Em um ano, o faturamento da Globo Livros cresceu 60%. Isso, antes da editora lançar Ágape, obra do padre Marcelo Rossi que lidera a lista de Mais Vendidos do PublishNews com mais de 100 mil exemplares comercializados desde o início de setembro nas 10 redes de livrarias apuradas. Cartas entre amigos, de Gabriel Chalita e padre Fábio de Melo, e todos os do Monteiro Lobato ajudaram a impulsionar esse crescimento. Os novos livros são cria de Mauro Palermo, que abriu passagem para a nova fase da Globo. “Consegui trazer bons livros de pegada”, disse. Ele veio da Nova Fronteira com as seguintes metas: reforçar o já clássico catálogo (a Globo é responsável pela obra de Quintana, Oswald de Andrade e outros), ter mais livros de livraria e preparar a editora para a era digital. Por isso, ao mesmo tempo em que produz best-sellers de autoajuda, comanda a reedição das obras completas de Balzac e entra de cabeça na era digital – a primeira parte de A menina do narizinho arrebitado para iPad está pronta e até o fim do ano a edição completa deve estar disponível.
No catálogo, são cerca de mil títulos ativos e em 2010 foram lançados 115 livros. Mas o crescimento daqui para a frente não estará ligado à grande quantidade de livros lançados. “Depois de crescer 60%, é difícil de manter esse índice”, diz o diretor geral da Globo Livros. “Mas seria interessante crescer entre 20% e 30% sobre a base já crescida”, completa. Para 2011, estão previstos apenas 100 novos títulos. “A livraria não comporta tanto livro e as pessoas não conseguem ler mais”. Assim, vão reduzir o número de títulos. “Seremos mais exigentes na decisão e vai sobrar tempo e recurso para trabalhar melhor esses livros”. “
No ano que vem, terminam a edição do Livro das 1001 noites e já começam a lançar os volumes de A comédia humana, de Balzac, que já foi da Globo e que ganhou agora o direito de reeditá-la. Esta nova edição incluirá as notas comentadas por Paulo Rónai, um dos maiores especialistas brasileiros em Balzac, e serão publicados cinco livros a cada dois anos. São 17 volumes, no total.
“Estamos bastante contentes porque os números mostram que as ações estavam na direção correta. Ações como essa de reeditar Lobato, Balzac, mas sem perder de vista as novas obras”, comenta Palermo. A ampliação da área comercial no Rio e em São Paulo e os investimentos agressivos em marketing também ajudaram a reposionar a Globo, que conta hoje com 40 funcionários.
Catálogo infantil e juvenil
A Globo quer ampliar o catálogo infantil e juvenil e se prepara para lançar quatro livros da Ciça em 2011. Apesar de participar de feiras internacionais, a opção da editora para este segmento é ter autores brasileiros. “Eles conhecem os planos de compra do governo, sabem criar com os temas transversais que podem ser abordados em sala de aula”, diz o diretor da editora.
Esperar anos pela obra de Lobato teve a sua recompensa. Pela política da empresa, não falam sobre números, mas Palermo dá a dica: “Valeu a pena em todos os aspectos. Considero nossas reedições muito boas e elas vendem muito bem”. Coloque na conta a venda para o governo federal, secretarias estaduais e municipais de ensino e ainda escolas particulares. Não deve ser nada mal. E mais: Lobato é editado na Polônia, na Rússia, na Argentina... E tudo passa pela Globo.
A Globo-mãe
Apesar de a Globo Livros ser uma das empresas da poderosa Globo, Mauro Palermo diz que a editora é independente. “Não somos pautados por ninguém. Nos beneficiamos da proximidade, mas não há interferência no trabalho”, disse. A ideia de empacotar em formato livro o conteúdo produzido por outras empresas da Globo é compartilhada. Às vezes a sugestão vem de quem faz o programa, em outras é a própria editora quem lança a ideia, que é sempre tocada adiante se considerada válida pelo conselho editorial da Globo, que só tem funcionários da própria editora.
Digital
Mauro Palermo acredita que tem uma função nova nascendo dentro dos departamentos editoriais: um editor com um novo olhar voltado à programação e à interatividade. “No futuro, o editorial vai compreender a figura de um programador. Não sei ainda se no staff ou terceirizado”, acredita. Ele criou um núcleo de livros digitais que interage com toda a editora. São duas pessoas responsáveis por percorrer todo o catálogo da editora e ver quais devem ser lançados em formato digital e em qual momento. Até agora, já são 50 e-books. “São duas pessoas exclusivas, mas toda a editora está pensando digitalmente”, garante.
Paralelamente à conversão dos títulos, a editora está experimentando. Às vésperas da Bienal do Livro de São Paulo, realizada em agosto, saindo de uma reunião com a organização onde foi dito que dois focos da feira seriam os livros digitais e Monteiro Lobato, a editora decidiu fazer Narizinho para iPad, um trabalho completamente diferente da simples conversão do arquivo. O primeiro capítulo já está pronto e até o fim do ano devem terminar os sete. Quem está cuidando disso é a Lab360 em parceria com o ilustrador Rogério Coelho, que criou ilustrações que permitissem animação e também ajudou a roteirizar o livro. De acordo com Palermo, apesar do custo altíssimo, é assim que deve ser feito o livro infantil digital. “Livro infantil tem um resultado muito ruim para leitores e-ink”.
E não adianta apenas criar um livro interativo, bonitinho. “Livro digital não é um jogo, é um livro ilustrado. A criança brinca, mas aprende. Quem só brincou achou divertido. Quem leu achou muito mais”, disse.
Mesmo que o livro digital esteja em seu começo no Brasil, o momento é de se preparar e estar pronto para quando o mercado decidir que é hora. “Se um dia o mercado resolver que não compra mais livro impresso, não vou fazer”, comenta.