Quatrocentos quilômetros acima da Terra, quatro homens e duas mulheres — dos EUA, do Japão, da Inglaterra, da Itália e da Rússia — compartilham a estação espacial internacional. Em um período de vinte e quatro horas, a uma velocidade de vinte e oito mil quilômetros por hora, eles dão dezesseis voltas ao redor do planeta. Cada órbita é um capítulo breve deste tour de force de beleza contemplativa. Da calculada rotina espacial de cada um dos astronautas e cosmonautas — os exames de sangue diários, os experimentos científicos —, das implicações emocionais com aqueles que deixaram na Terra — a morte de um familiar, um casamento sem amor — e dos diálogos mais ou menos reveladores entre eles, Orbital (DBA, 192 pp, R$ 79,90 – Trad.: Adriano Scandolara) extrai indagação filosófica e instantes de arrebatamento. Muito longe do extremismo político e das disputas ferozes destes tempos, Orbital restaura a curiosidade e o encantamento pelo universo, mas também relembra que, afinal, há, sim, catástrofe anunciada. A escritora Samantha Harvey lança sobre o planeta e a humanidade — tão poderosos, tão frágeis — um olhar afetuoso: um astronauta é “um animal que não apenas testemunha as coisas, mas ama o que testemunha”.