Uma jornada íntima e universal
PublishNews, Redação, 06/03/2025
Publicada pela Todavia, 'A parede' é uma distopia feminista pioneira sobre sobrevivência, solidão e o sentido da vida

Ao acordar sozinha no chalé de caça onde estava hospedada nos Alpes austríacos, a narradora de A parede (Todavia, 256 pp, R$ 94,90 - Trad.: Sofia Mariutti) descobre-se cercada por uma barreira invisível e intransponível. Do outro lado, o mundo parece petrificado, suspenso num misterioso estado de destruição imóvel e silenciosa. Sem acesso à civilização, ela precisa aprender a sobreviver em completa solidão, acompanhada apenas por um cachorro chamado Lince, uma vaca que batiza de Bella e uma gata. A certa altura de seu isolamento, põe-se a escrever um "relato" — o próprio romance que lemos — no qual narra o abandono gradual de sua identidade social, e particularmente da ideia de feminilidade que a sociedade lhe impunha. Reconhecida como uma das grandes obras da literatura distópica e feminista, e publicada em 1963 — um prenúncio dos piores anos de tensão nuclear na Guerra Fria —, A parede, de Marlen Haushofer, apresenta, com precisão e força narrativa, uma jornada íntima e universal. Ao mesmo tempo, propõe uma visão também utópica: sozinha, a protagonista forma uma nova comunidade baseada no cuidado e na conexão com a natureza. Para ela, amar um animal se torna mais fácil — e talvez mais verdadeiro — do que amar um ser humano. A parede é um clássico que desafia a ideia de progresso e nos confronta com a pergunta: o que realmente importa quando tudo o que resta é sobreviver?

[06/03/2025 07:00:00]