O minimalismo de Drummond
PublishNews, Redação, 01/09/2025
Poeta maior, nesta rara incursão pela prosa de ficção, Carlos Drummond de Andrade mostra que os gêneros literários não o definem

Um homem busca nos classificados de jornal a própria alma perdida; o menino Paulo é diagnosticado como poeta por mentir demais; convivendo com duas sombras, Meneses se torna “polo turístico” de sua cidade; uma mesa adquire o dom da fala após servir mais de vinte anos aos trabalhos de um médium. Esses são alguns dos motes e tipos que compõem os espirituosos Contos plausíveis (Editora Record, 224 pp, R$ 69,90), publicados originalmente na coluna que Carlos Drummond de Andrade assinou por anos no Jornal do Brasil, reunidos em livro pela primeira vez em 1981. Acostumado a transformar o mundo em poesia, Drummond conta grandes histórias de maneira minimalista, exercitando-se no miniconto, um gênero à época pouco usual na literatura brasileira. Mas o conto drummondiano nasce metamorfoseado: é meio crônica, meio fábula; tem toques de anedota e de “causo”. Textos em tom de conversa, recheados de humor, em que a tão propalada ironia do escritor mineiro vai longe. O poeta de Itabira joga a sua observação no liquidificador da fabulação e dá vida a ficções que dialogam com a realidade daquele tempo, mas permanecem atuais.

[01/09/2025 11:04:00]