'O que os psiquiatras não te contam', de Juliana Belo Diniz, mostra como a ciência e a medicina podem se desenvolver a partir da escuta, empatia e cuidado, e ressalta a importância das transformações sociais
Desde o crescente aumento do índice de transtornos mentais pelo mundo, verificado sobretudo pós-pandemia de covid-19 e nas
trends do TikTok (por exemplo, a moda dopamina e o chá revelação de transtorno psiquiátrico), tornou-se comum considerar depressão, ansiedade, pânico e outros sofrimentos psíquicos como doenças do cérebro e, por isso, passíveis de serem extirpadas exclusivamente com remédios. Em
O que os psiquiatras não te contam (Fósforo, 256 pp, R$ 89,90), porém, a psiquiatra, psicoterapeuta e neurocientista Juliana Belo Diniz desmistifica essa ideia. Com um olhar abrangente a partir de suas três áreas de atuação, Diniz propõe uma psiquiatria humanizada, adensando a discussão em torno da saúde mental e ressaltando a importância das transformações sociais. Ao mesclar história da psiquiatria com detalhes da própria experiência em consultório, ela guia o leitor em um mergulho nas primeiras descobertas clínicas do século 18, nas polêmicas do efeito placebo, passando pelos primórdios dos remédios antidepressivos e do boom da geração Prozac até emergir no cenário atual em que os psiquiatras são vistos como meros prescritores de remédios e cunhamos termos como
brain rot em referência à deterioração mental frente à exposição excessiva a informações.
O que os psiquiatras não te contam é um livro enternecedor e esperançoso, que se opõe à visão de sofrimento humano como uma característica exclusivamente biológica e cerebral, defendendo que a ciência e a medicina podem se desenvolver a partir da escuta, empatia e cuidado.