
No final do século XIX, Vincent van Gogh travava sua batalha mais intensa: contra a rejeição a sua obra revolucionária, a pobreza extrema e os fantasmas que o levariam ao trágico fim em Auvers-sur-Oise. Entre pinceladas febris e noites de tormento, Van Gogh jamais poderia imaginar que uma de suas últimas telas, dada como perdida, atravessaria o tempo para mudar o destino de um jovem em busca de sobrevivência no Brasil.
“Minha visão sobre quem Vincent realmente foi mudou radicalmente quando vi, em 2014, a exposição Van Gogh – o suicidado pela sociedade, no Museu d’Orsay, em Paris”, lembra Edney Silvestre. “Ali percebi o gigantesco equívoco de tratar sua arte e sua morte como fruto apenas de depressão. Vincent foi ridicularizado, rejeitado, empurrado ao suicídio por uma sociedade incapaz de compreender sua sensibilidade. Ele era, antes de tudo, um invisível”.
Esse olhar atravessa o enredo contemporâneo de O último Van Gogh. O jovem Igor Brown, que vive no Rio de Janeiro de 2024, sobrevive entre relações passageiras e trabalhos sexuais, sustentado pela fachada de tradutor de Libras. Sua vida se transforma quando é envolvido em uma trama perigosa: o roubo de um quadro de Van Gogh desaparecido durante a Segunda Guerra. Escondida em um apartamento de luxo no Leblon, a pintura reacende conspirações, perseguições e escolhas de vida ou morte.
A gênese desse personagem também vem de experiências pessoais do autor. “Conforme comecei a imaginar a tela desaparecida, lembrei de outros ‘invisíveis’ que conheci fazendo reportagem, por volta de 2004/2005, nas cercanias da Central do Brasil. Crianças abandonadas, perseguidas, violentadas, esquecidas, como aquelas que, tempos atrás, foram massacradas na Candelária. A partir da história desses meninos nasceu Igor Brown — o michê de Copacabana, capaz de qualquer recurso para sobreviver”, revela Silvestre.
SERVIÇO
Data: 30 de setembro de 2025 (terça-feira)
Horário: 19h
Local: Livraria da Travessa – Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco, 290, loja 205 A – Rio de Janeiro / RJ)