

Prêmios literários são uma das principais formas de alavancar a carreira de um escritor. Vencer um prêmio expande o circuito de potenciais leitores de um autor, e quando um certame reconhece escribas menos conhecidos, o sentimento de satisfação – e oportunidade, para o mercado, para críticos e para novos aspirantes – é ainda maior. Este é o caso do Prêmio Candango de Literatura, realizado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF) em parceria com o Instituto Cultural Casa de Autores (ICA). Em 2025, o Candango realizou sua segunda edição, e já tem a terceira confirmada para o primeiro semestre de 2026.
O Candango deste ano premiou livros em sete categorias, exaltando o talento e a diversidade da língua portuguesa: Melhor Romance, Melhor Livro de Contos, Melhor Livro de Poesia, Prêmio Brasília, Melhor Capa, Melhor Projeto Gráfico e Projeto de Incentivo à Leitura. Foram distribuídos R$ 195 mil em prêmios.
Os vencedores foram os seguintes:
- Melhor Romance – Giovanna Ramundo, com Sorriso sorvete de cereja (Editora Cambucá): R$ 35 mil;
- Melhor Livro de Contos – Luís Pimentel, com A viagem e outros contos (Editora Patuá): R$ 35 mil;
- Melhor Livro de Poesia – Ricardo Gil Soeiro, com Lições da miragem (Assírio & Alvim): R$ 35 mil;
- Prêmio Brasília – Juliana Monteiro, com Nada lá fora e aqui dentro (Editora Patuá): R$ 35 mil;
- Melhor Capa – Leonardo Iaccarino, para Cavalos no escuro, de Rafael Gallo (Editora Record): R$ 20 mil;
- Melhor Projeto Gráfico – Jeferson Barbosa, com Verso horizonte (Editora Mondru): R$ 20 mil;
- Projeto de Incentivo à Leitura – Sabrina Sanfelice, com o Sarau da Dalva e Estreloteca: R$15 mil.
Na cerimônia de entrega do Prêmio, realizada em outubro, o secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Cláudio Abrantes, destacou o alcance da edição, que recebeu quase três mil obras inscritas, de autores do Brasil e de outros 17 países, o que demonstra a diversidade e a potência criativa da língua portuguesa. “Fernando Pessoa dizia que a literatura, como toda a arte, é a confissão de que a vida não basta. Queremos histórias, queremos sonhos e a possibilidade da eternidade que a palavra nos propicia”, afirmou o secretário, ressaltando o papel de Brasília como polo de convergência cultural. “O Candango é mais que um prêmio: é um gesto de afirmação da nossa língua, da nossa identidade e da força criadora que une povos e gerações”, completou. Realizado na Sala Martins Pena, do Teatro Nacional Cláudio Santoro, em Brasília (DF), o evento reuniu escritores, editores, artistas, gestores, representantes da cena literária e autoridades, reforçando Brasília como um centro pulsante de cultura, arte e criatividade. O Candango deste ano teve curadoria de João Anzanello Carrascoza.
Reconhecimento fornece validação para escritores em diferentes estágios da carreira
A jornalista e escritora Juliana Monteiro nasceu em Brasília, mas vive em Roma desde 2014. A palavra escrita sempre foi, segundo sua lembrança, uma forma de organizar o que sente e pensa – “é onde dou forma à revolta e à perplexidade”, diz. Enquanto que a faculdade de jornalismo foi uma forma de canalizar essa necessidade, a ficção apareceu em sua vida para acessar cantos da realidade só possíveis a ela. Apesar de escrever desde criança, foi com as redes sociais – um ambiente mais despretensioso – que começou a publicar e mostrar para o mundo sua produção ficcional. Décadas na psicanálise também contribuíram para soltar os freios. “Aprendi que um texto só está pronto depois de lido por outra pessoa. Muitas vezes, um leitor divide comigo sua emoção em relação a algo que escrevi e só aí, ao reler, eu choro. É o leitor quem termina o texto”, afirma.
Em 2022, ela lançou com o jornalista Jamil Chade o livro Ao Brasil, com amor (Autêntica), em que ambos trocam cartas — ele de Genebra, ela de Roma — com um olhar crítico, “mas sobretudo amoroso”, sobre o Brasil. Em 2024, veio Nada lá fora e aqui dentro (Editora Patuá), seu primeiro romance publicado, e em 2026 ela entregará sua segunda ficção.
“Eu estava trabalhando em outra história quando a Covid me deu uma rasteira”, diz a escritora, sobre o processo de escrita do livro premiado no Candango. “Estava com 42 anos, dois filhos pequenos, vivendo como estrangeira e afastando para longe uma crise existencial que a pandemia precipitou. Acabei me desinteressando do que estava escrevendo. Fiquei obcecada em registrar aqueles dias terríveis enquanto elaborava minha própria angústia com a quarentena pesada que vivemos na Itália e com uma lucidez insuportável em relação à nossa fragilidade e finitude. Então, me rendi. Eu só podia escrever sobre aquilo ou seria devorada.”
No livro, o leitor acompanha a jornada de Loretta em 2020. Em um cenário pandêmico, a personagem enfrenta também a perda repentina de sua mãe, uma renomada escritora, e reflete sobre suas relações familiares e questões como luto, memória e identidade. O livro traz uma reflexão profunda sobre a pandemia e seus efeitos, especialmente na Itália, durante o período de quarentena.
