Retrato de uma mulher com uma história complexa
PublishNews, Redação, 28/05/2025
'A chamada' conta uma história real sobre a ditadura argentina e seus ecos até os dias de hoje

Em março de 1976, ocorreu na Argentina um golpe de Estado que deu início a uma feroz e sangrenta ditadura militar. Nessa época, grávida de cinco meses e com vinte anos, a argentina Silvia Labayru já fazia parte da organização Montoneros, grupo armado de origem peronista. Em dezembro daquele ano, foi sequestrada por militares e levada à esma, a famigerada Escola de Mecânica da Armada, onde funcionava um centro clandestino de detenção no qual milhares de pessoas foram torturadas e assassinadas, um lugar que ainda hoje assombra a memória civil argentina. Lá, deu à luz sua filha, que, uma semana depois, foi entregue aos avós paternos. Na esma, Labayru foi torturada, obrigada a realizar trabalho escravo, violentada repetidamente e forçada a representar o papel de irmã de Alfredo Astiz, um membro do exército que se infiltrou na organização Madres de Plaza de Mayo. Essa operação resultou no desaparecimento de três Mães da Praça de Maio e duas freiras francesas. Foi libertada em junho de 1978 e, no avião rumo a Madri, junto com a filha de um ano e meio, pensou que o inferno tinha acabado. Mas haveria mais dissabores. Os argentinos no exílio a repudiaram, acusando-a de traição devido ao desaparecimento das mulheres ligadas às Mães da Praça de Maio. Rejeitada por aqueles que haviam sido seus companheiros de militância, construiu uma vida. Até que, em 2018, foi contatada em Buenos Aires por um homem que havia sido seu companheiro nos anos 1970 e, em uma sequência de manipulações familiares que alteraram seu destino, passou a se desenrolar uma história que continua até hoje. A jornalista Leila Guerriero começou a entrevistá-la em 2021, enquanto aguardava-se a sentença do primeiro julgamento por crimes de violência sexual cometidos contra mulheres sequestradas durante a ditadura, no qual Labayru era denunciante. A chamada (Todavia, 464 pp, R$ 109,90 – Trad.: Silvia Massimini Felix) é o retrato de uma mulher com uma história complexa, na qual se entrelaçam amor, sexo, violência, família, infidelidade, política — e na qual ressoa uma chamada telefônica feita da esma em 14 de março de 1977, que lhe salvaria a vida.

[28/05/2025 07:00:00]