.

"É uma questão cultural. Seria muito útil, mas tenho minhas dúvidas, conhecendo como funciona o mercado brasileiro", afirmou. "Isso demandaria um engajamento dos livreiros, dos editores, distribuidores. A nossa rede de distribuição e comercialização é muito complicada, muito difícil de mudar. A coisa da consignação, para a gente tem sido terrível como editor".

Atualmente, Plínio é professor do curso de Editoração da ECA-USP, editor da Revista LIVRO, coordenador das publicações da Biblioteca Brasiliana-USP e editor na Edusp, além de ter a sua editora, a Ateliê Editorial.

Ele destacou que é muito difícil ganhar dinheiro editando e vendendo livros no país. "O livro só ganha dinheiro se vender muito. Com 500, mil exemplares, ninguém ganha dinheiro. Tem uma loucura envolvida no negócio. Eu, por exemplo, não consigo ter um best-seller. O esforço da Lei Cortez é válido, tanto que chegou ao Senado. Eu não sou contra, mas sou cético. É preciso engajamento real das pessoas e que seja realmente regulamentado. Todo mundo precisa cumprir".

Incentivo à leitura

Questionado sobre propostas de incentivo à leitura, Plínio defendeu a criação de um "cartão-livro", política pública de incentivo à compra de livros. "Acho que seria uma política pública melhor do que comprar uma quantidade enorme de livros de uma vez", opina.

"A ideia do cartão-livro foi implantada numa escala pequena na USP", exemplificou. "A USP criou um cartão-livro para alunos com poder aquisitivo menor para comprar na livraria da Edusp. Acho que se essa ideia se espalhasse pelo Brasil, provavelmente teríamos mais livrarias no país. Ainda é folclórico dizer que temos mais editoras do que livrarias. Isso é perfeitamente aplicável nas esferas municipais, estaduais e federais".

A Festa do Livro da USP – mais recentemente criticada por players do mercado por oferecer descontos muito grandes ao consumidor final –, conta Plínio, foi criada com o intuito de formar leitores. "A ideia era vender os livros sem o valor da consignação para as livrarias. Era uma espécie de ajuda para pequenos editores que passavam sufoco no final do ano. Hoje, todo mundo aderiu ao modelo. Tem críticas, mas foi a solução que achamos para o livro acadêmico escoar com alguma facilidade", explica.

Edição de clássicos e releituras

O editor reconheceu também os avanços em discussões sensíveis para a sociedade atualmente e como essas discussões se refletem na edição dos livros. "É claro que precisa dar espaço para todos. Tivemos realmente um período de racismo não questionado em que tudo era permitido ou aceito. Hoje você toma certo cuidado com isso", compartilhou. Ele disse que não chegaria ao ponto de revisar o texto de uma obra ou de um clássico em função disso, mas que é necessário apontar as devidas contextualizações.

"Não acho que tem que ter uma revisão no sentido de eliminar as pessoas, mas uma revisão com aparato crítico, por exemplo", afirma. "Na coleção Clássicos da Ateliê, sempre tenho um especialista na obra para contextualizar o livro. Assim como a literatura nova também está se adaptando, não gostaria que algo fosse feito no sentido de não ler Shakespeare por causa de uma cena com racismo, por exemplo. Tem que ter cuidado, claro, mas não podemos ter perseguições".

Bancada e Sabatina

O editor foi entrevistado por Jean-Pierre Chauvin, professor associado do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP, onde pesquisa e leciona Cultura e Literatura Brasileira; Talita Facchini, editora-assistente do PublishNews, e Beatriz Sardinha, estudante da ECA-USP e estagiária da redação do PN. Ana Lima Cecilio, atualmente gerente de conteúdo da Livraria Dois Pontos, não pôde participar por conta de um imprevisto, mas enviou perguntas que foram utilizadas na conversa.

O Sabatina já recebeu nomes como Ana Maria Gonçalves, escritora; Sônia Machado Jardim, presidente do Grupo Editorial Record; Dante Cid, presidente do SNEL; Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza; Marcus Teles, diretor da Livraria Leitura; Marcos da Veiga Pereira, ex-presidente do SNEL; Luiz Schwarcz, CEO da Companhia das Letras, entre outros.

Assista à entrevista completa com Plínio Martins Filho:

[26/07/2023 11:20:00]