Para a autora, o prêmio é um reconhecimento de que escrever literatura pode importar para outras pessoas – apesar de desconfianças comuns a autores (iniciantes ou não) sobre seu próprio trabalho. “É tão difícil escrever e, ao mesmo tempo, é algo tão pouco prestigiado. Eu brinco entre meus amigos que ninguém respeita quem escreve. Um prêmio é o sinal de que, sim, vale a pena; o que fazemos importa para outras pessoas. No meu caso, foi uma resposta que eu buscava e de que precisava há muito tempo. E receber um prêmio no palco do Teatro Nacional, na minha cidade, que é personagem de tantos textos meus, foi uma alegria que ainda não consegui expressar.”
Luís Pimentel também começou a escrever cedo, fez faculdade de jornalismo e vem publicando textos e livros de diferentes gêneros desde 1985. No livro vencedor do Candango na categoria Contos, o autor procurou reunir narrativas que tivessem um fio ou atmosfera em comum: histórias que vão do lirismo à violência, tendo como ponto de partida personagens abandonados à própria sorte, se debatendo em meio a situações quase sempre complicadas, tristes, angustiantes ou vexatórias.
“Os prêmios são sempre importantes, isto não dá para negar”, diz o escritor baiano, radicado no Rio. “Mas repito o que já li ou ouvi de mais de um escritor premiado: não podemos é ter a pretensão de achar que o livro vencedor é necessariamente o melhor entre os concorrentes, nem ficar abatido quando o seu livro não recebe sequer uma menção. Há julgadores diferentes, visões distintas, olhares pessoais. Não acho que prêmios consagrem, mas creio que trazem alegria, sim. Além das compensações financeiras e em divulgação, ambas fundamentais para a autoestima e a sobrevivência”, compartilha.
Para a escritora Giovanna Ramundo, graduada em Letras (bacharelado de Formação do Escritor) pela PUC-Rio, a formação completa – das literaturas à linguística, passando pela elaboração de textos de diferentes gêneros – foi importante para o início da sua carreira, mas sua vida de escritora começou mesmo antes disso. Ainda na adolescência, já escrevia poemas e compartilhava com amigos.
O romance vencedor do Candango – Sorriso sorvete de cereja (Cambucá) – começou a ser escrito no curso, como um projeto de autoria, similar a um trabalho de conclusão. Ela já tinha a personagem na cabeça desde 2019, com nome inspirado na música de mesmo nome da banda Duran Duran – que conta a história de uma mulher, chamada Rio. No livro, a personagem não conhece o pai que a nomeou, e quando o “sorriso sorvete de cereja” aparece na letra da música, isso passa a ser uma espécie de mantra para a sua vida. A escritora conta que usou a personagem para construir uma reflexão sobre como a memória é descontínua, desde a infância.
Ao receber o Prêmio Candango, Giovana reconhece que a emoção foi indescritível. “Diante da lista de concorrentes, autores renomados, sentir-me ao lado deles já era uma vitória. Estar ali, naquele momento, era o ápice”, diz a autora. A expectativa para a cerimônia passou a ser intensa. “Quando meu nome foi anunciado, a surpresa e a felicidade foram avassaladoras. A sensação de reconhecimento, especialmente por ser uma autora jovem, foi marcante”, afirma. Para ela, receber o prêmio Candango representou uma importante confirmação. “Em uma carreira literária repleta de incertezas, em que a dedicação e o esforço nem sempre são reconhecidos, o prêmio validou meu trabalho e me incentivou a persistir. Ele reafirmou a importância de continuar escrevendo, apesar das dificuldades. É também, para mim, uma responsabilidade. É o incentivo para continuar escrevendo e honrar o reconhecimento recebido. Agradeço profundamente a oportunidade de representar minha família, minha universidade e meus orientadores. O processo de criação do livro foi desafiador, marcado por experiências pessoais intensas. Ao final, o prêmio demonstrou que todo o esforço valeu a pena. A sensação é de dever cumprido e de que o futuro da minha carreira literária é promissor”.
Mesmo para um profissional multipremiado, inclusive internacionalmente, como o designer Leonardo Iaccarino, vencer um prêmio como o Candango é uma grande emoção. Entre as 464 capas inscritas, o trabalho do chefe de design do Grupo Editorial Record para o livro Cavalos no escuro, de Rafael Gallo, ficou em primeiro lugar ao representar uma espécie de prisão estilizada dos caracteres do título.
“O conto que dá título ao livro narra a história de um casal que trabalha em uma fazenda, onde a mulher é abusada pelo patrão”, diz Iaccarino sobre o trabalho. “Nascidos e criados naquele ambiente, eles desconhecem outra realidade e, portanto, estão presos nesse ciclo de violência, incapazes de se libertar. Através de um ‘aprisionamento tipográfico’, o design transmite a imobilização dos personagens diante da violência que vivenciam, trazendo uma sensação de angústia.”
Os vencedores das categorias literárias e editoriais do Prêmio Candango de Literatura vão doar 20 exemplares de suas obras para bibliotecas públicas do Distrito Federal. Já os premiados na categoria de incentivo à leitura oferecerão uma atividade formativa online.
Veja fotos da cerimônia de premiação da segunda edição do Prêmio Candango de Literatura:




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