Personagens vulneráveis e profundamente humanas
PublishNews, Redação, 22/05/2025
Discípula de Edgar Allan Poe na arte da construção atmosférica, Samanta Schweblin sugere mais do que afirma

Na coletânea de contos inéditos de O bom mal (Fósforo, 160 pp, R$ 79,90 – Trad.: Livia Deorsola), a escritora argentina Samanta Schweblin reitera seu domínio da narrativa breve com seis histórias. Em todas elas, personagens vulneráveis e profundamente humanas têm suas vidas transformadas de modo irreversível quando confrontadas com situações inquietantes que irrompem onde menos se espera: em plena ordem cotidiana. Discípula de Edgar Allan Poe na arte da construção atmosférica, Schweblin sugere mais do que afirma e, com isso, nos conduz a um clima de alta voltagem premonitória. Ao adentrar seu universo, sabemos que basta um ínfimo detalhe para que a tragédia se anuncie e o familiar se torne estranho, revelando-se toda a fragilidade do nosso pacto com o real. Como afirmou o escritor espanhol Enrique Vila-Matas, “há um antes e depois” da leitura de Schweblin, restando “a lembrança de algo que nunca nos deixará”. Talvez por isso as seis histórias deste livro sejam a um só tempo trágicas e venturosas, permeadas por culpa, solidão e luto, mas também por laços de família, amor e saudade. Através do insólito que desorganiza a vida, tudo se passa conforme o título anuncia: o mal é um bem necessário. Ou, ainda — porque nas narrativas nada é o que parece —, a bondade pode ser maléfica.

Tags: Contos, Fósforo
[22/05/2025 07:00:00]